Por que há desigualdade de gênero em tecnologia? Estudo mostra motivos

Segundo levantamento, mulheres permanecem subrepresentadas em todos os níveis empresariais

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11:12 am - 06 de março de 2018

A presença da mulher no mercado de trabalho, mesmo sendo cada vez maior no Brasil e no mundo, ainda é questão delicada. De acordo com dados do governo brasileiro, em 2007 as mulheres representavam 40,8% do mercado formal de trabalho; em 2016, passaram a ocupar 44% das vagas. Essa realidade, ainda desequilibrada, é ainda mais acentuada em carreiras de tecnologia, conforme mostra a segunda edição do eBook do Retrato de Desigualdade de Gênero em Tecnologia, publicado esta semana pela Revelo, plataforma de recrutamento digital.

Com o objetivo de investigar os motivos da desigualdade entre gêneros do mercado de TI, a Revelo identificou duas situações altamente problemáticas: a baixa representatividade de mulheres em carreiras de tecnologia e a disparidade salarial entre homens e mulheres nessas carreiras. A principal conclusão do estudo é a de que as mulheres permanecem subrepresentadas em todos os níveis empresariais, apesar de apresentarem mais títulos universitários e de graduação do que os homens, sobretudo nas carreiras do setor.

Para o relatório de 2018 – que é o segundo, o primeiro foi divulgado em 2017 – a Revelo analisou mais de 100 mil candidatos e 18 mil ofertas feitas por empresas na plataforma. Confira abaixo os problemas identificados pelo levantamento, bem como hipóteses identificadas para eles.

Problema 1 – Menor presença de mulheres em carreiras de tecnologia

Hipótese 1 – Existe discrepância entre homens e mulheres no momento da escolha de carreiras?

Com base nos dados levantados pela Revelo, é possível verificar que existe distribuição desigual na escolha de carreiras entre candidatas e candidatos. Assim, a distribuição de candidatos entre os gêneros na plataforma tem comportamento desigual. Na distribuição entre homens e mulheres na carreira de Desenvolvimento, os homens representam 87% dos candidatos inscritos e as mulheres apenas 13%. Por outro lado, as carreiras de Marketing On-line e Negócios apresentam maior tendência a receberem cadastros do gênero feminino, com 56% contra 43% dos cadastros masculinos.

Distribuição de candidatos homens e mulheres, por carreira

Quando considerada a escolha do candidato pela possibilidade de carreira em Desenvolvimento verifica-se outro fenômeno parecido: apenas 12% das mulheres escolheram atuar em Desenvolvimento, sendo que 71% delas optaram ou por Negócios (47%) ou Marketing Online (24%).

Hipótese 2 – Recrutadores privilegiam candidatos homens no momento da abordagem? Esse viés depende do gênero do recrutador?

Outra hipótese levantada para a desigualdade que identificamos é o comportamento enviesado dos recrutadores. Por exemplo: caso recrutadores homens demonstrem preferência por candidatos homens, isso poderia explicar uma parte da diferença encontrada no mercado, mas não foi o que os dados mostraram: a preferência por profissionais homens é equilibrada entre recrutadores homens e mulheres, com uma variação de 1% que mostra que recrutadoras mulheres chamam mais homens para entrevistas.

Hipótese 3 – Mulheres e homens têm diferentes níveis de engajamento no processo seletivo? Mulheres abandonam mais processos ou são mais frequentemente reprovadas em provas técnicas?

Será que existe diferença no modo como eles e elas se comportam nos processos seletivos? A Revelo levantou dados sobre o desempenho entre homens e mulheres na busca por emprego. Tempo de disponibilidade para o cadastro, desempenho em testes e outros critérios foram avaliados.

Hipótese 4 – Mulheres e homens têm diferentes comportamentos ao aceitar/recusar ofertas de empresas?

A última hipótese é a possível baixa representatividade das mulheres em tecnologia estar relacionada ao aceite de propostas. Um dos motivos que poderia explicar a menor presença de mulheres nas carreiras analisadas seria uma discrepância na taxa de aceite de ofertas das empresas por parte das candidatas.

Entretanto, a plataforma nota que isso não ocorre de forma geral: a taxa de aceite de ofertas de mulheres é muito similar à dos homens. Assim, esse ponto não é suficiente para explicar sua menor presença em carreiras de tecnologia. De forma a verificar se existe uma real discrepância na taxa de aceite entre homens e mulheres em diferentes carreiras, a Revelo investigou os dados mais a fundo e, surpreendentemente, a igualdade (ou quase igualdade) de taxas de aceite é bastante consistente entre as carreiras analisadas.

Problema 2 – Mulheres recebem salários menores do que homens em carreiras de tecnologia

Os dados da Revelo mostram que, de modo geral, candidatas da área de tecnologia recebem 17,4% a menos do que os homens. A média de salários oferecidos para mulheres é de R$ 5,2 mil e para homens é de R$ 6,3 mil.

Hipótese 1 – As mulheres são menos seniores ou optam por tipos de carreira que são mais mal remuneradas?

Uma das hipóteses que poderia explicar a diferença gritante observada acima seria uma disparidade em termos de senioridade ou escolha de carreiras entre homens e mulheres. Analisando os dados, a plataforma conclui que isto não se observa, pois a diferença salarial é consistente na maior parte das carreiras, focos e senioridades.

Hipótese 2 – Mulheres ancoram pretensões salariais mais baixo do que  homens?

A Revelo analisou a existência ou não de disparidade nos valores de pretensão salarial entre candidatos e candidatas. Existe um forte efeito de ancoragem entre os valores oferecidos e os valores pretendidos – ou seja, estatisticamente, as ofertas feitas por recrutadores tendem a seguir os valores apresentados como pretensão. Desta forma, caso haja disparidade no salário pretendido, isso poderia influenciar os salários oferecidos negativamente – dados do estudo mostram que a pretensão média das candidatas nas carreiras de tecnologia é, em média, 13,5% menor do que a dos homens. Enquanto estes últimos têm pretensão salarial média de R$ 5,9 mil, a média da pretensão salarial das mulheres é R$ 5,1 mil.

Essa discrepância é consistente nas carreiras de Desenvolvimento de Software, Business Intelligence e Design UX/UI. Observa-se, também, que existe um efeito inverso em Marketing Online, ainda que pouco significativo.
O estudo mostra que essa diferença salarial progride ao longo da carreira dos profissionais de Tecnologia: A partir da comparação dos salários pretendidos e das ofertas recebidas, dois pontos chamaram a atenção:

– Aumento da disparidade entre as pretensões salariais conforme o tempo de experiência, isto é, um candidato do gênero masculino começa sua carreira pedindo R$600,00 a mais do que o salário oferecido, e, conforme avança profissionalmente, essa discrepância cresce para quase R$2.000,00.

– O salário oferecido para profissionais com seis anos ou mais de experiência é abaixo da pretensão do candidato, mas ainda é muito maior para homens do que para mulheres.

Hipótese 3 – Recrutadores oferecem salários diferentes para homens e mulheres com mesma experiência e qualificação? Esse viés depende do gênero do recrutador?

A plataforma comparou os salários oferecidos aos candidatos homens e mulheres segundo o gênero do recrutador. O resultado mostra que o viés de gênero é preponderante tanto em casos quando quem recruta é um homem ou quando é uma mulher.

Hipótese 4 – Mulheres aceitam ofertas com salários mais baixo? Há diferença de comportamento para ofertas abaixo da pretensão salarial?

A próxima pergunta a ser feita é: essas mulheres que inicialmente pedem salários abaixo da média do mercado, também aceitam ofertas salariais menores do que sua pretensão?

A Revelo observou que o comportamento de aceite de ofertas salariais abaixo da pretensão e identificou que as mulheres as aceitam com maior frequência do que seus colegas homens.

Conclusão

São dois os principais problemas diagnosticados pelo relatório da Revelo: as mulheres são menos presentes em carreiras de tecnologia, e, quando o são, ganham menos do que os seus colegas homens.

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