Petróleo do século 21: como cidadãos e indústrias aproveitam dados?

Conversamos sobre dados com uma superintendente de TI e um gerente-executivo de TI; uma do setor público, outro da indústria da música

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5:29 pm - 17 de agosto de 2019

Nossos dados se tornaram muito mais importantes com o avanço da tecnologia. Tanto na iniciativa privada quanto nas esferas públicas, é possível identificar cidadãos e agir de acordo com eles.

A visão atual é de que, com todo esse avanço, serviços e adesões em massa, os dados se tornaram mais valiosos do que o petróleo em si. Colocando a afirmação no ponto de vista de uma empresa que trabalha com dados, ela pode ser inteiramente válida.

A ideia foi debatida durante o IT Forum+, encontro que acontece entre os dias 14 a 18 de agosto na Praia do Forte, Bahia, com presença de CIOs, CEOs e executivos de diversas empresas e startups. Partindo da premissa de que a sociedade chegou em um ponto alto da tecnologia, os dados são utilizados não apenas como ferramentas de utilização, mas também predição.

No caso da Secretaria da Fazenda de Pernambuco, como explicado por Danielle Campello, superintendente de TI, existe atualmente uma base com aproximadamente 40 TB de dados. “Faz muito sentido [ter uma base com tal volume] e, legalmente, precisamos manter esses dados armazenados. Eles não podem ser descartados.”

Danielle relata que essa base vai aumentando cada vez mais e que a Sefaz considera “todos eles relevantes, porque o mais importante é fazer o cruzamento das informações”. Como detalha, existem dados de nota fiscal dos consumidores, notas eletrônicas, de cartão de crédito, escrituração fiscal.

A verdade é que, não somente os dados, mas sim o cruzamento deles, é o que agrega tanto valor assim. No exemplo da Secretaria, o cruzamento das informações é o ponto onde eles conseguem “gerar dados relevantes para diminuir as fraudes fiscais”.

Neste caso, não somente a Secretaria da Fazenda se apropria das informações recolhidas. Ela conta que foi disponibilizado, há pouco tempo, um aplicativo chamado Menor Preço. Ele “é alimentado em tempo real com as bases de dados de notas fiscais eletrônicas” e está disponível para os cidadãos que querem adquirir um produto.

Assim, o próprio cidadão tem em mãos uma ferramenta “com uma lista por ordem de valor de onde ele deve comprar o produto” específico, já que são indicadas empresas que “estão praticando a venda com o preço mais baixo.”

Dados na música

A indústria da música também se beneficia dos dados. Um exemplo mais prático e palpável é o modo como aplicativos de streaming criam listas e indicações para seus usuários com base no que eles costumam escutar.

Quem nos explica o fenômeno dos dados na música é Jose Pires, gerente-executivo de TI e Planejamento Estratégico do ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição).

Jose Pires ECAD

Ele contou que o ECAD, uma instituição privada sem fins lucrativos, conta hoje com 37 escritórios de advocacia prestadores de serviço, 23 escritórios no Brasil, atua em 5 mil municípios, tem 29 agências credenciadas e 606 funcionários.

Segundo ele, a utilização dos dados, especialmente em processos de transformação digital, não tem “matado” as indústrias já consolidadas. Como exemplo, Pires cita que serviços como a Uber não minaram os táxis ou que o Airbnb “não está matando a hotelaria”.

Contudo, tais fenômenos obrigaram negócios já em pleno funcionamento a rever suas estruturas e ofertas. Na indústria da música, por exemplo, a transformação digital foi mais profunda. Serviços de download de músicas existem numa cadeia limitada, já que o Spotify, Deezer, Apple Music e afins participaram ativamente em como elas são consumidas.

Hoje, o ECAD licencia conteúdo das seguintes plataformas: Vevo, YouTube (Music), Spotify, Apple Music, Google Play Music, Netflix, Deezer (Tim Music), Facebook e Instagram.

Desta forma, eles conseguem reunir as informações de uso das músicas dos clientes, cruzam os dados em um ambiente interno “para alimentar os algoritmos de identificação” e depois importam eles para um banco de dados relacional.

Segundo Pires, o banco de dados atual do ECAD tem mais de 11,5 milhões de obras musicais, 170 mil audiovisuais e 3,7 milhões de clientes – entre artistas, compositores e outros.

E na LGPD, como fica?

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A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), já sancionada e com previsão de funcionamento para 2020, já obriga as empresas a estarem em conformidade. Muitas medidas ainda precisam ser tomadas até que tudo esteja em conformidade, mas vale citar que esta mudança deve trazer mais segurança aos clientes e usuários.

Danielle nos explicou que, na Secretaria da Fazenda, existe um cronograma que deve ser encerrado em março do ano que vem, antes da data limite. “Nele, todos os processos, sistemas, bases e informações estão mapeadas”. Ela explica ainda que a Sefaz já tem uma visão mais rígida sobre a proteção de dados, pois eles precisam garantir o sigilo fiscal.

“Então, parte das ações que precisariam ser tomadas para estarmos em conformidade com a LGPD já estão acontecendo por conta da atividade fim da Secretaria da Fazenda. As demais ações já estão em curso para os demais sistema, com previsão de conclusão para março de 2020”, diz ela.

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