Parque Tecnológico Itaipu prepara Foz para ser hub de inovação

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10:34 am - 28 de julho de 2017
Aérea - Crédito- PTI-Marcos Labanca Aérea - Crédito- PTI-Marcos Labanca

Em 1984, Brasil e Paraguai iniciaram as operações de um dos maiores e mais complexos projetos de engenharia da história não só do Brasil, mas de todo o mundo. Foi construída durante sete anos a Usina Hidrelétrica de Itaipu, barragem localizada no Rio Paraná, na fronteira entre os dois países, líder mundial em produção de energia.

Foi o momento que o destino da pacata Foz do Iguaçu, com seus 35 mil habitantes, começou a mudar: deixou de ter apenas vocação turística com as belas cataratas, consideradas uma das sete maravilhas do mundo.

A questão que permeava a cidade era como a população local poderia se beneficiar de todo conhecimento e esforços dedicados para a construção da barragem. “Havia um distanciamento muito grande entre o nível de engenharia e de conhecimento dedicado para construção da usina e o que tinha na cidade”, comenta Claudio Issamy Osako, diretor técnico do Parque Tecnológico Itaipu (PTI), em entrevista ao IT Forum 365.

Osako lembra que a cidade não contava com nenhum curso ou universidade voltada à área tecnológica ou engenharia. Seria um enorme desperdício não criar um ecossistema de inovação em torno de uma instalação como aquela. “Qual era possibilidade de uma pessoa de Foz de Iguaçu se preparar para entrar e trabalhar na Usina?”, indaga.

Esse questionamento originou o Parque Tecnológico Itaipu, criado em 2003, e desde então braço executor de pesquisa e desenvolvimento de Itaipu e que tem uma missão clara: desenvolver a região como um todo e transformar Foz do Iguaçu em um verdadeiro polo de conhecimento.

“Sonhamos que o PTI possa aumentar a fatia relacionada à tecnologia para que lá na frente parte da economia de Foz gire em torno do conhecimento”, comenta o diretor da instituição privada sem fins lucrativos. Atualmente o turismo responde por cerca de 50% do PIB da cidade.

O foco é levar competência não somente para as operações da usina, mas também para outros setores e criar uma infraestrutura local que possa acompanhar as inovações de Itaipu.

Osako faz parte dos 460 funcionários da organização. A área ocupada pelo PTI soma 50 mil metros quadrados, onde estão em atividade cerca de 2 mil pessoas, entre funcionários, parceiros, empresários, pesquisadores e acadêmicos. Além das entidades de pesquisa e apoio à pesquisa, o parque mantém um espaço de desenvolvimento empresarial, instalações universitárias da Unioeste e da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila). Todos os dias, passam pelo PTI cerca de 7 mil pessoas, de mais de 40 nacionalidades.

Como parte do foco de aproximação com empresas de tecnologia, o PTI sedia pela primeira vez, neste ano, o Paraná TIC, principal evento do setor no estado. Segundo Adriano Krzyuy, presidente da Assespro-PR, a escolha se deu por conta do modelo binacional do parque (Brasil e Paraguai), que vai ao encontro do foco de internacionalização do evento, além da aproximação com o ambiente inovador.

História

O questionamento sobre o aproveitamento do conhecimento da usina surgiu dos próprios funcionários. Eles procuraram a Unioeste, que estava se instalando em Foz do Iguaçu, e trouxeram o primeiro curso de ciência da computação para a cidade, em 1994, quando o município começou a ter contato com a tecnologia no âmbito acadêmico. “O embrião do que temos hoje no PTI e agora sediando um evento como o Paraná TIC em Foz foi essa ideia”, diz.

A própria Itaipu liberava os funcionários para lecionar as aulas. O modelo teve sucesso durante cerca de dez anos – que também contaram com a chegada de outros cursos, como engenharia elétrica. Mas tudo estava da porta para fora e chegou o momento que o PTI queria trazer esses talentos da porta para dentro do parque.

Nesse período, um dos professores conheceu um formato de parque tecnológico da Universidade Federal de Santa Catarina, a Fundação CERTI. “Quando você coloca universidade, empresas e governo próximos, os resultados começam a ser mais interessantes para a sociedade”, diz Osako, citando o formato do modelo adotado.

No entanto, o sonho precisava de um detalhe para se tornar realidade: dinheiro. Algo muito difícil para atrair o Governo em uma cidade a mais de 600 quilômetros da capital do estado, Curitiba.

Em 2002, o então presidente Luis Inácio Lula da Silva indicou o engenheiro agrônomo Jorge Samek para a presidência da Itaipu Binacional. Sua principal missão era promover o desenvolvimento da região em torno da usina. Foi aí que a ideia da iniciativa chegou a Samek e o parque foi criado em 2003, usando de início as instalações de alojamentos que foram usados por trabalhadores da usina – estavam abandonadas há dez anos.

Estratégia e inovação

A missão de Itaipu passou a ser, além de prover energia com qualidade e sustentável, promover o desenvolvimento territorial. Começaram a ser montados laboratórios para atender demandas da Itaipu. “É um ‘ganha ganha’. Para a empresa é bom em pesquisa, para a universidade gera condições que não teria lá fora. E, para o parque, cria uma dinâmica interessante.”

Com um parque tecnológico, a capacidade começou a aumentar e, segundo Osako, diversas outras áreas de Itaipu se interessaram pela inciativa. “Começamos a criar uma fatia nova na cidade que é ligada ao conhecimento.”

Quebra de paradigma

Um dos principais pontos destacados pelo diretor é a quebra de paradigma que o PTI causou no setor elétrico. Osako conta que, por ser um setor conservador, acabou entrando em uma “zona de conforto” com uso de produtos confiáveis importados. “Isso nunca dá margem para se desenvolver nada no Brasil”, aponta.

O primeiro sistema significativo instalado em Itaipu, desenvolvido no PTI, foi instalado em 2014, marcando um início animador para o parque. “Isso é quebra de paradigma. Esse mesmo sistema poderia ser comprado de fora, mas temos competência para desenvolver internamente”, destaca.

Uma das vantagens da fabricação em casa, segundo Osako, é a manutenção dos sistemas. “Se der algum problema no que instalamos, chegamos lá em cinco minutos. Se você contratou um equipamento alemão, quanto tempo demora uma viagem para cá e quanto vai custar isso? Nós dialogamos com os engenheiros na ponta. Nenhuma fabricante vai ter essa possibilidade.”

Incubadora de Negócios Crédito Assessoria PTI Kiko Sierich

Startups

Além dos recursos próprios, com profissionais contratados e da comunidade acadêmica, o PTI aposta também em startups. Para isso, foi criada a Incubadora Santos Dumont. Com modelo de captação de ideias, mentorias e pitches para seleção, o programa busca ideias inovadoras com uso de tecnologia para qualquer setor.

Atualmente, são 27 empresas incubadas no PTI. Além de quatro já instaladas em condomínio empresarial, em uma fase madura e com operações em andamento. “O segredo do parque não é só a infraestrutura física, mas a proximidade dos atores. Você vai almoçar e está sentado numa mesa com doutores, discutindo sobre projetos”, finaliza.

*O jornalista viajou a Foz do Iguaçu a convite da Assespro Paraná

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