Para Igor Freitas, CIO da Livelo, não há inovação sem uma gestão humanizada

Em entrevista, Freitas revisa a carreira e fala sobre o papel em constante evolução do próprio CIO. Os aprendizados e os desafios nunca terminam

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10:21 am - 01 de setembro de 2020

O maior aprendizado que Igor Freitas teve em sua carreira diz menos a respeito às novas tecnologias que surgem de ciclos em ciclos para reinventar o mercado de TI e mais sobre algo que não se encontra em uma formação técnica. Para Freitas, CIO da Livelo, o maior ensinamento foi absorvido com um de seus mentores durante o período que trabalhou como superintendente de TI no Banco Itaú. “Aprendi muito sobre a gestão humanizada, como estar próximo do time sem que eu invada a liberdade deles”, lembrou em entrevista à CIO Brasil.

À uma gestão humanizada o executivo atribui um efeito colateral íntrinseco que impacta e influencia não só a si próprio, enquanto líder, como no trabalho das equipes. Diz, no final do dia, sobre conhecer e ter atenção ao outro. “Ter uma relação próxima possibilita uma relação de confiança muito profunda”, pontua. “Eu acredito muito que o técnico é viabilizado através de uma gestão humanizada. E é incrível, quanto mais tempo você investe nas pessoas, mais conhecimento você gera. Acredito muito neste ciclo virtuoso. Quanto mais eu invisto no conhecimento do time, mais conhecimento eu tenho de TI, de negócio, mais eu conheço das pessoas e mais as pessoas escalam, mais a gente consegue entregar. É impressionante”.

Igor tinha 17 anos de idade quando entrou para o curso de Ciências da Computação na Universidade Federal de Uberlândia, Minas Gerais. O sotaque mineiro não se encontra facilmente na fala calma do executivo. Afinal, há cerca de 20 anos ele deixou Minas para fixar residência na cidade de São Paulo. Na trajetória de Freitas, um fato curioso. Nasceu na cidade de Vanderbijlpark, na África do Sul. “Perto de Pretória”, me diz ele se referindo à capital administrativa do país. O nascimento em outro continente se deu entre as missões de seus pais. O pai e a mãe desenvolviam um trabalho com refugiados de Moçambique na época. Pouco após conquistar sua independência, em 1975, a ex-colônia portuguesa mergulhou em uma guerra civil cujos reflexos são vistos até os dias atuais.

Freitas tinha pouco mais de dois anos quando a família retornou ao Brasil para residir no interior de Minas Gerais. A decisão de buscar uma formação acadêmica em ciências da computação, diz ele, teve a ver com as oportunidades e o potencial que já se vislumbrava com a tecnologia. Mas a familiaridade com a computação veio mesmo com as aulas da universidade. “Na época, os cursos de Ciência da Computação eram relativamente novos e era uma coisa ainda distante, pois a computação não estava próxima de todos, não era tão simples o acesso”, conta ele ao lembrar do ano de 1993. Ao mesmo tempo, o uso do computador pessoal, o PC, por empresas começava a expandir, assim como os sistemas de informação. “E eu era um cara de Exatas”, indica a relação. “Hoje, eu vejo que foi uma decisão acertada, mas na época era muito sobre as possibilidades que a computação já começava a desenhar naquele momento. Logo depois veio a Internet, as primeiras versões do Windows, e só escalou desde então. Para mim era muito emblemático tudo isso e o primeiro contato que eu tive com um computador foi, curiosamente, na faculdade e depois não parei mais”.

O começo de tudo

O início da carreira se deu ainda em Minas Gerais, enquanto se especializava em redes de computadores. Um empreendimento em tecnologia também veio, quando Freitas, um professor da universidade e mais dois amigos se reuniram para lançar uma empresa que ofertava estrutura de provedores de acesso e o desenvolvimento de aplicações voltadas para Telecom. “Aprendi muito e ali foi o começo de tudo”, conta. A decisão de se mudar para São Paulo se deu ao projetar novos desafios. “Uberlândia já era um polo de tecnologia na época, mas São Paulo era um nicho, com empresas maiores, com mais investimento”, justifica.

Em 2010, Freitas daria início a uma jornada de nove anos no Itaú. No banco, ele participou de projetos de transformação de todo o processo de trabalho e do modelo que hoje se tornou quase padrão para desenvolver e entregar tecnologia, com comunidades, squads e times distribuídos. Foi também durante os anos no Itaú que Freitas assumiu o “chapéu” da inovação. “Tive a oportunidade de trabalhar com uma relação importante entre as áreas de negócio e tecnologia, buscando tecnologias emergentes para atender as áreas de negócio”, recorda.

Pensar o ecossistema completo de inovação

Em 2020, em meio a pandemia provocada pelo novo coronavírus, Freitas completou um ano na nova “casa”, a Livelo, empresa que oferece programa de fidelidade e que já nasceu orientada para um mundo digital. A decisão de iniciar uma nova etapa na carreira foi bem pensada: era o momento de se olhar para uma área de tecnologia e de produto com uma visão holística.

“Resolvi fazer essa mudança para olhar de uma maneira muito mais completa uma área de tecnologia e ter aí a possibilidade de não só olhar o mundo de cloud, mas tomar conta dele, olhar todo o conceito de DevOps e automação de esteiras, olhar toda a transformação organizacional e cultural com as squads e tribos para desenvolver software, ter a possibilidade de olhar para a prevenção de fraudes, segurança da informação neste contexto digital”, explica. “Então poder aplicar o conhecimento que eu tinha em uma empresa digital onde ela pudesse distribuir seus produtos 100% através do digital para mim foi o que chamou atenção e tem dado certo”.

Um papel em transformação

Os projetos acelerados de transformação digital e a multidisciplinaridade da mesma tem cobrado nos últimos anos uma nova postura e entendimento dos CIOs. Se antes, eles tinham como vocação gerenciar a área de infraestrutura de tecnologia das empresas, hoje o trabalho ganhou novos níveis de complexidade – e de habilidades.

Neste novo mundo que se vislumbra para os profissionais de tecnologia e líderes, Freitas parece estar bem suportado com a gestão humanizada em que confia: ela ajuda a encarar o desafio cada vez mais sensível do CIO.

“O CIO hoje tem de conhecer muito do produto e viabilizar produtos através de tecnologias e se manter atualizado. Do meu ponto de vista, ele tem de se manter com a antena ligada nos dois lados. O CIO que não conhece hoje muito dos produtos associados ao que ele faz, tende a ficar muito no técnico e a contrapartida disso é que muitos CIOs também acabam se distanciando do técnico, o que também é ruim. Existe uma necessidade intrínseca de conhecer cloud, kubernetes, todo o modelo de pipeline, como se automatiza, e, eventualmente, como se desenvolve software. Isso é importante”, exemplifica Freitas.

O trabalho como CIO, reconhece Freitas, nunca terminará. “O CIO tem um papel fundamental na conexão de viabilizar o negócio através da tecnologia. É preciso muita dedicação e estudo. É um desafio constante”, finaliza.

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