Pandemia causa reviravolta na TI do setor de saúde

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6:47 pm - 23 de abril de 2020

A automação operacional e a robótica estavam entre os três temas com menor impacto para o ano de 2020 dentro do segmento de saúde, segundo os CIOs consultados no início do ano pela pesquisa Antes da TI, a Estratégia, conduzida pela IT Mídia. Os dados, no entanto, são de antes do surgimento da pandemia do novo coronavírus, que parece já ter modificado este cenário. Isso porque não param de surgir exemplos de uso da tecnologia para automação de processos dentro deste setor como, por exemplo, os robôs de telepresença, utilizados pelo Hospital das Clínicas, em São Paulo.

 

Uma enfermeira fica à distância e, por meio da tela do robô, consegue recepcionar os pacientes, realizando a primeira triagem, não se expondo ao risco de contaminação. Dessa forma, a profissional consegue identificar os pacientes com sintomas respiratórios que são prioritários no atendimento, indicando as medidas de isolamento necessárias. Os robôs também serão utilizados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e em enfermarias. Quando há um paciente em isolamento, é necessário minimizar a entrada de pessoas no quarto.

 

E as iniciativas não param por aí. No Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, os pacientes têm a temperatura medida automaticamente à distância por um sistema de visão computacional instalado em um totem próximo à recepção. Composto por uma câmera termográfica e algoritmos de reconhecimento facial, o sistema escaneia o rosto e mede a temperatura de forma automatizada. Ao detectar que o paciente está com febre – um dos sintomas da Covid-19 (doença causada pelo novo coronavírus) –, a tecnologia de inteligência artificial envia um alerta por smartphone para a equipe de enfermagem de plantão dar início rapidamente ao protocolo de triagem e isolamento.

 

Estes são apenas alguns exemplos de como a Covid-19 pode ter acelerado o processo de automação do segmento de saúde e modificado, com tanta rapidez, o resultado da pesquisa conduzida no início deste ano. E, nessa lista de novas prioridades, também não poderia faltar a telemedicina. A prática foi regulamentada de forma emergencial em março por conta do surto do novo coronavírus.

 

O Fleury, por exemplo, lançou o “Cuidar Digital”, plataforma de telemedicina que possibilita consultas online entre médicos e pacientes de todo o país. Em meio à recomendação de distanciamento social para diminuir a transmissão da COVID-19, o “Cuidar Digital” nasceu com o objetivo de conectar possibilitar o atendimento remoto em uma plataforma segura com todas as facilidades de interação digital. A plataforma, inclusive, está à disposição da comunidade médica gratuitamente e teve adesão de 700 médicos em apenas 48 horas.

 

O projeto vinha sendo desenvolvido desde abril de 2019, segundo Eduardo Oliveira, CEO da Santécorp, empresa do Grupo Fleury responsável pela plataforma. Mesmo assim, pelo momento em que foi lançado, a procura pelos médicos do Brasil todo surpreendeu. “A referência que tínhamos o mercado era de oito a 10 vezes abaixo do que está acontecendo hoje”, conta Oliveira, que já contabiliza, até o momento, adesão de cerca de 900 médicos.

 

Ele conta que o próximo passo do projeto é o foco na questão dos dados e Analytics, que permitirão uma evolução para a identificação precoce de riscos de saúde por meio de algoritmos preditivos. “Este projeto faz parte de algo muito maior, que prevê centralizar todas as informações em uma mesma plataforma para podermos coordenar melhor a saúde do paciente”, afirma Oliveira.

 

Mesmo antes da crise do Covid-19, Analytics já era um tema que figurava entre os três tópicos de maior impacto para os CIOs no ano de 2020 na pesquisa “Antes da TI, a Estratégia”. Os dados mostram que 81,8% dos líderes de TI da área de saúde apontaram o tema como sendo de grande impacto para o período. Para Ailton , CIO do Hospital Sírio-Libanês, não é diferente. Ele afirmou, durante o IT ForON Breakouts, que a instituição está promovendo treinamentos sobre como usar o dado da melhor forma para a tomada de decisão. “Temos um plano de treinamento muito intenso.  Agora, a tomada de decisão baseada em dados é diferente: 20% coleta e 80% análise”, avalia.

 

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As salas de guerra da saúde

 

As empresas de saúde estão no “olho do furacão” por conta da pandemia do novo coronavírus e, em geral, têm criado verdadeiras salas de guerra (ou war rooms, em inglês) para tomar decisões rápidas e gerenciar as crises decorrentes do surgimento da Covid-19. O termo, como o nome já sugere, vem do universo militar e foi cunhado pelo primeiro ministro britânico Winston Churchill, durante a II Guerra Mundial. Em sua sala de guerra, na época, ele tinha apenas um objetivo: derrotar as tropas de Hitler.

 

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Assim como naquele tempo, as salas de guerra corporativas continuam sendo utilizadas como ponto de encontro (seja físico ou virtual) para debate e planejamento de ações para alcançar um objetivo comum – que, agora, se resume às ações necessárias para combater o coronavírus ou criar formas de manter as operações, apesar da pandemia.

 

Estes verdadeiros gabinetes de gestão de crise costumam contar com representantes das áreas de TI das empresas. Os assuntos a serem tratados são os mais diversos. Desde a implementação de infraestrutura para telemedicina, viabilização de um call center à distância, ou como capacitar funcionários a utilizar novas tecnologias implementadas.

 

Os exemplos são de Francisco Macedo, sócio da PwC, que tem participado de war rooms da área de saúde nas últimas semanas em clientes da consultoria. “O que eu vejo funcionando claramente são organizações que têm um comitê sênior envolvido, que de fato têm reuniões frequentes, deliberam e comunicam para dentro e para fora de maneira tempestiva todas as decisões ou informações que podem ser divulgadas”, resume o especialista.

 

Para ele, a infraestrutura de TI não estava preparada para este tipo de situação. Confira no vídeo o bate-papo completo com o especialista da PwC:

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