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O digital muda não só o ambiente de negócios, mas também o de inovação

Recentemente li o relatório do World Economic Forum, “The Global
Information Technology Report”
, baseado em pesquisa anual, que mostra
como as sociedades e os países têm usado a tecnologia digital. Ele
reconhece claramente que estamos no início da chamada “Quarta Revolução
Industrial”, onde a tecnologia digital expande-se exponencialmente,
afetando toda a sociedade e o ambiente de negócios. Em 2016 já
entraremos na era dos zettabytes no tráfego mundial de dados pela
Internet, com a marca do 1,1 zettabytes (mais de um trilhão de
terabytes) circulando pelo planeta. Em 2020 estima-se que este número
chegará a 2,3 zettabytes!

O relatório destaca alguns pontos que
quero debater aqui. O primeiro é a transformação na natureza da
inovação. Inovações digitais acontecem com muito mais velocidade e
intensidade, e com custos muito menores às inovações no mundo analógico.
WhatsApp, Uber e Airbnb, por exemplo, não surgiram de dentro de centros
de P&D. Isso muda o conceito de mensuração de inovações como por
número de patentes. A aceleração das inovações baseadas no mundo
digital, cria rapidamente novos modelos de negócio e a reinvenção dos
atuais modelos, muitas vezes derrubando setores sólidos, consolidados
por décadas. Inovar deixa de ser uma demanda para diferenciação, mas
passa a ser base da sobrevivência empresarial.

As tecnologias
digitais permitem criar novos mercados, como aqueles propostos por FinTechs. Por serem ágeis e de operação barata, chegam até à população não
bancarizada com ofertas que são não viáveis às pesadas estruturas dos
bancos tradicionais. O uso de Analytics Avançadoo (aliemntado pelo Big Bata)
permite que uma empresa entenda os anseios de cada cliente
individualmente e aja de acordo com esse conhecimento.

O segundo
ponto é que inovação passa a ser uma atividade corriqueira. Ter um setor
específico de inovações não é mais suficiente, pois a inovação surge de
forma espontânea na colaboração entre funcionários e clientes. Ela não é
mais concentrada, mas disseminada pelo DNA da empresa. Inovação
constante demanda formação de talentos, inclusive com ensino voltado ao
empreendedorismo. Em um mundo onde software passa a ser a linha mestra
dos negócios, o ensino de lógica e programação é essencial. Essa
iniciativa da Apple é algo que vale a pena acompanhar de perto. Sugiro
uma leitura e reflexão do artigo “Apple’s New App Will Teach the Next
Generation How to Code
”. O mundo digital vai demandar um novo currículo
educacional, que abandona a memorização de fatos e fórmulas para focar
mais em criatividade e comunicação, coisas que o ensino brasileiro, na
sua grande maioria, está desatualizado.

O terceiro ponto, e
mais preocupante, é que a maioria das empresas e governos está perdendo esta
corrida. A revolução digital avança célere pelas pessoas, que usam as
novas tecnologias e criam novos hábitos, enquanto as empresas agarram-se
aos seus velhos e conhecidos modelos de negócio, tentando manter seus
clientes presos às práticas que não mais satisfazem aos clientes
digitais. Os governos pecam por tentarem manter regras antigas e não
entenderem que as práticas regulatórias que predominaram na sociedade
industrial não mais acompanham a velocidade das transformações na era
digital.

Este novo mundo digital transforma as relações do trabalho,
cria novos modelos financeiros e novas moedas, e afeta os atuais
conceitos de privacidade. O mercado de trabalho será afetado
dramaticamente, inclusive com trabalhos intelectuais mais repetitivos
substituídos pela robotização. Recomendo a leitura de um estudo muito
instigante, “The Future of Employment: How susceptible are Jobs to
Computerisation?
”, que aborda o tema do que podemos chamar de
“desemprego tecnológico”. Foi orientado aos EUA, mas em maior ou menor
proporção afetará todos os países, inclusive o Brasil. À medida que os
avanços nas tecnologias de “machine learning” e robótica avançarem, será
inevitável a substituição de funções ocupadas por humanos hoje.
Ocupações que consistem de tarefas e procedimentos bem definidos poderão
ser substituídos por algoritmos sofisticados.

Como o custo da
computação cai consistentemente ano a ano, torna-se atrativo
economicamente a substituição de pessoas por máquinas. O processo é
acelerado pela reindustrialização nos países ricos, como os EUA, que
após perderem suas fábricas para países de mão de obra barata como a
China, começam a trazê-las de volta, mas de forma totalmente
automatizadas. Os empregos da indústria americana, perdidos pela saída
das fábricas, não estão voltando com elas. Quem está ocupando as funções
são os robôs. Este processo também está ocorrendo na China e já
existem diversas fábricas totalmente automatizadas e cada uma delas
emprega pelo menos dez vezes menos pessoas que as fábricas tradicionais.
O texto estima que cerca de 47% dos empregos atuais, nos EUA, estão em
risco. Entre estas funções estão motoristas de veículos como caminhões e
táxis, estagiários de advocacia, jornalistas, desenvolvedores de
software, administradores de sistemas de computação, etc.

Os
governos, em sua maioria, não estão antenados para essas mudanças.
Recomendo a leitura de um texto, “A Call for Agile Governance
Principles
”, que chama atenção para esse fato, e propõe que os governos
(e as empesas) repensem seus atuais modelos de governança. O Brasil,
particularmente, está mal na foto. Ocupamos a 72◦ posição entre 139 países analisados no 
“Network Readiness Index”. No ambiente de negócios e
inovação, estamos entre os piores do mundo, ocupando a 124◦ posição! No
impacto econômico causado pelas tecnologias digitais estamos em 75◦, o
que denota que por aqui o uso de tecnologias inovadoras ainda é bastante
limitado.

Não existe mais tempo para complacência, tanto de
governos, como das empresas. Apesar dos problemas que passamos, devemos
agir, em todas as esferas. Por um lado, pressionando o governo para ser
mais ágil e eficiente, e por outro, as empresas devem também agir,
deixando de lado a percepção que as transformações só ocorrerão lá fora e
que nosso mercado, protegido por restrições regulatórias será barreira.
São barreiras baixas, que em um mundo globalizado, tendem a desparecer
ou perderem força. As mudanças estão acontecendo e os executivos devem
estar antenados com elas. Recomendo estudar casos concretos de
transformações nas empresas, acompanhando os relatórios e estudos
Digital Transformation of Industries” do próprio Fórum Mundial. São
estudos neutros, pois não são relatórios de empresas que estão vendendo
tecnologias, que geralmente tendem a colocar sua própria visão de mundo
em seus estudos.

Não temos saída…para sobreviver e prosperar na
era digital, as empresas, sem exceções, precisam repensar cada elemento do seu negócio, para se tornarem
empresas digitais. Cada dia
inerte, é um dia a menos na sua chance de sobrevivência…

 

(*) Cezar Taurion é CEO da Litteris Consulting, autor de seis livros sobre Open Source, Inovação, Cloud Computing e Big Data

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