No Dia do Advogado, profissionais estafados passarão horas no WhatsApp

40% dos advogados passam horas respondendo mensagens. Em setor de digitalização tardia, maioria trabalha no fim de semana

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4:46 pm - 11 de agosto de 2021
advogada, estresse, notebook Foto: Shutterstock

Nos escritórios, empresas e repartições em que houver expediente nessa quarta-feira (11), os profissionais do direito vão comemorar parte considerável do Dia do Advogado respondendo e-mails e mensagens de WhatsApp. Aliás, às vezes até mais tempo do que desenvolvendo atividades intelectuais, como estudando os casos dos clientes.

É o que revela um estudo recente da Lawgile e da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs (AB2L). Dos 178 profissionais ouvidos nos primeiros meses de 2021 – incluindo autônomos, funcionários de departamentos jurídicos e de escritórios de advocacia – cerca de 35% recebem mais de 50 mensagens por dia, enquanto quase 50% enviam até dez e-mails.

Advogados de empresas são os que mais passam tempo lendo e-mails – até três vezes mais tempo do que os que trabalham em escritórios. No geral, 41% dizem gastar até uma hora por dia lendo e-mails, enquanto nas empresas 44% passam mais de três horas nessa atividade.

No caso do WhatsApp, 40% dos profissionais dizem gastar mais de duas horas por dia lendo e respondendo mensagens, enquanto 23% passam entre uma e duas. Apenas 20% passam no máximo 20 minutos.

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Além de ler e responder mensagens, boa parte dos advogados passa boa parte do dia preenchendo informações em planilhas e outros recursos para registrar o progresso do trabalho. Quase sete em dez (67%) dizem passar mais de uma hora por dia fazendo isso.

Essas atividades operacionais são parte do motivo pelo qual boa parte dos profissionais jurídicos trabalham tanto: 60% dos advogados ouvidos dizem trabalhar ocasionalmente aos fins de semana, enquanto 26% trabalham frequentemente aos sábados e domingos. Além disso, 43% dizem trabalhar entre 8 e 10 horas por dia, e 25% chegam a 12 horas.

Tecnologia e impactos

Para Bruno Figueiroa, advogado e head de transformação jurídica ágil na Lawgile, o cenário identificado na pesquisa denota uma demora do mercado jurídico em inovar e adotar de forma estruturada tecnologias e práticas consolidadas no mercado. “Tradicionalmente sempre foi um dos últimos setores da indústria”, diz o executivo. “Some-se a isso o crescimento exponencial das demandas jurídicas. As demandas simplesmente não param de crescer, enquanto a forma como os advogados trabalham continua a mesma há anos.”

Segundo ele, o resultado disso são extensas horas de trabalho e a sensação dos profissionais de que as 24 horas do dia não são suficientes para tanto trabalho. E o cenário pandêmico também não ajudou. Apesar de os escritórios e empresas de modo geral tenham adotado tecnologias com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos profissionais em home office, a sensação de estafa pode ter sido ampliada.

bruno figueiroa, lawgile

Bruno Figueiroa, head de transformação jurídica ágil na Lawgile (foto: divulgação)

“Acredito que a pandemia afetou bastante a saúde mental dos advogados. O confinamento e a ausência de separação entre os ambientes da casa e trabalho contribuiu bastante para o aumento da jornada da maior parte dos advogados”, analisa Figueiroa.

O advogado acredita que a tecnologia poderia sim ajudar os profissionais a otimizarem o tempo gasto com atividades repetitivas e desnecessárias, mas falta uma mudança comportamental e cultural. Afinal, diz ele, alguns escritórios só passaram a utilizar ferramentas de gestão no início da pandemia, e até mesmo escritórios de grande porte faziam controles de tarefas usando planilhas de Excel.

Ferramentas de gestão do trabalho jurídico e de automação podem, por exemplo, reduzir tempo gasto com atividades repetitivas e ampliar a visibilidade das demandas pelos times jurídicos, “evitando horas com ligações, mensagens e reuniões que muitas vezes realizadas simplesmente para tratar sobre o status das tarefas”, diz o executivo da Lawgile.

“Mas definitivamente não há como mudarmos esse cenário se não mudarmos, de fato, a forma como trabalhamos há anos”, sentencia.

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