Karnal: combate ao racismo também é obrigação do setor corporativo

Historiador e atriz Maria Fernanda Cândido debatem arte, tecnologia e sociedade no IT Forum@Home

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10:10 pm - 12 de junho de 2020
karnal

Como vamos sair de um mundo pós-Covid 19? A dúvida que vem povoando a cabeça de líderes nas mais diversas esferas foi o ponto de partida para o historiador Leandro Karnal e a atriz e sócia da Casa do Saber, Maria Fernanda Cândido, debaterem no IT Forum@Home. A troca de experiências sobre cultura, tecnologia, negócios e sociedade deixou a provocação: as empresas precisam utilizar o momento para combater o racismo e a discriminação das minorias.

Tal mudança na sociedade não deve vir apenas por um despertar da consciência, segundo Karnal. Respondendo uma provocação de Cândido, o historiador afirma que a transformação vem de uma visão pragmática: não faz bem aos negócios esse tipo de postura discriminatória.

“Está ficando claro que o mercado também presta atenção em coisas como o racismo. Ou seja, não é mais por uma questão apenas de cidadania. Se a sua empresa não tem uma política afirmativa, se a sua ação profissional manifesta preconceito, você vai perder clientes. Ninguém mais que se associar a um misógino, racista, homofóbico”, diz Karnal.

Mediada pelo jornalista e sócio-diretor da IT Mídia, Vitor Cavalcanti a discussão “Humanidade: uma nova forma de pensar” fechou o segundo dia de conteúdo da edição digital do IT Forum. Confira alguns dos destaques do papo:

O papel da tecnologia pós-pandemia

Lembrando Francis Bacon, o historiador aponta que hoje, mais do que em outras épocas, conhecimento representa poder. E lembrou de exemplos catastróficos nos quais a tecnologia não foi usada para fins que beneficiaram a humanidade. “Nós tivemos um salto tecnológico brutal, mas é preciso que a gente tenha um salto ético. Ou, de novo, a tecnologia, ao invés de transformar, vai ser um elemento mais poderoso de destruição”, dispara Karnal.

Por outro lado, a dupla comentou os benefícios que a tecnologia pode ter em setores como educação, tornando possível disponibilizar conhecimento para mais pessoas. O motivo é simples: num mundo no qual as fronteiras podem ser artificiais e os governos são temporários, a cultura é algo capaz de marcar de forma mais duradoura um povo.

“A cultura é o caminho, tornando a tecnologia em instrumentos que serão capazes de ser bem utilizados nas mãos de todos nós. Caso contrário, ficamos perto de um desastre”, comenta Maria Fernanda Cândido.

 

Criatividade e adaptação

Nas palavras de Karnal: “o futuro é da inteligência e da criatividade”.  E onde entra a arte nesse cenário? “Quem cria tem o poder de influenciar a própria identidade de seu povo. O que nos define é nossa produção cultural, como a Fernanda Montenegro disse, a cultura é a assinatura de um povo”, afirma Cândido.

A sócia da Casa do Saber ainda aponta que as novas tecnologias têm um força suficiente para amplificar a disseminação e o intercâmbio cultural. No entanto, a atriz faz questão de alertar para o papel da cultura como instrumento de dominação a serviço do poderio econômico.

“Ainda insisto no aprofundamento das questões para que a gente reserve também um tempo para aprender sobre os processos de dominação, sobre as relações de poder”, comenta Cândido. Segundo a atriz é importante que esse momento não seja apenas um “momento midiático”, explica Maria Fernanda Cândido.

Em um mundo no qual as coisas mudam constantemente e “tudo passa, tudo quebra e tudo cansa”, o poder de adaptar seus negócios garante a sobrevivência. A analogia à teoria de Darwin é trazida pelo historiador, que complementa:  “não é a força que te faz sobreviver. A força funciona só no seu imaginário. É a capacidade de adaptação. O mundo muda a todo instante, o que era realidade deixa de ser. Esforço é banho, tem que repetir todo o dia”.

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