IT ForOn Series discute ética em Inteligência Artificial

Episódio desta terça-feira trouxe à tona questões sobre ética no desenvolvimento e uso de tecnologia

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8:08 pm - 02 de junho de 2020
inteligência artificial ética Adobe Stock

O avanço exponencial da tecnologia traz à tona debates complexos sobre ética no desenvolvimento e utilização de inteligência artificial. Hoje, sistemas de IA estão presentes constantemente não só em processos empresariais, mas no dia a dia da sociedade. Para debater sobre riscos e oportunidades deste universo, o IT ForOn Series exibido nesta terça-feira recebeu Tania Cosentino, presidente da Microsoft Brasil, e Gil Giardelli, professor, inovador e fundador da 5Era. O bate-papo foi mediado por Vitor Cavalcanti, sócio-diretor da IT Mídia.

Poder da IA

Invenções tecnológicas por vezes podem ser uma ferramenta usada para a construção de uma sociedade melhor ou como uma arma para fins, inclusive, criminosos. Com a inteligência artificial não é diferente. O debate acerca do tema diz respeito, entretanto, à aplicação da tecnologia. “Ela tem como objetivo ampliar a engenhosidade humana, não destruir os humanos. A Inteligência Artificial é uma tecnologia que está aqui para nos ajudar e ampliar a engenhosidade das pessoas”, diz Tania.

Para a presidente da Microsoft Brasil, a IA é uma ferramenta pela qual a sociedade pode endereçar grandes desafios humanitários, como pobreza e acesso à água potável, por exemplo, desde que seja utilizada com um propósito. “Essa tecnologia está sendo utilizada por governos arbitrários, vemos que a propagação de fakenews pode manipular a opinião pública em uma eleição. Se a IA é enviesada, ela leva a um extremo de manipulação que pode corromper toda a sociedade.”

O tema, para Tania, deve levar em conta membros do setor público, privado e academia, no intuito da criação de políticas públicas para a utilização da tecnologia. “O risco existe e tem que ser trabalhado, mas as oportunidades são imensas, como produtividade e desenvolvimento econômico.”

No âmbito do setor privado, Gil Giardelli defende que todas as empresas tenham um conselho de ética, não apenas para o debate sobre uso de IA. “Com o novo conceito de corporações 360º, que precisam levar lucro para os acionistas com responsabilidade social, a ética precisa ser debatida. As consequências que essa nova economia (trazida pela inteligência artificial) traz são menores que os benefícios”, garante.

Viés e diversidade

Tania lembra que hoje, Centros de Pesquisa e Desenvolvimento são comumente dominados por homens brancos e heterossexuais. Com esta homogeneidade, os vieses não são eliminados durante o desenvolvimento de um sistema inteligente. “A gente prega na Microsoft que a diversidade é a coisa mais rica que a gente pode ter. Diversidade de opiniões, formação, gênero, experiências, idade. Isso promove mais segurança, equidade e inclusão. É preciso lembrar que seu cliente também é diverso”, explica.

Para Gil, a falta de mulheres, especialmente, no mercado de tecnologia, é algo que está mudando aos poucos. Mas, ainda assim, é preciso trabalhar a inclusão delas neste universo, combatendo assim os vieses por questões de gênero. “A gente precisa incentivar as meninas mais novas , mostrar que elas podem fazer ciência exata. Criou-se algo de que mulheres têm que fazer ciências humanas, mas já está na hora de falar para as meninas que elas podem tudo, porque a falta dessas mulheres hoje, como programadoras entendendo a IA, cria o viés.”

Além do fomento à capacitação de profissionais diversos, são importantes os esforços para levar o tema para a esfera governamental, criando políticas públicas para o uso dessas plataformas. “Se não estivéssemos em uma pandemia, não haveria uma autorização para o uso de telemedicina. Então, é preciso um ambiente regulatório favorável para o uso da IA, porque o Brasil é desigual. Quem vive nos grandes centros não enxerga o que pessoas que vivem em outros lugares não têm acesso. No momento em que você regulamenta a telemedicina, por exemplo, você democratiza o acesso à saúde através da tecnologia”, afirma.

Ciências exatas x humanas

Uma das formas de abarcar questões culturais plurais e democratizar o uso de tecnologias é eliminando barreiras entre ciências exatas e humanas no desenvolvimento de plataformas. Para ilustrar um exemplo sobre isso, Gil cita a tendência de escolas de negócios exigirem formação também em ciências humanas para seus candidatos. “Se você cria só engenheiros de IA que não entendem de artes, a tendência é a criação de robôs que vão perseguir pessoas. O mesmo vale também para ciências humanas.”

Tania Cosentino alerta que hoje, cada vez menos jovens brasileiros estão buscando graduação em tecnologia. O ranking da Insead, uma das principais escolas de administração do mundo, mostra o Brasil em 80º lugar em competitividade global de talentos, em uma lista que apresenta 132 países.

“Isso mostra nossa incapacidade de formar e reter talentos, e também disfuncionalidade educacional. É preciso levar para a mais tenra idade noções de programação, até para desenvolver capacidade cognitiva da criança. Temos uma lição de casa para fazer no ensino elementar, um trabalho para mostrar para os jovens que o Brasil precisa deles para desenvolver a área de tecnologia.”

O episódio completo você confere aqui:

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