IT ForOn Series discute como – e quando – será o futuro pós-coronavírus

Segundo episódio do IT ForOn Series entrevistou Paulo Vicente, professor da fundação Dom Cabral

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7:06 pm - 08 de abril de 2020
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No segundo episódio do especial IT ForOn Series, o bate-papo foi com Paulo Vicente, mestre em Administração Pública pela FGV e professor da fundação Dom Cabral, e Rene Almeida, co-CEO da Agasus. Com o tema “Uma crise anunciada. Estamos preparados para o pós?”, os participantes falaram sobre grandes ciclos enfrentados pelo mundo ao longo da história e como nos preparar para o início desta sociedade pós-coronavírus.

No início do bate-papo, o professor destacou diversas tecnologias que marcaram inícios de ciclos pelo mundo, como mecanização inicial, vapor e ferrovias e – mais recentemente – a telemática.”Cada final de ciclo tem uma grande crise. Matematicamente, poderíamos prever que uma crise chegaria a partir de 2018. E começou, de fato. Não sabíamos que seria a COVID-19 que atingiria esse novo patamar, mas é claro que a fase que estamos vivendo é de crise. Uma epidemia, em si, é impossível de ser prevista, mas uma crise era possível”, explica Paulo Vicente.

Crise anunciada

Desde o início da década passada, Paulo já previa a chegada de uma nova grande crise mundial em seus estudos. Neles, o professor havia elencado uma série de possíveis causadores do problema, e uma pandemia estava entre elas. Ele acredita que, a partir de agora, centenas de bilhões de dólares serão investidos em Pesquisa e Desenvolvimento, uma vez que as indústrias se viram frente a frente com esta pandemia e dá ainda uma data de referência de quando a crise atual pode ter seu fim: provavelmente, em 2024.

O coronavírus começou a infectar rapidamente pessoas na China no final de 2019 e hoje, quase cinco meses depois, o problema não parece estar perto do fim. Por isso, a sociedade deve se preparar para os impactos políticos e econômicos que virão a partir desta pandemia. “Tempos desesperados pedem medidas desesperadas, e o que era inaceitável vira obrigatório. A transformação digital vai ser impactada positivamente a partir de agora, no sentido de ser mais rápida e mais intensa. O que era resistência de alguns, agora vira obrigação.”

Ao ser perguntado por Rene Almeida sobre as mudanças sociais pós-coronavírus, especialmente no que diz respeito ao futuro do trabalho, Paulo acredita que muitos setores adotarão o trabalho remoto como realidade, mesmo após o fim da quarentena. “Muita gente vai descobrir que teletrabalho tem vantagens e reduz muitos custos. Eu acho que o impulso é inevitável. Quem não gostava tanto assim de home office vai perceber que funciona. As pessoas vão perceber que trabalhar de casa é mais fácil do que imaginavam que fosse e, em algumas vezes, mais produtivo”, comenta.

O Brasil está pronto?

Sobre o preparo do Brasil para enfrentar os novos desafios que uma pandemia trazem, Paulo destaca que, embora haja mais investimento em alguns setores da economia, há cortes em áreas como ciência e pesquisa e, para ele, isso demonstra fragilidade e necessidade de redefinir estratégias econômicas. Nas últimas décadas, o Brasil avançou nos setores aeroespacial, agronegócio e de energia. A partir de agora, no entanto, o cenário será outro.

“Nestes setores, precisamos repensar estrategicamente. O agronegócio terá que virar agroindústria, agregando valor com tecnologia e marca. A França, por exemplo, não vende uva: vende vinhos e champanhe. Para energia, precisamos focar em fontes renováveis e limpas em vez do petróleo; e para o mercado aeroespacial, ter mais foco no ‘espaço’, não no ‘aéreo’. Isso é uma discussão que vale para os próximos 50 anos”, avalia.

Questionado sobre ter uma visão pessimista ou otimista do futuro do Brasil, a partir do panorama que se tem hoje, o professor garante estar otimista. “A história mostra que o Brasil muda de fora para dentro, não gostamos de sair da zona de conforto. A guerra napoleônica fez o Brasil entrar em um ciclo que nos levou à independência. O ciclo pós-guerra do Paraguai levou à liberação dos escravos e à república. A Grande Depressão fez o Brasil avançar à uma maior industrialização. Entre 1973 e 1974, o Brasil quebrou um modelo e saiu da ditadura para uma democracia, mesmo que aos trancos e barrancos. No quinto ciclo, que estamos passando agora, seremos impactados de forma política e econômica. Não será um processo simples nem indolor, mas vamos sair melhores lá na frente.”

Futuro

Discutindo um futuro próximo, o professor Paulo acredita que a Rent Economy – que é o acesso a bens e serviços através do aluguel ou assinatura – deve voltar a se fortalecer pós-coronavírus. Já a Gig Economy – economia girada por trabalhadores independentes – sofrerá com a alta do teletrabalho. “Quando acabar a crise, a gente vai voltar a crescer [essa economia]. Mas as pessoas estão entendendo que tem um risco aí, e isso provavelmente vai aumentar os preços dos produtos e serviços. Isso porque a pessoa passará a cobrar pelo serviço que ela está oferecendo hoje e pelo risco que ela tem em ‘viver de bico'”, explica.

Para falar sobre um futuro um pouco mais distante, Rene, co-CEO da Agasus, perguntou a Paulo Vicente sobre um tema que poderia definir o próximo ciclo de 40 anos que viveremos e como nos prepararmos. “Melhoria humana” foi a resposta do professor da fundação Dom Cabral. “A Inteligência artificial vai se fundir com inteligência humana”, explica. “A tecnologia vai bater na ética humana em vários momentos no futuro, e isso vai trazer uma nova ética humana, lá na frente, diferente da ética atual.”


O próximo episódio do IT ForOn Series acontece amanhã, às 14h. O tema será “Um pacto sociedade, governo e iniciativa privada resolve nossa situação?”, e terá entrevista com Guilherme Lichand, professor da Universidade Zurich.

O conteúdo pode ser assistido ao vivo por este link e também YouTube do IT Forum 365.

O primeiro episódio contou com a participação de Mário Sérgio Cortella. Clique aqui e assista na íntegra.

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