Funcionários forçados a usar soluções MDM podem estar sacrificando mais privacidade do que conseguem perceber

Empresas usuárias de software de gerenciamento remoto para supervisionar os dispositivos móveis pessoais que seus funcionários utilizam para o trabalho têm a capacidade de recolher muito mais informações do que os empregados podem se sentir confortáveis em fornecer, de acordo com o experimento MDMayhem, da Bitglass, que procurou a o quão invasiva essas ferramentas de gerenciamento podem ser. O experimento comprovou que a maioria das soluções MDM podem ver mais do que deixam transparecer. E, embora a maioria dos funcionários já esperasse alguma perda de controle e privacidade sobre os dados corporativos em um dispositivo gerenciado, nenhum percebeu a extensão de como as soluções MDM podem ser usadas e abusadas para monitorar dados pessoais e as atividades que realizam.

“Sabemos que a intenção destas soluções MDM não é espionar o funcionário, mas monitorar coisas como malware e segurança”, afirma Salim Hafid, gerente de produto na Bitglass. Mas se as empresas quiserem, essas ferramentas são capazes de fazer muito mais, segundo o resultado do experimento. Isso inclui ver onde o telefone está localizado, quais aplicativos estão no telefone e até mesmo quais sites o usuário está acessando.

“Fomos capazes de ver praticamente todas as atividades no dispositivo”, conta o executivo. “Ver até o que alguns dos nossos funcionários estão procurando na web sobre saúde, por exemplo,”.

Pesquisadores da Bitglass também foram capazes de interceptar mensagens pessoais enviadas através do Gmail, Messenger e outros aplicativos, bem como ter acesso a senhas de mídias sociais e contas bancárias.

“Em geral, a solução MDM é usada para nos certificarmos de que o dispositivo está seguro e que os dados sobre esse dispositivo estão protegidos” afirma Hafid. “O que nos propusemos a fazer foi compreender as implicações de privacidade de dados, na medida em que ela poderia ser usada de forma maliciosa por alguém com más intenções”. 

O estudo incluiu vários fornecedores de MDM, mas Hafid se recusou a revelar os nomes. Garantiu apenas que os funcionários da Bitglass participantes da iniciativa eram todos voluntários.

“Posso dizer que muitos desses recursos são universais nas principais soluções de MDN”, frisa.

Hafid acrescenta que é improvável que um utilizador externo possa explorar as informações, uma vez que isso requer acesso ao portal administrativo seguro.

Outra característica preocupante das plataformas MDM é a capacidade de fazer uma limpeza remota. O software pode apagar aplicativos gerenciados ou aplicativos individuais, assim como pode apagar o dispositivo inteiro. “É algo que as organizações podem querer, mas coloca os dados pessoais em risco”, disse Hafid.

Uma das razões de uma empresa querer fazer uma limpeza completa é o download dos documentos da empresa para aplicações não gerenciadas. Mas isso também pode resultar na perda de fotos pessoais e mensagens pessoais. “Digamos que você vai deixar a organização e seu empregador quer garantir que não há dados corporativos no seu aparelho”, disse ele. “Eles podem limpar o dispositivo sem notificá-lo”.

Além disso, muitas soluções de MDM permitem que as empresas restrinjam recursos do smartphone, tais como backups no iCloud .”Isso, claro, representa um perigo adicional aos dados pessoais”, afirma .

Na verdade, 57 por cento dos funcionários da empresa disseram que não participam de programas de BYOD na empresa porque eles não querem que o departamento de TI vejam seus dados pessoais e aplicações, de acordo com o relatório Bitglass lançado no ano passado .

“Muitos funcionários não querem que seus empregadores tenham visibilidade ou controle sobre o seu dispositivo”, finaliza Hafid.

As políticas de Bring Your Own Device (BYOD) estão trazendo melhorias
de produtividade e aumentando a autonomia e lealdade corporativa, mas
os trabalhadores móveis ainda não estão satisfeitos – eles querem
confiança e privacidade. Uma pesquisa da Ovum, realizada em dezembro de 29014, já havia revelado que quase um
quarto (24%) dos trabalhadores geralmente não confiam em dar aos
empregadores qualquer forma de controle sobre seus dispositivos.

O levantamento, feito com 5 mil trabalhadores, em 19 países, revelou
estatísticas que deveriam ser consideradas por qualquer um com uma
equipe de trabalho móvel ou remoto:

1 – Mais de 84% dos funcionários
classificam privacidade como uma preocupação quando questionados sobre
usar seus próprios dispositivos no trabalho. 

2 – 30% dos que responderam preferem que o seu empregador gerencie seus serviços de mobilidade corporativa.

3 – 42% preferem a sua operadora de telefonia móvel para gerenciar seus serviços de mobilidade corporativa. 

4 – 44% dos funcionários querem manter sua vida pessoal e profissional separadas. 

Os resultados refletem o difícil equilíbrio que ainda é
visto entre o uso pessoal e o uso profissional de dispositivos móveis.
Os empregadores querem aproveitar os benefícios de uma equipe móvel e
conectada; os funcionários também querem, mas não se isso significar que
os chefes ganharão uma visão extra sobre sua personalidade e
comportamento.