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É hora de olhar para 2025 e para os pontos de inflexão da sociedade digital

Indiscutivelmente, na Quarta Revolução Industrial o software passa a ser a
alavanca das mudanças na sociedade. O impacto das transformações que veremos
nos próximos 10 a 15 anos será muito maior do que em qualquer outra era
de  revolução tecnológica. Pesquisa recente da McKinsey mostrou uma
diferença significativa de desempenho entre as empresas que já despertaram para
a necessidade de produzir software de forma rápida e eficiente. A pesquisa
mostrou que entre as empresas pesquisadas, as que se situavam no quartil
superior apresentaram uma característica em comum: produtividade de criação de
software três vezes superior aos do quartil inferior.

Fica nítido que a diferenciação competitiva está na sua capacidade de
entregar software. Software não é mais um assunto para nerds e de
responsabilidade única dos CIOs. Começa a ser também uma preocupação de
qualquer CEO que queira manter sua empresa relevante nos próximos anos. 
Os CEOs devem estar antenados para o fato que a capacitação de desenvolvimento
de software em suas empresas, qualquer que seja o setor de indústria, passa a ser
o elemento chave na diferenciação e criação de valor de  produtos e
serviços.

Com este pensamento, aproveitei a pausa do Carnaval para ler atentamente um
relatório muito instigante, do World Economic Forum, publicado em setembro de
2015, chamado “Deep
Shift – Technology Tipping Points and Societal Impact
” . Ele aponta quais
tecnologias terão potencial de remodelar a nossa sociedade. E, claro, software
está no centro de todas elas.

Aqui faço dois lembretes: “tipping point” ou ponto de inflexão é aquele
momento onde a tecnologia alcança massa crítica suficiente para se disseminar
pela sociedade e causar impactos. E esta disseminação é exponencial. Infelizmente,
o nosso pensar de forma linear, diante de uma evolução que é exponencial, nos
leva à terrível armadilha de subestimar o impacto das transformações.

Um bom exemplo do quanto subestimamos a mudança exponencial é o Human Genome
Project, lançado em 1990, com estimativa de ser concluído em 15 anos a um custo
de US$ 6 bilhões. Em 1997, metade do prazo previsto, apenas 1% do genoma humano
tinha sido sequenciado. Pelo planejamento linear, continuando no mesmo ritmo
(sete anos para avançar 1%), levaríamos 700 anos para concluir o
sequenciamento. Parece lógico não? Diante dessa perspectiva, a pressão para
encerrar o projeto foi imensa, mas quando perguntaram ao futurista Ray Kurzweil, ele disse:“1% significa
metade do caminho. Vamos em frente! ”. Kurzweil
pensou exponencialmente. 1% dobrando a cada ano significa chegar a 100% em 7
anos. O projeto foi concluído em 2001, quatro anos antes do planejado, custando
muito menos que o estimado. O pensamento linear, tradicional, errou o alvo por
696 anos!

Vemos a exponencialidade em toda a parte. A nossa presença digital tem se
disseminado muito rapidamente, com crescimento exponencial. Em 1995, a apenas
21 anos, 0,6% ou cerca de 35 milhões de pessoas estavam na Internet. Hoje são
cerca de 43%. O relatório do World Economic Forum estima que em 2025 cerca de
80% da população do planeta já estará conectada à Internet.  Perfeitamente
possível pela expansão das redes wireless, que demandam muito menos
infraestrutura que as redes fixas. Hoje cerca de 85% da população do planeta já
vive próximo a, pelo menos, uma torre de celular, que pode prover este acesso.
Projetos alternativos e complementares já estão em desenvolvimento e em breve
estarão ampliando este alcance de conexão como o Internet.org do Facebook e
seus drones, o Project Loon dos balões do Google, e o da SpaceX com redes de
satélites de baixo custo. O acesso à Internet passará a ser um direito básico
da sociedade, assim como o acesso à agua potável.

Dez anos atrás, interagíamos via um desktop ou laptop com e-mail,
navegávamos em sites, podíamos até ter um site pessoal ou um blog e um celular
com alguma interatividade. O iPhone só surgiu em 2007. Hoje interagimos com um
smartphone que é um computador de bolso, compartilhamos ideias e expressamos
nossas opiniões via várias redes sociais como Facebook, Twitter, Instagram,
Snapchat e outras, e usamos apps para nos ajudar em praticamente todas as
nossas atividades diárias. Só para termos uma ideia, das 10 maiores populações
do planeta, três são plataformas sociais, como Facebook, Twitter e Instagram. O
Facebook é, caso fosse um país, o mais populoso, com 1,5 bilhão de pessoas,
seguido pela China, com 1,360 bilhão e Índia, com 1,240 bilhão.

O smartphone merece uma atenção à parte. Estima-se que em 2019 serão 3,5
bilhões, o que significa que 59% da população do mundo terá um, ultrapassando
os 50% da população, previsto para ser alcançado já no ano que vem, em 2017.
Novamente, o crescimento não é linear, mas exponencial. A tendência nítida é o
acesso à Internet acontecer via estes aparelhos, e não mais por desktops e/ou
laptops. Em alguns países como Singapura e Coréia do Sul, 90% da população usam
smartphones. O crescimento da capacidade computacional destes smartphones é
impressionante. O iPhone 4 de 2010 tinha a mesma capacidade de um Cray-2, o
supercomputador mais rápido do mundo em 1985. O Apple Watch, que apareceu cinco
anos depois, em 2015, já apresentava uma capacidade de dois iPhone 4! Ou seja,
literalmente, cada usuário de smartphone tem um supercomputador de 30 anos
atrás, que custava vários milhões de dólares a um custo de poucas centenas de
dólares.

A capacidade de memória também evolui de forma exponencial e provavelmente
em 2025 a imensa maioria da população terá acesso a espaço quase ilimitado e
gratuito de armazenamento, por novos modelos de negócios como os baseados em
propaganda e não mais venda ou aluguel. Hoje estima-se que 90% dos dados do
mundo foram criados nos últimos dois anos e este crescimento exponencial
continuará nos próximos anos. O volume de informações gerados pelas empresas
dobra a cada 1,2 anos. Armazenamento está rapidamente se transformando em
commodity, liderado por empresas como Amazon (AWS) e Dropbox. Uma “comoditização”
do armazenamento com a acesso livre e ilimitado matará qualquer empresa de tecnologia
cujo modelo de negócios é vender discos magnéticos para usuários, sejam estes,
empresas ou pessoas físicas. É um negócio que só existirá para suportar os
grandes fornecedores de armazenamento.

Deste relatório, que merece ser lido com atenção, destaquei algumas
tecnologias que me chamaram a atenção pelo seu impacto nos negócios.

A primeira é a Internet das Coisas. Uma estimativa de 1 trilhão de objetos
(sensores) conectados em 2025 é impressionante. A visão do relatório é a de que
praticamente todo objeto físico poderá estar potencialmente conectado. Estarão
em todos os lugares, mudando processos, criando novos modelos de negócio e
abrindo novas oportunidades (e riscos) para as empresas e a sociedade. Cada vez
mais teremos casas conectadas e cidades inteligentes. A previsão é a de que, em
2025, pelo menos uma cidade de 50 mil habitantes não terá sinais de trânsito,
porque eles não serão mais necessários. Os veículos inteligentes já começarão a
ser lugar comum. Pelo menos 10% dos veículos em circulação no mundo serão
autônomos, ou seja, não precisarão de motoristas. Em algumas cidades, talvez, o
movimento dos taxistas contra o Uber terá sido substituído pelos dos motoristas
do Uber contra os veículos autônomos…a  profissão de motorista, seja de
caminhão ou táxi tende naturalmente a desaparecer nas próximas décadas, como a
das datilógrafas e ascensoristas.

O crescente uso de dados permitirá que, em 2025, um país possa substituir o
seu censo periódico pelo uso intensivo de análises de dados baseados em Big
data. IA (Inteligência Artificial) e “Machine Learning serão “business as
usual” e não mais experimentações isoladas de poucas empresas.

Vejamos alguns exemplos do cenário previsto pelo relatório.

Cerca de 30% das auditorias corporativas serão feitas não mais por
auditores, mas sim por sistemas inteligentes. O mesmo poderá acontecer em
outras áreas. O sistema Watson da IBM já demonstrou, em diagnósticos de câncer
de pulmão, uma taxa de acerto de 90%, superior à dos médicos, que geralmente
fica nos 50%. A razão é simples: imensa e variada massa de dados a serem
analisados. Para um médico se manter atualizado com as descobertas e inovações
no setor são necessários, no mínimo, 160 horas por semana. Assim, sistemas como
Watson poderão ajudar em muito o tratamento de doenças.

Outro “tipping point” da IA será a presença de sistemas inteligentes no
board de diretores de empresas. Aliás, recentemente, uma empresa de venture capital
baseada em Hong Kong, a Deep Knowledge Ventures, “nomeou” um algoritmo chamado
VITAL (Validating Investment Tool for Advancing Life Scientes) para seu
board
. E a empresa ConceptNet,
já demonstrou que seu algoritmo passou em testes de QI com resultados
superiores ao de crianças de 4 anos. Três anos atrás mal conseguia vencer uma
criança de um ano. E no ano que vem já estará disputando com crianças de seis
anos.

Outros pontos de inflexão serão alcançados em 2025. Pelo menos 10% do PIB
global estará sendo gerenciado pela tecnologia blockchain, através de moedas
virtuais como Bitcoin e outras. Hoje, esse prencentual não passa de 0, 025%.
Governos também passarão a coletar impostos via blockchain. No ano passado foi
criada a BitNation, primeira nação virtual,
baseada em blockchain como tecnologia para identificação única de seus
cidadãos. A Estônia
já se tornou a primeira nação do mundo a adotar oficialmente a tecnologia
blockchain.  

A economia do compartilhamento também será comum. Estima-se que em 2025 mais
jornadas serão feitas no mundo por “car sharing” do que por veículos próprios.
E as impressoras 3D estarão em todos as atividades. Estima-se que por volta de
2025 seja fabricado o primeiro carro totalmente produzido por uma impressora
3D. Isso simplesmente tornará uma impressora 3D substituta de uma fábrica
inteira. Espera-se também que 5% dos produtos de consumo já sejam produzidos em
impressoras 3D. Veremos transplantes de fígado criado por estas impressoras.
Aliás, em 2014 a China conseguiu implantar
uma seção de uma vértebra
fabricada por uma impressora 3D, substituindo uma
vértebra cancerosa no pescoço de um paciente. Já paramos para pensar nas
consequências disso para os negócios atuais?

(Clique nas imagens para ampliá-las)

Assim, as mudanças estão acontecendo em ritmo acelerado, exponencialmente.
Seu poder de transformação da sociedade e empresas não pode ser ignorado. Os
executivos das empresas, sejam CEOs ou CIOs, devem estar antenados com estas
mudanças que já estão no cenário estratégico de curto a médio prazo, e que
mudarão de forma significativa as estruturas sociais, empresariais e,
consequentemente, os modelos de negócio. Os bilhetes para o trem estão se
esgotando e se não corrermos, vamos perdê-lo.

 

(*) Cezar Taurion é CEO da Litteris Consulting, autor de seis livros sobre Open Source, Inovação, Cloud Computing e Big Data

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