COVID-19: Micro Venture Capital no Brasil continua aportando em startups

Para João Kepler, este momento representa novas oportunidades de apoiar o ecossistema de startup

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6:36 pm - 30 de março de 2020
joão kepler joão kepler

Sem dúvidas, o impacto do COVID-19 e o alongamento do confinamento deixou o mercado de Venture Capital mais apreensivo e, obviamente, mais lento. Agora, o foco de grande parte dos fundos está voltado ao apoio ao portfólio e cuidado com as startups investidas.

Para a Bossa Nova Investimentos, o caminho é outro. Nos últimos trinta dias, seis startups receberam novos aportes da Bossa, fundo brasileiro de micro Venture Capital. São elas: FrameFy, Repassa, Wellbe, Numenu, Trakto e 4 Student. Além destas, mais quatro investimentos acontecerão nos próximos dias.

Em quatro anos, a micro VC acumulou 605 investimentos realizados e 44 writeoffs. Para esse portfólio, o cenário parece ser otimista. A companhia informou ao IT Forum 365 que não há sinal de que nenhuma de suas startups pretende encerrar as atividades por conta do coronavírus.

“Para as startups sem vendas e aquelas que estão diretamente impactadas, seja por caixa ou seja por modelo de negócio, ajudamos com orientação na redução geral e controlada de custos, com mentoria especializada e, eventualmente alguma solução financeira. Nossa orientação é zerar o burnrate e voltar ao breakeven, até passar a tempestade”, explica João Kepler, cofundador da Bossa Nova.

Uma recente pesquisa da CBInsights indica que o mercado de investimentos em startups sofrerá um recuo de 22% devido a crise causada pela pandemia do novo coronavírus.

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Parar Kepler, “muitos investimentos não estão nessa conta, mas esse número serve sim de parâmetro global, sendo uma fotografia apenas dos Deals anunciados e registrados de VCs tradicionais. Porém, se considerarmos como certo este nível de recuo de 22%, seria interessante também observar o que aconteceu na recessão de 2008 olhando o gráfico da Redpoint Ventures, onde mostra que a curva de recuperação dos investimentos pós recessão no estágio de investimento seed, onde tivemos muito mais velocidade de recuperação que os demais estágios de investimentos.”

Apesar de serem crises completamente diferentes, o investidor acredita que a retomada dos investimentos há 12 anos serve de parâmetro para que se continue investindo agora.

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João alega que nos estágios Anjo e pré-seed, os aportes são menores e feitos em grande parte por investidores Pessoas Físicas, onde a disposição, independência e mobilidade é bem maior para voltar a alocar investimentos em startups. “Deve acontecer a mesma retomada rápida principalmente no estágio Anjo, pré-seed e seed também no pós-crise do coronavírus.”

Investimento em startups

Kepler reforça seus argumentos baseado também em no aspecto do modelo de negócio das startups. “No geral, as startups não devem mudar em função do momento específico. Como os empreendedores brasileiros são muito resilientes, já operavam digitalmente, com modelos enxutos e escaláveis, trabalhando em espaços colaborativos e home office, fazendo muito com pouco e em condições de total incerteza, o impacto das mudanças será bem menor nessas empresas. Ao contrário, pelos seus resultados e ações durante a crise, vão ser finalmente reconhecidas, como soluções mais acessíveis, eficientes e também consistentes. Além disso, como consequência, sairão desse período também com a imagem consolidada como um tipo de empresa mais segura e uma opção mais clara de investimento.”

No mercado, nem todas as previsões são tão animadoras. Um levantamento da Anjos do Brasil, com 109 investidores-anjo e algumas VCs, aponta uma tendência ao recuo dos investimentos em startups agora. A pesquisa aponta também a probabilidade do aumento de exigências, diligências, tempo de decisão e postergamento de investimentos.

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“Com todo respeito a quem respondeu (ao levantamento da Anjos), mas não seguimos manada. Na minha opinião, neste momento que postergam, eles certamente perderão os melhores deals e oportunidades de investimentos em startups. Por isso, a Bossa Nova está agindo na direção oposta, pois acreditamos que teremos em 2021 maravilhoso com vários exits”. Em 2016, em meio a uma das maiores crises políticas do Brasil, a Bossa Nova anunciou seu plano de investir em 1.000 startups até 2020.

Para o investidor, agora é a hora de investir em startups como forma também de ajudar o pequeno negócio e manter o mercado ativo. “Sentar em cima do seu caixa e segurar seus investimentos não vai te levar a múltiplos interessantes no médio e longo prazo, nem vai te trazer retorno social no curto prazo estimulando o pequeno e o mercado. Claro que isso não é uma garantia ou uma promessa, mas se não sabe como investir profissionalmente, siga um Líder que tenha track record”, completa.

Já para os empreendedores, o momento é de cautela. João também alerta empreendedores e startups a não aceitarem propostas indecorosas de investimentos. Segundo ele, pode existir oportunismo do mercado de buscar reduções drásticas de valuations.

“Isso não é investimento profissional, que deve ser focado em um racional coerente, nas faixas já praticadas no mercado e nos comparables brasileiros. A dica é: continuem em fundraising, mas seja seletivo, é hora de escolher bem seu investidor, sem pressão e de forma mais humanizada. O dinheiro existe e precisa ser alocado com mais segurança nesse momento, porém, cabe a cada startup mostrar essa segurança e a oportunidade de investir agora no seu negócio e claro, as possibilidades realistas de ganhos e saída futura”, finaliza.

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