Como o Google triplicou a adoção de Cloud no Brasil

Mercado brasileiro desponta com transformação de empresas e serviços que vão desde startups como Portal de Telemedicina a gigantes como Magazine Luiza

Author Photo
1:30 pm - 10 de dezembro de 2018

Cerca dois meses antes de uma das datas mais aguardadas pelo varejo e pelos consumidores, a Black Friday, a área de TI do Magazine Luiza deu início a uma jornada um tanto arriscada: migrar, em um tempo recorde, toda a sua plataforma de e-commerce para a Google Cloud. “Queríamos focar em entregar resultado para o negócio, ao invés de ficar cuidando da infraestrutura”, resume André Fatala, CTO da companhia. “Cloud first é um dos nossos princípios. Todas as aplicações que pensávamos em modernizar desde o e-commerce, a digitalização das lojas físicas, passa por isso. Hoje o tráfego em mobile é gigantesco e pensar em escalar tudo isso, seria muito difícil aguentar a volumetria sem ter a escala que a nuvem dá”, detalha Fatala durante a segunda edição do Google Cloud Summit.

Com uso da Google Cloud e habilidades de Machine Learning, a startup brasileira Portal Telemedicina têm resolvido um problema que atinge, em especial, as regiões remotas do Brasil: a distribuição desigual de médicos. Por meio de sua plataforma de telediagnóstico, médicos especialistas em São Paulo recebem exames e conseguem emitir laudos virtualmente para clínicas e hospitais em tempo real para mais de 160 cidades. Fundada há cinco anos, a startup virou um dos cases globais da adoção da Google Cloud Platform, tendo participado de dois programas de aceleração de startups da gigante de tecnologia e chamado a atenção do Vale do Silício. Se no início, a empresa fundada pelo CEO Rafael Figueroa, especialista em Machine Learning, atendia pequenas clínicas, hoje grandes instituições de saúde já recorrem à plataforma.

Em regiões como a Floresta Amazônica, onde um diagnóstico pode levar em média 60 dias para ser concluído, a Portal Telemedicina consegue devolvê-lo em minutos. Um dos grandes avanços da startup neste ano foi a adoção da Google Cloud ML Engine. Se antes, cientistas de dados da empresa levavam meses para treinar algoritmos para detecção proativa de doenças, hoje com uso do Tensor Flow, Figueroa explica que é possível treinar modelos em dias. “O resultado foi fenomenal”, ressalta.

Segundo o CEO, com uso de visão computacional para detecção de doenças, a Portal Telemedicina conquistou métricas superiores a obtidas por grandes instituições como o MIT (Massachusetts Institute of Technology). “Tudo que fazemos hoje, pensamos em como podemos melhorar a automação. Quando recebemos um exame, o algoritmo que detectar uma doença, fará com este exame seja priorizado e enviado para três médicos. Com isso, conseguimos eliminar o erro humano”, explica Figueroa. E uma vez que um diagnóstico é dado assertivamente por uma combinação entre a expertise humana e o algoritmo, pacientes poderão receber um tratamento o quanto antes. Uma das vantagens de usar a nuvem para esse tipo de serviço é também a escalabilidade intrínseca à tecnologia. Hoje, o Portal Telemedicina consegue atender uma clínica em Angola, na África, e a expectativa é ampliar para outros mercados internacionais.

Democratização da nuvem

Para João Carlos Bolonha, diretor para Google Cloud Latam, os dois exemplos citados acima são um reflexo da democratização e profissionalização de tecnologias em nuvem no mercado brasileiro e resumem o que ele chama de “um momento especial”, tanto para as empresas como para o Google. Se a nuvem despontou pela adoção de empresas digitalmente nativas, hoje, a transformação digital de grandes corporações também passa pela nuvem pública.

O momento especial também é visto pelos números do Google Cloud no Brasil. Em entrevista a jornalistas, Bolonha reforça que de um ano para cá, desde o primeiro Google Cloud Summit no Brasil, o número de clientes que adotaram a nuvem do Google mais do que triplicou. “Quando a gente olha para outras regiões tidas como emergentes, o Brasil está entre os mais rápidos em adoção”, defende o executivo.

O crescimento do Google Cloud Brasil também é um reflexo dos investimentos da companhia no mercado brasileiro. Em setembro do ano passado, foi inaugurada a primeira região de Google Cloud na América Latina, instalada em São Paulo, com servidores dedicados. Além de permitir que empresas de todo o continente armazenem seus dados e aplicações de nuvem em servidores alocados na região, as instalações oferecem redução de 60% a 85% no tempo de latência de acesso aos dados quando comparadas com qualquer uma das outras 11 regiões de Cloud que o Google tem espalhadas pelo mundo. Soma-se a isso, o fato de que a oferta de cloud na região começou a ser cobrada integralmente em Reais, com impostos previstos e recolhidos automaticamente pelo Google. Em resumo, qualquer cliente com CNPJ brasileiro pode receber a cobrança em reais para o uso da nuvem. Essa orquestração, inevitavelmente, impulsionou a adoção do Google Cloud no Brasil.

“Fizemos uma pesquisa com o IDC que indica que houve, de 2015, para cá um aumento de quatro vezes no interesse das empresas em cloud pública. Isso bate com esse momento que estamos vivendo”, salienta Fabio Andreotti, Diretor de Google Cloud Brasil, em entrevista à Computerworld Brasil. “De bancos, empresas de saúde a varejo, as empresas estão percebendo mais facilmente as vantagens que a Cloud traz. Não é só uma questão de redução de custos. A nuvem está na raiz da inovação, porque as empresas podem ser mais ágeis, extrair mais insights de suas informações e a cloud habilita isso”, acrescenta Andreotti.

Uma questão de evangelização

Nos últimos dois anos, a divisão de cloud do Google tem endereçado projetos de grandes empresas. Uma das estratégias para tal, inclusive, se deu em parcerias recentes firmadas com a SAP e a Cisco, para ofertar soluções de ambas através da nuvem do Google. Apesar de não compartilhar números, Andreotti diz que a companhia tem investido em crescer a equipe para Cloud no Brasil. “É um crescimento que segue o mesmo ritmo que existe o interesse em cloud. Estamos crescendo o número de parceiros que, em um ano, quintuplicou. Trouxemos muitos parceiros novos, que é parte fundamental do ecossistema e não só parceiros integradores que são aqueles que vão fazer uma consultoria, mas parceiros de tecnologia como o Portal de Telemedicina”.

E se a estratégia para Cloud Computing se alicerça na Inteligência Artificial, a companhia tem trabalhado também para evangelizar desenvolvedores para criar soluções que usem suas ferramentas. Por meio de seu programa Google Cloud On Board, a companhia tem levado cursos gratuitos para desenvolvedores. Segundo Andreotti, o Brasil é o terceiro país do mundo com o maior volume de engajamento nos treinamentos que a empresa oferece. Muitos dos workshops são ofertados em estádios de futebol para dar conta do interesse da comunidade de desenvolvedores. Nesta direção, o Google lançou, na última semana, todo seu conteúdo para o Google Cloud Learning em português.

Para 2019, as expectativas para Google Cloud são grandes, diz Andreotti. Muitos dos esforços vistos em 2018 do Google global dizem respeito a adoção de Inteligência Artificial e a Voz como a próxima fronteira da comunicação e experiência do consumidor. Vale lembrar que neste ano, a companhia lançou o seu serviço Google Duplex, que é um assistente pessoal dentro do Google Assistente e que permite agendar reservas em restaurantes e salões de beleza, por exemplo.

Fabio Coelho, presidente do Google Brasil, é quem resume o tom para próximo ano. “As mudanças quando acontecem vêm devagar, mas depois acontecem numa velocidade que, para quem não está no jogo, não conseguirá fazer a transformação. A próxima onda está vindo, ainda devagar, mas vai acelerar e tem a ver com inteligência artificial. Já tivemos a escrita, o vídeo, agora é a vez da voz”, sinaliza. Em 2018, o Google identificou um aumento de 85% das buscas contendo “OK Google” no Brasil. A aposta é que a voz será a primeira interface com a tecnologia. E é exatamente o tipo de serviço que o Google entrega, mais uma vez, com a nuvem.

 

Newsletter de tecnologia para você

Os melhores conteúdos do IT Forum na sua caixa de entrada.