Como bootcamps preparam alunos e profissionais para o mercado de trabalho?

Cursos intensivos com aulas 100% práticas buscam criar soluções reais para o mercado. Modelo promete agilizar contratação em tecnologia

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11:14 am - 20 de outubro de 2019

Bootcamps de tecnologia surgiram como uma alternativa rápida e eficiente para ensinar conhecimentos e habilidades digitais que o mercado de trabalho cada vez mais exige. Segundo o The Atlantic, a Full Stack Academy (antiga Code Academy) foi a primeira escola a apostar nessa modalidade ainda em 2011. Em seu novo programa de engenharia de software, alunos passaram 13 semanas estudando e aplicando habilidades em JavaScript em situações reais voltadas para desafios de empresas.

Com o passar dos anos, essa modalidade de curso foi se desenvolvendo e hoje é possível encontrar bootcamps nas mais variadas áreas da tecnologia, como programação, segurança da informação, desenvolvimento web, design, ciência de dados e outros.

Para muitos, bootcamps de tecnologia estão substituindo graduações tradicionais de ciência da computação, com empresas considerando-os como preferência na hora da contratação de profissionais.

Mas o quanto esses cursos imersivos preparam o aluno para o mercado de trabalho? Os formados em bootcamps estão realmente aptos  para preencher vagas de TI no Brasil? De acordo com Robson Marques, CEO da Rocketseat, escola de programação e tecnologia que oferece um programa de bootcamp, um dos principais motivos para a queda no número de alunos de cursos tradicionais é que “faculdades e instituições de ensino tradicionais já não conseguem mais preparar os alunos para a demanda exigida pelo mercado de trabalho. Além disso o mercado de trabalho não consegue encontrar mão de obra qualificada para suprir uma demanda que cresce a cada ano”.

Tiago Mesquita, gerente geral da Ironhack no Brasil, concorda que os bootcamps vêm para suprir uma lacuna de conhecimento. “O ensino de algumas faculdades, às vezes, não é o melhor. Na maioria, as linguagens de programação estão bem desatualizadas com o mercado, então ensinam coisas que já nas se usam mais. Essa é a principal diferença”, conta Mesquita.  “Nem todo mundo que estuda engenharia da computação está preparado para o mercado de trabalho”, conclui.

Como funcionam os bootcamps

“Bootcamps são treinamentos intensivos, práticos, totalmente alinhados com o mercado de trabalho e com foco no domínio de uma habilidade ou ferramenta específica. Geralmente esses treinamentos exigem dedicação total do aluno e acontecem em um período curto de tempo, entre 6 a 12 semanas. É ministrado por profissionais do mercado, especialistas com experiência prática nas ferramentas que ensinam”, explica Marques da Rocketseat.

Com o nome de GoStack, a Rocketseat oferece uma opção de bootcamp completamente online, onde os alunos formam turmas para discutir e evoluir juntos. A escola espera que os alunos terminem os módulos em uma média de seis semanas. O GoStack cobre principalmente JavaScript, ensinando bibliotecas e interpretadores da tecnologia com mais profundidade como, NodeJS, ReactJS e React Native.

Já a Ironhack oferece três opções de bootcamps: Web Development, UX/UI Design e Data Analytics. Todos são presenciais, tendo a possibilidade de se matricular na modalidade full-time e part-time.  Em ambos os casos, os professores e instrutores são exclusivamente especialistas e agentes do mercado. Não há professores com perfil acadêmico. “100% prático, o mais prático possível”, comenta Mesquita.

Mercado de trabalho

Mesquita explica que nem todos os alunos de bootcamps estão interessados em arrumar um emprego na área de tecnologia, há também curiosos e interessados em empreender, por exemplo. No entanto, dos interessados em participar do universo corporativo, de forma geral, em 90% dos casos, os alunos já saem empregados, principalmente os que participam da “Semana do Emprego”, feira de vagas organizada pela escola e exclusiva para alunos dos bootcamps.

Na Rocketseat não há dados concretos com relação ao número de alunos que conseguem empregos após o término das aulas. No entanto, segundo Marques, alunos foram contratados por terem o bootcamp da escola no currículo. “Temos também o relato de uma única empresa que chegou a contratar 23 de nossos alunos. Literalmente todos os dias recebemos o depoimento de alunos alcançando seus objetivos profissionais e como gostamos de dizer, avançando para o próximo nível”, conta.

O que você precisa saber antes de fazer um bootcamp

Diferente de uma graduação tradicional, que se preocupa com os conhecimentos teóricos em profundidade, bootcamps são cursos rápidos e dinâmicos. Alunos procuram bootcamps como forma de se aproximar mais das atividades praticadas pelas empresas. No entanto, mesmo que não seja necessário conhecimento teórico para se matricular em um bootcamp, não espere aprender conceitos nem funções do zero. Por ter essa característica veloz e funcional, não serão ensinados conhecimentos básicos.

O bootcamp pode ser considerado um curso de atualização e uma experiência prática real, podendo ser a saída para quem não tem conhecimento sólido na área ou para aqueles que não passaram por uma graduação formal em tecnologia.

“Nós acreditamos que as empresas estão olhando cada vez menos para o diploma e cada vez mais para as habilidades do profissional e o valor que ele pode gerar para a empresa. Por isso tanto os bootcamps como a educação prática, alinhada com o mercado em geral são o futuro da formação profissional”, explica Robson Marques da Rocketseat. “A solução para esse abismo entre o mercado e a demanda de mão de obra qualificada”, conclui.

Tiago Mesquita, da Ironhack, entretanto, ressalta que apesar de empresas de tecnologia estarem mais abertas para contratar funcionários sem uma graduação tradicional, uma faculdade ainda é algo valioso a se ter no currículo.

“Na área de tecnologia as empresas já são muito mais abertas a contratar quem não fez faculdade. Ao mesmo tempo, as faculdades não preparam os alunos para trabalhar. Mesmo assim, ainda é complicado para quem não tem uma faculdade arrumar um emprego na área”, conclui Mesquita.

*estagiário sob supervisão da editora Carla Matsu

 

 

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