Brasil se destaca com 42% das iniciativas de IA na América Latina, em 2020

Estudo aponta mudança nos modelos de negócios, perfil profissional do empreendedor, os avanços e desafios do mercado de IA na região e no país

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6:01 pm - 03 de março de 2021

Com a aceleração da onda de digitalização global, a adoção e o desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA) têm crescido na América Latina. De acordo com novo estudo da everis e Endeavor, o Brasil se destaca com 42% das iniciativas na América Latina. No entanto, em toda a região, apesar do crescimento robusto, o desenvolvimento de IA ainda é muito imaturo. Os principais desafios que dificultam o amadurecimento da tecnologia, segundo o estudo, são: escassez de talentos, adoção da tecnologia e ausência de políticas públicas construtivas.

O relatório se baseou no fato de a IA ser, atualmente, o motor da transformação tecnológica que concentrará grande parte da produtividade econômica e, com isso, do crescimento dos países. Uma das principais constatações do estudo foi que o uso dessas tecnologias cresceu de 32%, em 2018, para 48%, em 2020. No Brasil, onde está concentrado o maior número de empresas de IA da região (42% do total), o número de empresas de IA se expandiu de 120, em 2018, para 206 empresas, em 2020.

Os dados são baseados no Índice de Nível de Inovação e Crescimento IA (INICIA), uma metodologia desenvolvida pela everis, que avalia vários critérios, como ano de fundação, grau de maturidade das empresas, volumes de vendas, empregos gerados e investimentos recebidos, entre outros.

A expansão da adoção e uso de IA está em seu maior ponto de inflexão, com um mercado previsto de US$ 70 bilhões para 2020 e com uma Taxa de Crescimento Anual de 38% para o período 2018-2022.

“Essa tendência de ampliação do uso de IA no novo cenário global torna essa tecnologia vital para o desenvolvimento de empresas e países, porque viabiliza a automação e gestão eficiente das operações e do atendimento aos clientes onminchanel, resultando em benefícios econômicos e sociais indiscutíveis”, afirma Evandro Armelin, Diretor de Data & Analytics da everis Américas.

Nesta edição de 2020 o estudo “O impacto da Inteligência Artificial (IA) no empreendedorismo da América Latina”, a everis e a Endeavor entrevistaram 136 das 490 empresas identificadas em países da América Latina.

Expansão do mercado de IA

A expansão do mercado de IA foi constatada também pelo volume de vendas dos empreendedores latino-americanos, que a Endeavor Intelligence calcula ser em torno de US$ 4,2 bilhões, e do montante de investimentos que receberam, em torno de US$ 2,2 bilhões, bem como pela geração de 38 mil empregos.

De acordo com o estudo, apesar do crescimento robusto, o desenvolvimento de IA ainda está em fase inicial na região. Os principais indicadores da falta de maturidade são o fato de 55% dos empreendedores terem fundado suas empresas entre 2014 e 2017, ou seja, estarem há poucos anos no mercado; bem como o investimento médio recebido ainda ser baixo, por volta de US$ 528 mil, e ainda utilizarem técnicas de machine learning tradicional, sendo que o uso de deep learning ainda é minoritário.

Outro aspecto que denota baixa maturidade é apontado no Artificial Intelligence Index Report 2019, de Stanford, no qual é informado que apenas 0,2% das citações em patentes e 1,7% dos artigos publicados em revistas científicas relativos à IA no mundo vêm da América Latina e que a região conta com menos de 0,5% dos investimentos privados nessa tecnologia.

Novos setores e modelos de negócios

A adoção de IA é mais ampla no segmento de Enterprise Software & Services (39% da amostra), seguido por Commerce & Retail (12%), Healthcare (7%), Financial Services (7%) e Marketing (7%). Outros setores, como Educação, Agricultura, Infraestrutura, Entretenimento, Transporte e Logística, também viram inovações significativas com sua implementação ​​em vários aspectos.

Para tornar o estudo mais assertivo, a everis e a Endeavor dividiram as aplicações em Core IA e non-CORE IA, conforme a adoção da tecnologia em seu core business ou áreas de apoio. “Segundo esse critério, 40% dos empreendimentos latino-americanos são classificados como Core AI, por oferecerem a tecnologia como parte de sua proposta comercial, enquanto os outros 60% usam IA em seus processos produtivos para gerar eficiência”, informa Armelin.

Como observado no estudo anterior de 2018, as aplicações de IA mais comuns continuam sendo Business Intelligence & Analytics (20%), Automated Machine Learning (15%) e Text Analysis/Generation (11%). Das técnicas utilizadas, o uso mais abrangente é a classificação (54% dos casos), seguido da previsão (49%) e do processamento de linguagem natural (42%).

“A grande maioria das empresas latino-americanas (86%) têm desenvolvimento próprio de IA, baseado em frameworks de terceiros – com destaque para Google TensorFlow, Amazon Web Services, PyTorch e Microsoft Cognitive Toolkit. As demais utilizam IA adquirida. Isso mostra que o ecossistema colaborativo criado pelas big techs é um dos pilares da atual evolução de IA, grande número de startups e empreendedores dedicados a IA se tornam participantes e podem algum dia despertar o interesse das grandes empresas de tecnologia”, comenta Lluis Quiles Ardila, Diretor de Inteligência Artificial da everis Brasil.

Desafios

O estudo também verificou que os grandes desafios dos empreendedores de IA, apesar de todo seu progresso no mercado nos últimos anos, continuam sendo os mesmos:

  • Escassez de talentos: o fenômeno de brain drain, quando pesquisadores e professores deixam seus cargos para trabalhar nas big tech, desafia a geração de talentos nas universidades. A desconfiança em relação aos desenvolvedores locais e a precária retenção de talentos por empresas diante dos concorrentes das big tech continua atormentando o ecossistema.
  • Adoção da tecnologia: o desconhecimento, as incertezas e, às vezes, as expectativas pouco realistas sobre IA por parte dos clientes impedem a adoção abrangente.
  • Ausência de políticas públicas construtivas: os governos não investiram suficientemente no desenvolvimento de empreendedores nem na educação tecnológica. Em termos de proteção de dados e privacidade, não existe um modelo latino-americano baseado em princípios de confiança, segurança e direitos fundamentais em relação ao uso da IA.

Existem ainda outros desafios para o desenvolvimento e adoção de IA em maior escala, com a necessidade de avaliação constante das vantagens e desvantagens da automação.

“Hoje, há também uma atenção especial de proteção de dados versus conveniência, pois grandes quantidades de dados podem melhorar a precisão, mas isso pode afetar os direitos de privacidade das pessoas. Por outro lado, não considerar certo tipo de dados pode fazer com que o sistema seja mais justo, mas menos preciso”, comenta Quiles.

Perfil profissional

Além dos dados empresariais, em 2020, a everis e a Endeavor também analisaram em profundidade o capital humano do segmento de empreendedores e IA. Nessa imersão, constataram que um empreendedor típico de IA funda sua empresa aos 29 anos de idade, depois de cinco trabalhos e dois empreendimentos anteriores, o que garante a 79% deles experiência em cargos de diretoria e gerência. As carreiras mais cursadas por ele são Negócios (21%), Ciências da Computação (15%) e Engenharia (10%). Outro fato é que 41% fizeram pós-graduação.

Por outro lado, ao verificar o perfil dos 560 ex-colaboradores das empresas de IA para analisar os padrões de rotatividade do segmento, o estudo descobriu que os profissionais de IA têm, em média, 30 anos de idade, estudaram Engenharia de Sistemas na graduação, tiveram cinco cargos anteriores e trabalharam cerca de 13 meses em cada cargo, tendo entre as certificações mais populares as de programação (51%), big data (13%) e machine learning (11%).

“Infelizmente, o desequilíbrio de gênero é evidente e igualmente importante em ambos os casos – apenas 8% dos empreendedores e 15% dos ex-colaboradores são mulheres”, alerta Armelin.

De acordo com os parâmetros do nível de emprego gerado pelas empresas, o estudo catalogou ainda as 490 empresas de IA latino-americanas por porte: 44,5% delas (218) são micro, com no máximo 10 colaboradores; 35,3% são pequenas (173), tendo de 11 a 50 funcionários; 16,9% médias (83), com no máximo 250 profissionais; e só 3,3% são grandes (16), tendo mais de 250 pessoas na equipe.

Apesar de formar quase a metade da amostra, as 218 microempresas do ecossistema geram apenas 911 empregos (2% do total), enquanto as grandes são responsáveis pela maioria dos empregos (63%), com 23.909 colaboradores.

“Ao olhar para o futuro, a incerteza é a regra e a inovação precisa ser constante, pois o desenvolvimento da IA exige apoio colaborativo do mundo empresarial, do setor público e da sociedade civil”, diz Quiles, acrescentando a importância de se investir em Pesquisa e Desenvolvimento para gerar mais soluções inovadoras, enquanto os outros atores trabalham em conjunto para divulgar e sensibilizar o mercado sobre o potencial e os benefícios econômicos e sociais de IA.

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