“Brasil poderia estar muito acima do nível atual”, afirma Rodolpho Cardenuto

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11:51 am - 27 de abril de 2015
“Brasil poderia estar muito acima do nível atual”

Depois de quase quatros anos ocupando outros cargos na SAP, Rodolpho Cardenuto voltou a liderar as operações da companhia na América Latina. O cenário mudou. O Brasil, que quando ele deixou o posto passava por um momento econômico mais favorável, hoje enfrenta um ambiente mais desafiador. Países como Peru e Colômbia cresceram em importância e a Argentina, bem, essa continua com problemas, embora tenha um banco de talentos que ainda causa inveja aos vizinhos.

Mas falando de negócios, Cardenuto está animado com as possibilidades na região, frisa a grandeza e importância do Brasil para a SAP, mas lembra que o País precisa avançar, podendo até usar México e Colômbia como exemplos quando se fala em abertura do mercado. Na entrevista a seguir, o executivo falou também de concorrência e dos pilares que a fabricante tem focado para a AL.

IT Forum 365 – Como está a questão Brasil/Colômbia em termos de comparação de mercado, já que a Colômbia tem tido muito destaque e evoluindo em maturidade e abertura?

Rodolpho Cardenuto – A diferença de volume e tamanho é muito grande. O Brasil tem o maior mercado de TI da América Latina, principalmente se somar a parte de serviços em tecnologia. A Colômbia está se tornando o terceiro maior. A Argentina ficou um pouco para trás. Do ponto de vista de SAP é Brasil, México e Colômbia. E lá é um mercado que tem facilidade para adoção de novas tecnologias. O mercado mexicano é sincronizado com o norte-americano. O Brasil, por questões de taxa e importação, fica um pouco mais restrito. A Colômbia está mais parecida com México por ter poucas restrições e poucas barreiras, fica mais barato para o usuário.

ITF 365 – Isso envolve também uma questão de política quando você fala dessa facilidade? Podemos toma-los como exemplo?

Cardenuto – Quando compara o Brasil de hoje com o Brasil de dez anos atrás, teve melhoria. Mas comparando com Chile, México e Colômbia, que têm barreiras mais propícias à adoção, o Brasil está atrás. O México tem nível de barreira alfandegária muito baixa. O Brasil, com 200 milhões e pessoas deveria estar muito acima do nível atual.

ITF 365 – Em termos de foco, o que você tem trabalhado para a região, já que é uma área com muitas diferenças como você bem conhece?

Cardenuto – Primeiro entender situação e momento de cada um dos países. O Brasil continua sendo maior mercado, seguido por México e Colômbia; depois a distribuição é homogênea. Esses três maiores são foco. Do ponto de vista de indústria varia de país a país, mas varejo e finanças são importantes na região como um todo. A parte de recursos naturais, minas e energia, óleo e gás teve força, ainda que a commodity esteja em baixa. O setor público é uma área de foco também, mas na América Latina, com exceção da Colômbia, teve restrição. Esperamos que agora venha uma abertura.

ITF 365 – A Cristina Palmaka, presidente da SAP Brasil, mostrou perspectiva boa para o Brasil, especialmente pela necessidade de mais governança no governo…

Cardenuto – É o que apostamos porque tem que passar por nível de governança e transparência, e isso não se faz sem tecnologia.

ITF 365 – Tem dois pontos da estratégia da SAP que impactam a região, um deles é o S4Hana e depois opção pela computação em nuvem como primeira opção na venda. A região ainda tem desafios em relação à adoção de nuvem. Como você enxerga a SAP com essas estratégias fortes diante dos desafios regionais?

Cardenuto – O que estamos lançando é o S4Hana, que é reformulação do modelo de negócio. Não é só o fato de ser computação em memória que exige uma atualização do hardware, da infraestrutura, mas é uma reformulação dos modelos. Estava com um cliente que concorre internacionalmente e esse tipo de empresa precisa repensar o negócio, se não acompanha o nível de agressividade atual, fica para trás.

A tecnologia permite que as empresas ganhem em agressividade de modelos de negócio, mas é preciso investir. Há pouco tempo lançou-se Apple Watch e muitas companhias estão investindo para ter modelos de pagamento pelo relógio, quando um faz, vários outros vêm. Então, a região tem sim restrição, mas a tecnologia elimina barreiras, as empresas passam a poder concorrer no mesmo nível de qualquer outra empresa em âmbito global. Se não faz fica para trás, se faz, pode ser vir com algo disruptivo. Você quer ser o que sofre com a disrupção ou o que a traz? É isso que propomos na AL como um todo.

ITF 365 – Isso valeria para nuvem também?

Cardenuto – Sim, é uma questão de infraestrutura, alguns países terão infraestrutura mais adequada, mas ao final, essas empresas serão as que não ficarão obsoletas.

ITF 365 – Você citou a questão da disrupção e eu tenho um dado interessante de um estudo que fazemos com CIOs. Perguntamos se ele queria ser pioneiro na adoção de TI e as vezes me surpreende que alguns não queiram por medo de errar. Você acredita ser possível mudar esse modelo mental?

Cardenuto – Acho que sim, até porque se olhar o nível de consumo do brasileiro médio, somos naturalmente pioneiros. Em adoção de rede social, somo dos países que mais utilizam. Em adoção de tecnologias do ponto de vista pessoal somos pioneiros. No ambiente de trabalho temos uma postura mais conservadora, porque o ambiente de negócio é mais conservador, mas tendência é de pioneirismo. Basta ter ambiente de negócio mais favorável para que adoção aconteça mais facilmente.

ITF 365 – Nos últimos anos tem crescido concorrência SAP/Oracle, sobretudo depois da compra da Sybase que marcou a entrada em banco de dados, que ganha ainda mais força com a plataforma Hana. Essa concorrência é globalizada ou local?

Cardenuto – Concorrência em Américas é muito forte, até pela presença da Oracle ser forte. Na AL somos líderes em aplicações em todos mercados que atuamos, estamos investindo forte em aplicações de cloud, onde temos liderança forte nessas áreas, não sei se aumentou ou diminuiu, porque temos há muito tempo ambiente de coopetção, já que cooperamos em alguns clientes, mas hoje temos uma tecnologia de vanguarda para oferecer que é o banco de dados com Hana.

ITF 365 – Comparando a AL que você deixou com o ambiente atual, a região evoluiu ou está igual?

Cardenuto – Algumas coisas boas, temos base de funcionários da minha época, base de clientes em que trabalhei e que é muito leal. Mas o ambiente de negócios mudou muito, era mais favorável de crescimento. No Brasil mudou de ambiente de negócio de crescimento, quando chegamos a bater 7,5%, para algo negativo ou flat, o que coloca um desafio maior. Tivemos até 2010 um ambiente não muito acelerado, de 2010 a 2013 muito acelerado e agora voltamos à fase do pouco acelerado e até retração. A parte boa é que muitos dos nossos funcionários continuam e temos nível de lealdade de funcionário, parceiro e cliente para enfrentar ambiente que tem oportunidades e representa apenas uma fase.

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