ao³ anuncia R$ 150 mi em investimento e considera aquisições

Ex-operação brasileira da Sage aposta na evolução das tecnologias contábeis e no apoio aos escritórios de contabilidade para crescer

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11:08 am - 02 de junho de 2021
Jorge Santos Carneiro, ao³ Jorge Santos Carneiro, CEO do Grupo IOB (Foto: Divulgação)

Investimentos de R$ 150 milhões para evoluir soluções contábeis, incluindo usabilidade e novas funcionalidades, e para melhorar a experiência dos clientes – principalmente escritórios de contabilidade. Esse montante, anunciado nesta semana pela ao³, é todo oriundo de captação própria e considera a possiblidade de aquisições.

“Temos várias coisas no radar. Há vários tipos de aquisições possíveis. Pela nossa estratégia, que está bem definida, precisamos trazer aceleradores, e que podem ser novas tecnologias ou produtos completos, ou partes de produtos ou processos”, explica em entrevista exclusiva ao IT Forum o CEO e proprietário da ao³, Jorge Santos Carneiro. “Temos algumas hipóteses de aquisição e parceria e seguramente vamos anunciar nos próximos tempos.”

Desde abril de 2020, quando a operação brasileira da Sage foi comprada – e renomeada como ao³ – e reorganizada por Carneiro, a empresa começou a operar com resultados positivos mensais. A decisão natural, explica o CEO, foi tanto investir na progressão do negócio como modernizar as ofertas, pensando principalmente em novas tecnologias como a nuvem.

Também faz parte do esforço manter ativo um grande time de especialistas capazes de lidar com o complexo cenário fiscal e tributário brasileiro, que inclui entre outras coisas as entregas das novas fases do eSocial para enquadradas no Simples Nacional. O processo começou em maio e deve despender grande esforço por parte dos contabilistas e escritórios.

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“O investimento está acelerando nossas iniciativas de inovação e melhorias nos softwares, mas também estamos empenhados em levar informação de qualidade para ajudar o contador”, explica Carneiro, lembrando as mudanças frequentes de legislações nas esferas municipais, estaduais e federal. “É um desafio diário para esse profissional se manter atualizado.”

Pouco mais de oito meses atrás, no auge da pandemia, a empresa lançou um projeto chamado Guardião, cujo maior objetivo era prestar suporte e consultoria para os clientes da empresa de forma individualizada, resolvendo dúvidas e dando orientações sobre questões fiscais, contábeis, folha de pagamento e eSocial. O investimento anunciado também servirá para expandir o projeto para escritórios de contabilidade clientes da ao³ – que a empresa contabiliza atualmente como 20 mil, além de 100 mil micro, pequenas e médias empresas.

“É um trabalho de mudança de cultura, porque estamos está saindo de um cenário com tecnologias mais legadas para um mundo de APIs e cloud”, explica Daniel Peralles, head de tecnologia da ao³. No mercado de escritórios de contabilidade isso é um desafio, acredita o executivo, tanto pela heterogeneidade como pela necessidade de não afetar o cotidiano dos atores de uma atividade tão complexa.

Daniel Peralles, ao³

Daniel Peralles, head de tecnologia da ao³ (Foto: Divulgação)

Segundo Peralles, os principais produtos do portfólio da empresa estão sendo levados para a nuvem da AWS usando processos de DevSecOps. “Uma coisa é falar de DevSecOps em uma startup que nasceu na nuvem e outra é o nosso caso. Precisamos fazer uma série de trabalhos tecnológicos”, diz o head, o que inclui mudanças de arquitetura para microsserviços, entre outras operações. “Nossa transformação vai gradual e muito humanizada.”

Outra parte do investimento deve ir para capacitação e contratação de funcionários. Desde o início da pandemia a ao³ contratou 200 trabalhadores nas áreas comercial, financeira, comunicação e, principalmente, tecnologia e atendimento. Também abriu 158 vagas para analistas de suporte técnico com foco em eSocial e folha de pagamento, entre outros. No total a empresa tem mais de 1.000 colaboradores.

Sob nova direção, em plena pandemia

Até abril de 2020 as operações da ao³ pertenciam ao Grupo Sage, multinacional britânico conhecido pelos softwares empresariais. A operação brasileira da Sage foi comprada por Carneiro por R$ 57 milhões (ou £ 10 milhões). O executivo português era, naquele momento, o presidente da Sage Brasil.

“Eu já conhecia a operação, e achava que em outro contexto e com a possibilidade de investir em produtos e necessidades dos clientes locais, poderia ter um recurso interessante”, diz Carneiro. “Entrei na corrida e acabei por comprar a operação da Sage no Brasil no fim de março do ano passado.”

O executivo atuou durante mais de 20 anos na Sage, tendo liderado a operação portuguesa e ocupado posto no conselho de administração da operação espanhola antes de assumir a Sage Brasil. Após mudanças de direcionamento, a empresa decidiu deixar mercados cuja complexidade exigia portfólios maiores e específicos.

“Naquele momento a Sage decidiu que, ao invés de ter tantos produtos locais, teria menos [soluções], mas mais globais. Ela queria estar focada em grandes produtos que funcionem em grandes países”, explica Carneiro, o que excluía outros mercados além do Brasil, como Polônia e Austrália, entre outros. “[São países que] deixaram de ser interessantes porque estão muito fora dessa possibilidade da globalização. Localizar produtos para o Brasil é muito difícil.”

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Apesar do susto de assumir a operação brasileira da Sage logo no início da pandemia global, Carneiro diz que o isolamento social e o teletrabalho forçado tiveram efeitos positivos na operação da ao³ e facilitaram algumas mudanças, principalmente de cultura corporativa herdada de uma multinacional.

“A sensação foi primeiro que eu acreditava muito no negócio, que era uma oportunidade grande. E o fato de conhecer a equipe que estava comigo, então eu fiz a compra”, lembra o executivo. “Eu sabia que poderia contar com pessoas já conhecedoras [do negócio], e isso foi muito relevante para ter coragem de seguir em circunstâncias tão adversas.”

Outro ponto que deu confiança no negócio foi a essencialidade dos produtos de gestão fiscal para as organizações. Mesmo em situações de crise, diz Carneiro, as organizações continuam precisando de softwares contábeis para faturar, emitir notas fiscais, entre outras operações. E não restou alternativa que não ajudar os clientes a sobrevierem, o que incluiu serviços e soluções gratuitas – como o ajato³, de gestão de pedidos, e o abordo³, para admissão digital de funcionários.

Apesar de já operar com lucro, Carneiro diz que a expectativa de crescimento das vendas ainda é “uma preocupação menor”. O objetivo atual da empresa é lançar com sucessos novas frentes de serviços, ampliar o portfólio e entregar mais valor aos clientes atuais.

“Tem sido um ano sobretudo animado, de muito entusiasmo”, diz Carneiro a respeito do primeiro ano de ao³, que vê na complexidade tributária e fiscal brasileira um caminho de oportunidades. “Uma coisa está conectada com outra: se não houvesse dificuldades não haveria oportunidade. Há muita coisa a fazer.”

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