Análise de dados vira ferramenta para municípios preverem ameaças climáticas

Prefeituras de Salvador e Recife utilizam consultoria da WayCarbon para criar planos de ação de sustentabilidade

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5:00 pm - 17 de março de 2022
ESG tecnologia sustentabilidade Adobe Stock

Entender possíveis riscos climáticos e criar um plano de ação é cada vez mais importante para evitar catástrofes, aumentar produtividade e até entender qual o melhor local para certos investimentos. Esse é um dos focos de algumas prefeituras clientes da Way Carbon, que adotaram tecnologias de analytics para voltadas para sustentabilidade, gestão de ativos ambientais e desenvolvimento de estratégias de ecoeficiência.

A empresa tem mais de 800 projetos em empresas brasileiras dos setores público e privado. A Prefeitura de Salvador é um desses cases, com um plano de ação que começou em janeiro de 2020 até novembro do mesmo ano.

“A empresa fez um inventário de efeito de gás estufa, análise de riscos climático e a partir daí a gente fez uma coleta de ações com a sociedade civil e outras secretarias. A partir disso, fizemos uma proposta de ações. Existe um momento de diagnósticos e depois as ações que a cidade tem que fazer até 2049 para se adaptar as mudanças do clima e para diminuir a emissão de gases na cidade”, explica Daniela Guarieiro, atual consultora sênior da FGV mas, que na época respondia como gerente de resiliência da Prefeitura de Salvador e estava à frente do projeto.

Ao olhar os dados estruturados, Daniela explica que a prefeitura pôde descobrir algumas informações que não tinha acesso, se tornando o inventário mais completo que já tinha sido feito na cidade. “A análise de riscos climáticos foi importante para entender de forma geolocalizada os riscos que a cidade tem. Se a gente não tivesse feito esse trabalho em um curto período de tempo (permitido pelo uso da consultoria) e com expertise, não teríamos acesso a determinados estudos”, diz ela.

O compartilhamento de dados, inclusive, não é um processo burocrático – apesar de serem dados governamentais. A especialista explica que, como o processo é feito por meio de uma licitação, é natural que os dados sejam enviados. A maior dificuldade, porém, foi a falta dos dados. Muitos deles eram inexistentes ou muito desatualizados. Para a análise de riscos climáticos, por exemplo, foram usadas informações do Censo. Porém, como o Censo tinha sido em 2010, muitos dos números eram desatualizados.

Para resolver a situação, a WayCarbon diminuiu o peso do Censo na hora de considerar uma área de risco e considerou mapas de ocorrências (como deslizamentos ou inundações), diminuindo as distorções causadas pela desatualização.

Melina Amoni, gerente de risco climático e adaptação da WayCarbon, complementa dizendo que, além dos dados enviados pela prefeitura, a empresa possui uma base de dados públicos do Brasil e do mundo para comparar as análises.

“Nós partimos da combinação de diferentes camadas geoespecializadas que dizem respeito à variabilidade climática, modelos e cenários do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change, na sigla em inglês), combinamos com outra camada chamada de exposição (o que está exposto a determinado risco) e, nessa exposição, é importante saber a exata localização e outras variáveis (que entendemos como sensibilidade que pode favorecer a ocorrência do risco) e a capacidade de resposta. A análise funciona como uma álgebra de mapas – a gente tem a equação, temos alguns algoritmos que desenvolvemos principalmente nessas ameaças e chegamos no score de risco”, revela a especialista.

A geolocalização é tão importante que, segundo Melina, quando são trabalhadas escalas intraurbanas, até o bairro é importante para a análise correta. Quando trabalhadas cidades completas, ela diz, a WayCarbon entrega uma hierarquização do bairro para auxiliar os gestores em seus recursos financeiros.

Os resultados da consultoria também foram percebidos na Prefeitura de Recife. Carlos Ribeiro, secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade do município, afirmou que o mapeamento e os instrumentos recepcionados no projeto contribuíram para o plano de adaptação de mudanças climáticas.

“A política de mudanças climáticas também previu outro comitê – GEclima e toda a abertura para a sociedade e setor privado – associações, academia, iniciativa privada. Com isso, as mesmas temáticas são usadas para a troca de informações”, comenta ele. O plano da Prefeitura de Recife tem quatro eixos: saneamento, mobilidade, energia e resiliência. A meta é a neutralização de carbono em 2050 com uma etapa mediana em 2037.

Além da consultoria

Após um financiamento do CNPQ e da Fapemig (Fapesp de Minas Gerais), em 2013, a WayCarbon saiu de uma situação apenas de consultoria e começou a desenvolver tecnologias para as análises climáticas. Agora, com um investimento próprio, a empresa desenvolveu uma plataforma que oferecida na modalidade SaaS para distribuir os dados de mudança de clima para empresas privadas e públicas.

“A ideia não é oferecer os modelos como serviço, mas uma assinatura aos dados. Nós conseguimos calcular hoje a vulnerabilidade de uma região geográfica muito grande. Temos uma base profunda de toda a América Latina em seis ameaças principais: deslizamento, incêndios florestais, seca, onda de calor, tempestade, inundação”, comenta Breno Rates, sócio-gerente da companhia.

Ele explica que o grande foco da WayCarbon é atingir instituições que tenham um número muito grande de ativos fixos (como fazendas, grandes infraestruturas e parques fabris) dispersos geograficamente. Com a ferramenta, as empresas conseguem quantificar e calcular um score de risco de mudança de clima para esse portfólio de ativos, mostrando como o risco agregado altera ao longo do tempo e como gerenciar esse risco.

Mas os especialistas frisam: a ferramenta deve ser usada em longo prazo e não, por exemplo, para entender as mudanças climáticas para a próxima safra de um agronegócio. “A análise tendencial de mudança de clima é feito para as próximas décadas e chega até 2100. A partir de cenários de concentração de efeito estufa e de estratégias socioeconômicas globais, mostramos qual será a variabilidade ou a sensibilidade do clima global de acordo com a tomada de decisões”, diz Melina.

Breno complementa explicando que o acesso à ferramenta não oferece ao usuário toda a base de dados da WayCarbon. A partir das informações colocadas pelo usuário (como geolocalização e tipo de empresa), ele tem acesso ao score de risco para a localidade cadastrada. “A gente também oferece benchmark geográfico do lugar onde a companhia está contra uma referência. Se 98% do território nacional cai em uma classificação de risco muito baixo e a localidade do usuário tem alto risco, tem algo errado no ativo escolhido. Então o cliente toma uma medida para diminuir a sensibilidade”.

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