Águas de São Pedro: por dentro da primeira cidade inteligente do Brasil

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7:05 pm - 18 de agosto de 2015
Águas de São Pedro: por dentro da primeira cidade inteligente do Brasil
Modificar modelos de gestão urbana para assegurar mobilidade, sustentabilidade, eficiência dos recursos e governança em prol da qualidade de vida dos cidadãos. Essa é a proposta das smart cities, ou cidades inteligentes. E é nesse patamar que Águas de São Pedro, interior de São Paulo, almeja chegar.

A 187 quilômetros de distância da capital paulista e com 3 mil habitantes, o local foi escolhido para ser a primeira cidade digital do Brasil.

Seu pequeno porte foi uma das características que a fizeram ser selecionada, mas há outras particularidades que a tornaram perfeita para o projeto piloto: sua urbanização e ter um dos melhores IDH do País foram fatores decisivos, como explica Eduardo Iha, head de Smart Cities & IoT Innovation da Telefônica Vivo, empresa responsável pelo investimento inicial e pelas modificações na cidade, ao lado de empresas como Huawei, além da Ericsson, Datanex, ISPM, Bull, Gol Mobile, Fundação Vanzolini, Khan Academy, Programaê, Plinks e WeClass.

“A ideia inicial era digitalizar a cidade. Buscamos as tecnologias, identificamos as infraestruturas que precisariam ser melhoradas e demos voz à população”, explica e executivo.

O projeto começou há pouco mais de um ano, quando a empresa fez a uma proposta com a prefeitura da cidade para ampliar a oferta tecnológica do local. Com a parceria selada, e R$ 2 milhões de investimento, a Telefônica Vivo iniciou a substituição da antiga central telefônica por cinco armários de fibra óptica compactos em diferentes pontos do município. De acordo com Iha, depois da implantação da fibra, a velocidade de conexão aumentou para até 25 Mbps, contra os 10 Mbps disponíveis anteriormente. 

“Em menos de quatro meses aumentamos a planta de banda larga e da velocidade média disponível. Um quarto dos clientes realizou upgrade de 4 para 9 megas e a base aumentou 16%”, disse Iha. Outro ponto importante destacado pelo executivo é que, por conta da reestruturação, os prédios das centrais móvel e fixa passaram a ocupar menos espaço e, consequentemente, gastar menos energia. “Melhora na qualidade de serviço e redução de 23% do consumo de energia só fazendo essa troca”, completa.

Das tecnologias instaladas para tornar a cidade de fato inteligente, a primeira delas foi com relação ao estacionamento – e esse ponto inclui vagas espalhadas pelas ruas de Águas de São Pedro. Para cada vaga demarcada com tinta no asfalto, há um sensor equipado com uma pequena lâmpada que fica piscando continuamente. Se estiver verde, significa que a vaga está livre, caso contrário, ela acenderá uma luz vermelha.

Esses sensores são conectados ao aplicativo “Onde Parar”, que mostra exatamente os pontos da cidade que estão liberados para estacionar. “Isso facilitou muito para a população, porque antes de o morador sair da sua residência, ele pode verificar se há vaga na frente do correio, por exemplo, ou outro lugar que ele queira ir”, explica Fábio Pontes, secretário municipal de turismo de Águas de São Pedro, complementando que os sensores são alimentados com energia solar.

Pontes também conta que, com o aplicativo, o munícipe pode optar ainda se a melhor forma de se locomover é a pé ou com bicicleta, no caso de não haver mais vagas disponíveis na rua, o que reduz também a emissão de gás carbônico, opina.

Já no Parque das Águas foram implantados sensores nas lâmpadas de nove postes existentes no local. Dessa forma, explica Pontes, é possível saber o tempo de vida de cada lâmpada, se ela irá queimar em breve. “Também é possível verificar a temperatura. Afinal, quanto mais quente mais rápido ela queima”, diz.

As lâmpadas também são equipadas com um dimer para que a luz possa ser controlada de acordo com o uso, visando a economia de energia. “Se passar alguém embaixo de um poste, há um sensor de presença que faz com que a lâmpada volte a funcionar 100%”, explica. “Às 6 da manhã elas se apagam por completo e esse controle nos proporcionou 35% de redução de energia”, conta .

Na parte de segurança, a cidade conta com a ajuda da infraestrutura fornecida pela Huawei. De acordo com o secretário, todas as entradas possuem 15 câmeras giratórias de monitoramento de amplo alcance, com visão de 360 graus, localizadas no centro da cidade e em pontos estratégicos. 
Elas gravam durante três meses consecutivos e também possuem sensores capazes de identificar se um carro entrou na faixa da contramão, por exemplo. “Nesse caso, ela focaliza no veículo infrator e grava a placa por dez segundos”, conta o executivo.

Saúde e Educação
Em saúde, a cidade está terminando de cadastrar a biometria dos munícipes de Águas de São Pedro, a fim de facilitar a utilização dos serviços digitais de saúde. “Antigamente, os prontuários eram todos em papel e hoje queremos deixar tudo digitalizado”, afirma o secretário.

Pode-se ainda realizar o agendamento de consultas on-line. Por meio do Agendamento Web, os moradores podem marcar consultas com um dos médicos de 12 especialidades da Clínica de Especialidades da cidade.

A Telefônica Vivo também foi responsável por digitalizar o sistema de controle de dengue para os agentes de Vigilância Sanitária, da Secretaria de Saúde do município. Uma aplicação foi embarcada nos tablets usados pelos agentes, permitindo localizar e informar pontos de atenção e focos de contaminação. Nos dispositivos móveis são utilizados formulários que, até então, eram preenchidos manualmente, “o que eliminou o erro humano”, afirma Pontes.

Outro item colocado em prática no controle da doença foi a implementação do aplicativo “Águas sem dengue”, que não estava no projeto inicial, conta. A ideia é ajudar os agentes da vigilância sanitária com relação à identificação de focos da dengue. 

“Já tivemos bons resultados e registramos queda de 86 para 28 casos”, conta o secretário, explicando que os moradores são os principais agentes nessa luta, identificando possíveis focos da doença e tirando uma foto que já é enviada com a localização diretamente para o sistema de saúde. 

“O usuário recebe um protocolo e pode cobrar posteriormente se o problema foi resolvido ou não”, afirma Pontes. “Isso é importante para a prefeitura. Qualquer tipo de app ou tecnologia voltada para a população é preciso dar uma resposta ao cidadão. Caso contrário é melhor não ter, porque será um tiro no pé.”

Já na parte de educação, a cidade também adotou a digitalização nas escolas na rede municipal. Seiscentos alunos receberam tablets para ajudar no aprendizado. O primeiro impacto foi um grande impacto. “Os professores se assustaram em um primeiro momento, porque não sabiam como usar essa tecnologia. A Fundação Telefônica, juntamente com o Instituto Vanzolini, treinaram os professores para adequação”, conta.

Hoje, são ligados 150 tablets simultaneamente. “As crianças ficaram muito mais atentas nas aulas e o resultado foi zero evasão”, afirma o secretário.

A Telefônica Vivo também colocou à disposição das escolas envolvidas no projeto os aplicativos “Nuvem de Livros” e “Nuvem do Jornaleiro”, que permitem que alunos tenham acesso a livros, conteúdos didáticos interativos, vídeos em meio digital, revistas, jornais e agências de notícias do Brasil e de mais de 150 países.

Próximos passos
Apesar das melhorias que já foram implementadas, ainda há muito a se fazer na cidade. A parte de iluminação, por exemplo, ainda está muito aquém do esperado, se comparada com o projeto também desenvolvido em 2010 pela Telefônica Vivo em Santander, na Espanha, que contou com a instalação de mais de 20 mil sensores para serviços ligados a estacionamentos, qualidade do ar, monitoramento do tráfego e iluminação.
De acordo com Pontes, já está sendo feita a interligação de todos os sistemas para que a iluminação também tenha conexão com as câmeras da cidade. Também há um projeto para que haja Wi-Fi público disponível no município.
Outro ponto que o secretário considera importante e que está nos planos é a parte de transparência de dados. “Há informações que são de interesse público, como por exemplo mostrar o nível dos reservatórios de água da cidade, bem como a qualidade da água”, afirma.
Para a educação, uma das implementações que já estão sendo feitas é com relação ao aproveitamento do aluno nas escolas. Os pais poderão saber quando a criança chegar à aula, porque serão avisados via SMS, bem como quando for necessário informar sobre advertências.
Atração internacional
Por conta do projeto, Águas de São Pedro atraiu o interesse de administradores de diversos outros municípios – 70 prefeitos e gestores, para ser exato, de acordo com Pontes. Os principais atrativos, de acordo com o secretário, foram eficiência e economia.
O secretário conta que já palestrou em diversos locais para contar como está sendo a experiência, inclusive foi convidado para ir até a França.

*A jornalista viajou à Águas de São Pedro a convite da Huawei Brasil.

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