Adriano Tchen: o mundo corporativo só tende a ganhar com as startups
Para o CIO da Alelo, startups servem de inspiração para organizações que buscam inovar. Agilidade e foco no cliente orientam a transformação da Alelo

Curioso lembrar que foi um universo analógico que fez Adriano Tchen, CIO da Alelo, a buscar o mundo digital que veio a abraçar sua profissão. Foi nas bancas de jornal em Santos, sua cidade natal, onde Tchen frequentava religiosamente para comprar gibis – afinal, os colecionava – que ele se deparou com alguns dos primeiros títulos de revistas de programação. “Eu era moleque”, lembra, “e começaram a aparecer revistas que ensinava a construir código, criar calendários e a fazer imagens em computador. E tudo aquilo me despertou e fui atrás”, conta em entrevista à CIO Brasil. A insistência rendeu um computador pessoal dado pelo pai. “Não era fácil comprar computador naquela época”, recorda. “Mas foi aí que começou uma paixão”.
Formado em Ciências da Computação, com MBA em Nova Economia e Gestão de Negócios, Tchen começou a programar com 14 anos. E desde a adolescência, com 16 anos, dava aulas de computação. Aos 16, deu início aos primeiros trabalhos em desenvolvimento de software. As primeiras oportunidades profissionais, conta ele, também incluem passagens por agência de propaganda, na indústria siderúrgica e até mesmo no Ibope.
Hoje, aos 43 anos, Tchen está a frente da área de tecnologia da Alelo, bandeira especializada em benefícios, incentivos e gestão de despesas corporativas. O executivo assumiu a posição no final de 2018 com a missão de conduzir a jornada de transformação digital da companhia. Antes de ir para a Alelo, atuou como executivo de TI na DXC Technology e mergulhou no emergente mundo das fintechs, trabalhando na Fidelity e na Hub Fintech.
Tchen diz ter encontrado no universo dos meios de pagamento uma forma de conciliar sua paixão por tecnologia a um setor que está em constante inovação. “Faz com que o profissional sempre esteja conectado com as novidades”, pontua. Ao mesmo tempo, diz ele, ter a bagagem das startups o ajudou a ter outro olhar sobre o mundo corporativo. “Esse mundo de pensar mais ágil, essa urgência de que empresas precisam ser mais ágeis, vem desse histórico”, explica.
Para além da agilidade das startups, Tchen destaca algo que tem tomado a linha de frente das corporações: a experiência do usuário como ponto de partida para o desenvolvimento do produto ou serviço. “Nada é feito sem pensar no valor da experiência do cliente. Acho que esse é o maior aprendizado dessa vivência em fintechs. E é algo que, aqui, a gente vem aplicando no dia a dia”, conta.
Transformação digital: de dentro para fora
A transformação digital está na pauta dos CIOs e não é de hoje. Mas apesar de o assunto não ter mais o ar de frescor, há na jornada da digitalização uma série de desafios – uns mais novos e outros mais enraizados. E boa parte destes tem em seu epicentro a cultura das organizações. “Estamos trabalhando para mudar a mentalidade da Alelo. Na forma de trabalho, buscando uma organização que entrega coisas mais rápidas e consiga testar conceitos para colher mais rapidamente a resposta do meu cliente. Isso faz com que internamente a gente venha mudando os métodos e organização do nosso trabalho”, destaca Tchen.
Mas não dá para falar sobre transformação cultural e sua eficiência sem falar em pessoas. Só na área da TI da Alelo há cerca de 120 colaboradores. Aspectos de liderança atravessam diariamente as decisões do CIO. “Como líder de tecnologia, da mesma forma que a gente busca o encantamento do cliente, eu tenho que buscar o encantamento do profissional que entrega valor como produto. E a forma como eu engajo é dar clareza para ele da importância do trabalho dele, para que ele comece com o propósito claro no dia a dia”, explica. Há desafios, claro, incluindo o geracional. “Hoje a gente vive um mundo onde há profissionais de diversas gerações e isso é uma complexidade”, reflete. Da mesma forma, buscar profissionais engajados com o objetivo estratégico da companhia.
Como se preparar para a disrupção digital?
Para não ser superado pelas inovações tecnológicas, profissionais precisam estar em constante renovação. Tchen busca se atualizar por meio de eventos em parcerias com clientes e a aproximação com startups, segundo ele, é valiosa. “Estar sincronizado com empresas que já nasceram digital”, pontua.
Há ainda uma busca acadêmica, mais teórica. Recentemente, fez, na França, um curso dedicado à transformação digital. “O curso tinha um viés mais prático e revisa empresas que passaram por esse processo de transformação digital. Porque há dois tipos de empresas. Aquelas que estão se transformando e aquelas que já nasceram digitais. Tento aprender com um pouco desses dois mundos. Olhar a teoria, mas também ir atrás de cases que já passaram por isso e acompanhar o ecossistema de startups faz com que a gente tire muitos aprendizados”, conta.