5G e suas implicações socioeconômicas no Brasil

A rede móvel de 5ª geração traz muitos benefícios, mas seu atraso na implantação pode trazer grandes prejuízos à sociedade

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2:30 pm - 26 de janeiro de 2022

Se a rede móvel 4G mudou a vida das pessoas, no sentido de aumentar a velocidade de acesso, o 5G irá revolucionar a sociedade e as indústrias em seus meios produtivos. A palavra revolução é muito adequada ao 5G, pois não se trata apenas de aumento de velocidade. 

Para entender o impacto que essa tecnologia móvel irá causar, é preciso conhecer algumas características dela. O 5G proporciona uma melhoria significativa na largura de banda (cerca de 20 vezes mais do que o 4G), aumento de até 100 vezes no número de dispositivos conectados, redução de até 90% no consumo de energia e uma latência 10 vezes menor, ou seja, o tempo gasto do momento em que as informações são enviadas de um dispositivo até que possam ser usadas pelo destinatário. 

Dessa forma, com esse salto enorme em recursos, o 5G não é apenas uma rede móvel de próxima geração, mas também a capacitadora de outras tecnologias que irão impulsionar novos modelos de negócios. Podemos citar alguns casos de uso com esses recursos.  

Por exemplo, a banda larga melhorada permite conexões móveis estáveis com taxas de dados máximas muito altas em áreas de elevada densidade populacional, tanto em ambientes internos quanto externos. Serviços críticos poderão ser implementados com precisão máxima. 

Carros autônomos, que exigem tempo de resposta menor do que 1 milissegundo para não causarem acidentes; cirurgias remotas que precisam de alta disponibilidade de rede, para não haver interrupção. 

No caso de dispositivos IoT (Internet of Things ou Internet das Coisas, em português), será possível usar dispositivos de baixo consumo de energia em grande quantidade, como em infraestrutura de cidades inteligentes e robotização de processos de manufatura em empresas. Nas áreas rurais, no agronegócio, é possível usar drones para mensurar terrenos, passar essas informações para outras máquinas que ajustam o consumo de água para não haver desperdício e também controlar o uso indiscriminado de agrotóxicos. 

Portanto, o 5G permitirá oferecer uma gama de serviços diferenciados que abrem a porta para a inovação e, assim, gerar um grande avanço para o país, tanto na economia, quanto na qualidade de vida das pessoas, se pensarmos nas possibilidades dentro de campos como a medicina, educação, segurança e serviços públicos em geral. 

Como vimos, a mudança que o 5G oferece é radical, como nunca houve em outras gerações da rede celular. A transformação nas relações de trabalho, entre empresas e mesmo entre países também será de grande impacto. 

Neste sentido, o 5G trará a democratização das comunicações móveis avançadas para promover modelos de negócios baseados em uma nova geração de serviços focados em novos setores: casa conectada, lugares inteligentes, logística avançada, mobilidade urbana conectada, e outras soluções, tais como gestão remota de ativos e gestão inteligente de resíduos. 

No Brasil, esta nova geração de redes móveis tornará possível estender a conectividade a áreas remotas sem cobertura de banda larga, o que beneficiará a população, especialmente nas áreas rurais. Portanto, fica claro que falhas ou atrasos na implantação do 5G causam um impacto social e econômico muito grande. 

A tecnologia 5G é muito mais abrangente do que a quarta geração e os países percebem seu valor estratégico, por isso, é preciso agilidade na implantação. Na revolução industrial, a mecanização ajudava a produtividade dos trabalhadores e, mesmo substituindo algumas profissões, o processo era mais lento, permitindo o aprendizado de novas tecnologias e assim seguir as tendências mundiais sem muita perda. 

Mas, na indústria 4.0, esse cenário é totalmente diferente: as mudanças foram rápidas de tal forma, que a tecnologia não está apenas ajudando na produtividade, mas sim, realizando muitos trabalhos estratégicos antes feitos por humanos. 

Tendo isso em mente, nenhuma empresa ou país quer ficar para trás. Por esse motivo, é preciso pensar em parcerias entre governos e empresas para buscar soluções para a implantação do 5G mais rapidamente. Não falo apenas em infraestrutura de antenas e cabos de fibra óptica, isso é o básico a ser feito. 

Apesar do fato do Brasil ter dimensões continentais, isso não pode mais ser impedimento em uma era em que tudo é resolvido pela internet. Desde o pagamento de contas, passando por serviços públicos, até a realização de aplicações críticas dentro de empresas e órgãos públicos.  

Para se ter uma ideia em valores, um estudo feito pela consultoria Telecom Advisory, chamado de “O Valor da Transformação Digital por meio da Expansão Móvel na América Latina”, em análises de custo-benefício de projetos de investimento em infraestrutura, estima-se que cada mês de atraso no início da operação do 5G, estaria associada a uma perda de US$ 534,79 milhões (cerca de R$ 2,8 bilhões) por mês em termos de valor de crescimento do PIB. 

O Brasil tem condições de executar um bom plano de desenvolvimento do 5G. O País é o primeiro da América Latina a largar na frente, já com o leilão de frequências realizado. Pelo edital do leilão, as empresas vencedoras estão comprometidas a fazer uma série de investimentos. Por exemplo, atender com tecnologia 4G ou superior a áreas pouco ou não servidas, com mais de 600 habitantes. É o caso do Estado do Amazonas, um dos locais mais carentes digitalmente. E, para os municípios com mais de 30 mil habitantes, estão previstos compromissos de atendimento com tecnologia 5G. 

Assim, as pessoas não precisarão mais deslocar-se por uma semana utilizando embarcações movidas a combustível fóssil apenas para realizar uma consulta médica, tentar vender sua produção ou receber o pagamento de uma pensão. Elas ganharão tempo, renda e a região será mais sustentável. 

Outro ponto forte do edital é o investimento na cobertura de 31.417 mil quilômetros de rodovias federais com sinal de internet móvel de quarta geração (4G) ou superior. Portanto, já temos um bom início. Mas os Municípios e Estados precisam se unir nesse avanço para não perder velocidade nesse movimento. 

*Marcelo Bernardino, Country Manager da Indra e da Minsait no Brasil

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