“10 anos em 3 meses”: tecnologia transforma e democratiza acesso à saúde

Especialistas debatem tendências de tecnologia na saúde para combater desigualdades sociais

Author Photo
1:28 pm - 12 de junho de 2020

Não é novidade que o mundo está enfrentando uma das maiores crises de saúde da história. A luta no combate ao coronavírus, iniciada há sete meses, transformou-se também em um gigante desafio econômico e de adaptação para as empresas, que hoje têm que lidar com uma digitalização para a qual, muitas vezes, não estavam preparadas.

A plenária de encerramento do primeiro dia de IT Forum@Home, com o tema “O papel da tecnologia em tempos difíceis”, recebeu especialistas para debaterem o assunto. Participaram João Bosco de Oliveira, Médico-cientista, CEO na Genomika Diagnostics; Silvio Meira, cientista chefe na The Digital Strategy Company e professor na Cesar School, e Tânia Cosentino, presidente da Microsoft Brasil. O debate foi mediado por Vitor Cavalcanti, sócio-diretor da IT Mídia.

“A Covid-19 expôs nossas deficiências”

Para João Bosco, a pandemia trouxe à tona o quão analógica é a experiência em saúde hoje no Brasil, além de expor a necessidade urgente de digitalização de processos neste setor. A jornada de uma consulta médica tem raras intervenções tecnológicas. Na maioria das vezes, as solicitações para exames, resultados e receitas ainda são em papel. “A telemedicina foi o que sofreu a maior pressão para ser implementada durante a pandemia. É necessária, mas não tinha sido nem regulamentada. Agora foi aprovada de última hora e forçou muita gente a utilizar, mas ainda não é feito em escala no Brasil“, lembra o CEO.

A demanda por soluções em telemedicina mostra a necessidade do mercado. Plataformas como PlusCare e Amwell, por exemplo, registraram crescimento de 70% e 158% durante este período, respectivamente. “É uma demanda interessante, principalmente para o Brasil, um país de dimensão continental, porque temos dificuldade de distribuição de profissionais qualificado em regiões do Brasil, especialmente as mais afastadas de grandes centros.”

A utilização de Inteligência Artificial na saúde vai além da democratização de acesso a tratamento médico. Robôs de assistência em cirurgias podem poupar até US$40 bilhões. Enfermeiros virtuais, por sua vez, podem ajudar a economizar até US$20 bilhões na área da saúde. “Inteligência artificial não vai substituir o médico, mas o médico que não souber usar IA vai ser substituído“, explica.

Um olhar para o futuro

O Brasil é um dos países que registra o maior número de infectados por Covid-19 hoje, juntamente com Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, Índia e Espanha. “Já são mais de 7 milhões de casos de Covid-19 no mundo. Agora é hora de olhar para frente e discutir tecnologias na pandemia”, diz Silvio Meira.

Silvio convida o público a imaginar o que pode mudar a partir de agora, em um cenário pós-coronavírus, e repensar estratégias e tecnologias que serão necessárias para um novo convívio em sociedade e experiências de consumo. “Será que sairão de cena os touchscreens, por questões sanitárias? Será que perderemos o hábito de tocar em aparelhos públicos? Pode ser que os cardápios saiam do papel e entrem de vez no meu celular”, questiona.

“No Brasil, os supermercados de alimentos e bebidas darão lugar à revolução online dos últimos dois meses? Houve um crescimento de 295% em alimentos e bebidas no e-commerce em abril e 334% em maio. Não acredito que o supermercado físico vá acabar, mas quem não conseguir articular o físico, o digital e o social, vai desaparecer“, diz Silvio.

Para ele, é hora das marcas repensarem a relações de produtos e serviços com o novo consumidor. “Em abril, os pedidos em e-commerce cresceram 133% e a receita subiu 127% em maio. Ainda este ano também entra em vigor o PIX. O que a gente chama de TED hoje vai ser feito em tempo real, sete dias por semana, 24 horas. Isso vai ser o fim do dinheiro físico“, alerta. “Um mundo físico, digital e social. Se você não articular as três facetas, você tem problema imediato no seu mercado. Isso depende de dados, informação e a relação entre eles.”

Dez anos em três meses

Tânia, presidente da Microsoft Brasil, falou sobre os esforços da companhia em acompanhar seus clientes na mudança cultural repentina causada pela pandemia. “Um pouco antes da covid-19 apresentamos dados estatísticos, e 86% dos CIOs diziam que tinham transformação digital na agenda, mas menos de 20% diziam que viam benefícios nela. Como provedores de tecnologia, víamos medo dos clientes na adoção da transformação digital”, conta a executiva.

Para ela, a base dessa transformação é, essencialmente, na cultura da empresa. “Trabalhamos a crise em três fases: resposta à emergência, retomada econômica e reimaginar o futuro”, diz. “Precisamos desmistificar o problema cultural, mostrando que é possível acelerar [a transformação digital]. Com o salto do e-commerce nos últimos meses, vemos que as empresas que tinham zero maturidade digital, hoje veem seu faturamento cair para zero também. Estamos vivendo dez anos em três meses! A tecnologia está aí e é preciso abraça-la. É a única forma de imaginarmos um mundo menos desigual“, completa.


Para acompanhar outros conteúdos que já passaram pelo evento, acesse aqui. Continue acompanhando o IT Forum 365 para a cobertura completa do IT Forum@Home.

Newsletter de tecnologia para você

Os melhores conteúdos do IT Forum na sua caixa de entrada.