No mundo da hiperautomação, correr é preciso

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8:42 pm - 12 de dezembro de 2019
hiperautomação

De um lado, empresas apostam forte na automação de processos, descartando papeis repetitivos que, no mundo digital, são vistos como desnecessários. Do outro, pessoas que assistem a essas iniciativas e trabalham para manterem-se no mercado, seja na mesma trilha de carreira com aquisição de novos conhecimentos, ou mesmo partindo para desafios propostos por esse novo contexto corporativo. O fato é que, de acordo com a Universidade de Brasília (UnB), 30 milhões de postos de trabalho estão com forte risco de desaparecem até 2026 devido a automação de processos e a utilização de inteligência artificial.

 

E a fome das empresas pela automação e ganho de eficiência não para de crescer, o que acelera ainda mais a necessidade de retreinamento de pessoas em funções mais simples e tidas como os principais focos da robotização. Um relatório do Gartner batizado de 10 tendências estratégicas de tecnologia para 2020 mostra bem esse cenário ao explorar, como um dos pontos para 2020, a hiperautomação. Na visão da consultoria, esse movimento tem potencial gigantesco de criar oportunidades e liderar grandes rupturas nos negócios.

 

Especificamente no campo da hiperautomação, o que se observa no mercado é uma corrida pelo uso de tecnologias avançadas, entre elas inteligência artificial e machine learning para acelerar a automação dos processos. O termo hiperautomação, aliás, é trazido pela consultoria não por acaso. Se, na automação, os olhos estavam voltados para aplicar tecnologia na facilitação ou execução de tarefas simples que ainda necessitavam de interação humana, na hiperautomação, o que se observa é a combinação de múltiplas ferramentas de automação, machine learning e softwares diversos para entregar um trabalho completo. Ela se refere também a todos os níveis de automação, como análise, design, métricas, monitoramento, entre outros.

 

Nesse novo cenário que se pinta, o risco (ou oportunidade) trazido para as pessoas envolvidas é ainda maior, uma vez que se trata de um momento de mercado onde as empresas podem, rapidamente, identificar e automatizar todos os processos de negócios com implicações ímpares. Todo o escopo de automação discutido até então acaba mudando, ele sai do formato de olhar coisas muito simples para encarar atividades mais complexas.

 

Em termos ferramentais, automação de processos por robôs (RPA, da sigla em inglês) e suítes inteligentes de gerenciamento de processos de negócios (iBPMSs, da sigla em inglês) aparecem como componentes fundamentais na era da hiperautomação, assim como machine learning e processamento natural de linguagem (NPL, da sigla em inglês).  Juntas, essas ferramentas dão toda a capacidade necessária para as corporações irem muito além em seus projetos de automação.

 

Déficit global, mas Brasil vai mal

 

Apesar de tudo isso parecer alarmante do ponto de vista de perda de emprego (e não deixa de ser mesmo), o componente talento se torna ainda mais essencial nessa nova ordem. O engajamento da força de trabalho é visto como fundamental para reinventar a forma como os empregados entregam valor para as corporações, uma vez que o antigo conhecimento técnico não basta, e tampouco saber manusear uma tecnologia também. A era da hiperautomação pede uma miscelânea de disciplinas que assusta. Mas basta observar e analisar bem o mercado para perceber que existe uma preocupação geral em curso.

O engajamento da força de trabalho é visto como fundamental para reinventar a forma como os empregados entregam valor para as corporações

No mundo, até 2030, o déficit de talentos será da ordem de 85 milhões de pessoas e, apenas no Brasil, a estimativa é que a falta de profissionais qualificados seja de 15,8 milhões de pessoas, considerando todos os tipos de habilidades, de acordo com um levantamento realizado pela Korn Ferry. Além disso, falando em talentos de tecnologia, especificamente, todos os países sofrerão com forte déficit até 2030, com exceção da Índia, o que demanda um forte plano de formação de pessoas para suprir a necessidade que estará dos dois lados: de quem produz tecnologia e de quem utiliza tecnologia.

 

Somadas as projeções (falta de talentos + hiperautomação + posições que deixam de existir pela automação) o cenário no Brasil deve ser de correria geral. Profissionais atualmente empregados precisam buscar por novos conhecimentos para desbravar o novo mercado ou tentar, de alguma maneira, mapear a realidade na qual a empresa está envolvida para qualificar-se para outras posições na mesma ou em outras áreas. Do lado das empresas, para que a hiperautomação aconteça, será preciso investir também em formação dentro e fora. O déficit de talentos brasileiros passa por todas as habilidades necessárias à transformação digital: das técnicas às chamadas soft skills. Sem um investimento forte, não haverá outra realidade senão a guerra por talentos, o que não é nem de longe o menor dos mundos.

 

Habilidades para ontem

 

Para tentar te ajudar, separamos uma lista com algumas habilidades que você precisa desenvolver ou torná-las mais apuradas caso já as tenha. Seguramente, elas te ajudaram a enfrentar essa grande onda:

 

1 – Comunicação: ela é necessária para que você possa dar contexto para suas sugestões, decisões ou mesmo para melhor vender/contestar o projeto proposto;

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2 – Pensamento crítico: altamente valorizado, principalmente em áreas de inteligência de mercado e analytics. Isso ajuda na elaboração de hipóteses, a realizar as perguntas corretas e a construir contextos com as informações extraídas;

 

3 – Habilidades tecnológicas (principalmente programação): ainda que você não queira ser o técnico no movimento de transformação, é importante saber o básico para melhor entender a dinâmica e os processos (no caso deste artigo, de automação de processos). Python é uma boa forma de iniciar em programação por ser uma linguagem mais amigável;

 

4 – Controle emocional: fundamental em momentos de turbulência, além de contribuir de maneira ímpar na tomada de decisões e nos embates de grande estresse. Sim, processos de grandes automações geram isso e é preciso segurar a barra;

Ainda que você não queira ser o técnico no movimento de transformação, é importante saber o básico para melhor entender a dinâmica e os processos

5 – Liderança: assim como a habilidade tecnológica, mesmo que não esteja nos seus planos se tornar um líder no curto prazo ou mesmo você não tenha essa pretensão, é importante desenvolver essa característica. Ela pode te ajudar a ser mais incisivo em seus posicionamentos, além de ser bem aplicada em liderança de projetos – e na jornada de automação, os projetos serão vários até mesmo dentro de um departamento;

 

6 – Criatividade: embora muitos acreditem não ser possível desenvolver, dá sim para trabalhar o lado criativo e aplicar no dia a dia. No geral, criatividade te dá capacidade de solucionar problemas de maneira diferente ou mesmo utilizar elementos já existentes dentro de determinado contexto para outros fins, evitando, por exemplo, novos gastos;

 

7 – Interpretação de informações complexas: quando se fala em transformação digital e mesmo em automação, que é o tema central deste artigo, dado é a fonte central para tomada de decisão, mas é preciso saber interpretá-los. A maioria das empresas possui muito dado, mas não consegue gerar valor em cima deles e isso nem sempre está relacionado ao ferramental ou conhecimento tecnológico, mas à interpretação das informações.

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