Que áreas estarão em alta no futuro do trabalho?

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11:56 am - 20 de dezembro de 2019
energia

Um dos clichês quando se fala nas mudanças do trabalho é apontar para profissões e ocupações que seriam impensáveis alguns anos ou décadas atrás. Que agricultor imaginaria, há cem anos, que as empresas contratariam equipes inteiras para trabalhar com marketing? Ou, para ficar num exemplo mais recente, quem diria nos anos 1990 que o negócio de criar e manter websites viraria uma indústria? Somente dez anos atrás a ideia de uma carreira profissional desenvolvendo programas para telefones celulares seria impensável – mas, segundo uma estimativa da consultoria App Annie, daqui dois anos a economia dos aplicativos, sustentada por 6 bilhões de celulares e tablets, vai movimentar 258 bilhões de dólares.

 

Um relatório recente do Fórum Econômico Mundial afirma que dois terços das crianças que estão entrando na escola hoje terão empregos que ainda não existem. Mas, como disse celebremente o físico Nils Bohr, fazer previsões é muito difícil, especialmente sobre o futuro. Quais são os empregos “do futuro” que já existem hoje? Examinar para onde caminha a tecnologia oferece algumas pistas reveladoras. Um bom ponto de partida é o tema da mudança climática, que levou à eleição da adolescente sueca Greta Thunberg como a Pessoa do Ano pela revista Time. Segundo as projeções do departamento de estatísticas econômicas do governo americano, duas das ocupações que terão maior aumento no número de vagas entre 2016 e 2026 são as de técnicos em energia solar (crescimento de 105%) e energia eólica (96%).

 

Apesar da dificuldade de obter consenso internacional sobre o que o mundo deve fazer para evitar uma catástrofe ambiental – além dos retrocessos observados pelas políticas de Donald Trump, nos Estados Unidos, e Jair Bolsonaro, no Brasil –, a expectativa é que o setor de energias renováveis siga crescendo com vitalidade por muito tempo. Estima-se que cerca de 3,3 milhões de americanos já trabalhem em empresas do setor, três vezes mais do que aqueles no setor de combustíveis fósseis. Somente no ano passado foram criados 110 000 novos empregos no setor de energia limpa nos Estados Unidos, segundo um levantamento da E2, um consórcio de companhias do segmento de energia.

Somente no ano passado foram criados 110 000 novos empregos no setor de energia limpa nos Estados Unidos

Outro setor que chamou muita atenção em 2019 – e que tem relação com a questão ambiental — foi o de alternativas à proteína animal. A Beyond Meat, empresa que produz hambúrgueres de base vegetal que emulam o sabor e a textura da carne bovina, foi um dos maiores sucessos da bolsa americana este ano. Avaliada em quase 5 bilhões de dólares, a Beyond Meat aponta para a confluência do espírito inovador do Vale do Silício com uma das atividades mais primordiais da humanidade: produzir alimentos. Uma rápida consulta no site da companhia mostra uma série de vagas em aberto: cientista de encapsulamento, cientista de fermentação, engenheiro de desenvolvimento de produtos alimentícios e assim por diante.

 

beyond

 

Analistas do banco Barclays estimam que o mercado de alternativas à carne animal possa chegar a 140 bilhões de dólares, ou cerca de 10% de um bolo global de 1,4 trilhão de dólares. Pode parecer otimismo exagerado, mas é difícil ignorar os sinais. Um dos comerciais exibidos à exaustão pela rede Burger King no mercado americano mostra clientes provando o Impossible Whopper (feito com o hambúrguer de base vegetal da empresa Impossible Foods) e fazendo cara de surpresa ao saber que o sanduíche não leva carne de verdade. Segundo um levantamento da Plant Based Foods Association, que reúne as companhias do setor, mais de 55 000 empregos foram criados direta e indiretamente graças a esses produtos de base vegetal.

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No campo da tecnologia digital, uma das grandes apostas das gigantes do Vale do Silício é a computação por voz. A Amazon lançou este ano no Brasil o Echo, aparelho que encapsula a assistente virtual Alexa. O mercado de aplicativos que rodam na plataforma de voz da Amazon ainda é pequeno: estima-se que os apps tenham gerado apenas 1,4 milhão de dólares nos dez primeiros meses deste ano, muito aquém dos previstos 5,5 milhões. Mas, como afirma a companhia, a aposta na Alexa é de longo prazo, e “mal começamos a explorar as possibilidades”.

No campo da tecnologia digital, uma das grandes apostas das gigantes do Vale do Silício é a computação por voz

A  ideia futurista de computadores capazes de conversar com o usuário – como o famoso HAL, do filme “2001: Uma Odisseia no Espaço” – está por trás de uma série de startups, muitas delas financiadas pelo Alexa Fund, um fundo de 200 milhões de dólares criado pela Amazon para desenvolver o ecossistema de sua plataforma de voz. Entender a linguagem humana ainda é um desafio técnico formidável, e especialistas em interfaces “invisíveis”, linguistas e engenheiros capacitados em processamento de linguagem natural certamente terão empregos hoje e no futuro.

 

Uma extensão natural da computação por voz é a automação doméstica. Lâmpadas, fechaduras, sprinklers e portões “inteligentes” são apenas o começo da revolução da internet das coisas. Em meados de novembro, Google, Apple, Amazon e a Zigbee Alliance (que inclui companhias como Samsung Smart Things e Ikea, entre outras) anunciaram a criação de um grupo de trabalho para criar um padrão técnico para a indústria. A ideia é permitir a interoperabilidade dos produtos nas mais variadas plataformas que controlam casa inteligente, como o HomeKit, da Apple, e o Google Assistant.

 

A Ikea vem investindo pesadamente para embutir inteligência em seus produtos. Para a gigante sueca, que faturou 44 bilhões de dólares no ano passado, o futuro está na casa inteligente. De designers de móveis com conhecimentos de eletrônica a especialistas em cibersegurança focados em ambientes complexos como uma casa conectada (já imaginou se um hacker conseguir controlar a fechadura inteligente da sua casa?), as oportunidades são inúmeras. A consultoria Kenneth Research estima que o mercado global de smart homes vai passar dos 56 bilhões de dólares registrados em 2016 para quase 175 bilhões em 2025.

 

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