O vício pelo aprendizado constante em 10 passos

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4:01 pm - 13 de novembro de 2019
aprendizado constante

Se você tivesse que escolher um vício para chamar de seu, qual seria? Repare que a maioria das coisas que viciam, quando experimentadas pela primeira vez, causam estranheza — comida japonesa, cerveja, ostra e tantas outras. Isso acontece porque nossos sentidos não estão acostumados com elas. Por algum motivo, seja pela pressão de um grupo, seja pela necessidade de convívio social, nos forçamos a continuar tentando até que passamos a gostar daquilo e, mais para frente, até a sentir falta.

 

Isso ocorre porque nosso cérebro é programado para economizar energia por motivo de sobrevivência. Isso era bem útil lá nos primórdios, mas, hoje, precisamos lutar contra esse fato para que consigamos sair dos padrões aos quais nosso cérebro insistentemente tenta nos conduzir.

 

A neurociência explica isso muito bem. Se cairmos na tentação da acomodação, entramos na famosa zona de conforto, aquela que parece quentinha e tranquila, mas que nos leva à perigosa região do não aprendizado, do não crescimento.

 

Você sabe qual é um dos maiores medos dos profissionais hoje?

 

A resposta é simples: tornarem-se irrelevantes, dispensáveis. Com a velocidade das mudanças atuais, isso pode acontecer num piscar de olhos. Novos modelos de negócios, formas de planejamento e de execução, formatos de trabalho e tecnologias estão movimentando o cenário organizacional. Portanto, se permanecermos com nossas formas tradicionais de pensar e agir, estaremos fadados à irrelevância, à estagnação.

 

Numa primeira perspectiva, vício nenhum é bom, mas um em especial poderá trazer benefícios e talvez a própria sobrevivência aos profissionais: o vício por aprender. Popularmente chamado de “lifelong learning”, esse “vício” nos moverá para frente, ampliará nosso repertório e nos ajudará a nos manter relevantes no mercado.

 

Como ganhar repertório e fazer a diferença no mercado de trabalho? Olha, pela experiência que adquiri em tantos anos de mercado, entendo que podemos lançar mão de diversos caminhos, mas priorizo aqui 10 insights que se complementam e que ajudarão imensamente na sua jornada de aprendizado contínuo.

 

  1. Comece

 

Parece brincadeira, mas iniciar o movimento é o primeiro passo. Não pense no tamanho do desafio, apenas inicie. Rapidamente, seu repertório se desenvolve e você (assim como as pessoas a sua volta) consegue perceber a diferença por meio de suas contribuições em reuniões, resoluções de problemas, visões diferentes das que costumava ter.

 

  1. Desenvolva o hábito

 

Você se lembra de quando precisou aprender a escovar os dentes? No início, precisou pensar nos movimentos, coordená-los e, aos poucos, foi melhorando a técnica ao ponto de eles se tornarem automáticos. O mesmo ocorre aqui. Seu cérebro despende uma grande energia no início, mas aos poucos você passa a aprender de forma automática. Você está assistindo um vídeo, ouvindo um podcast, lendo um artigo e começa, sem perceber, a fazer conexões, pensar em soluções para questões do trabalho e da vida. É nesse cenário que se nota o lifelong learning.

 

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  1. Transite do FOMO para o JOMO

 

Quando começar a aprender continuamente, sua fome de aprendizado o fará passar inevitavelmente por aquela sensação desconfortável do FOMO (Fear Of Missing Out), que, na vida profissional, pode ser entendido como um medo de perder oportunidades, de evoluir.

 

Contudo, é fundamental perceber rapidamente isso, aceitar que é impossível absorver todo o conhecimento que essa era da informação é capaz de fornecer, para logo chegar ao JOMO (Joy Of Missing Out), ou seja, a alegria de estar de fora.

 

Quando chegar nesse momento, a sensação de alívio será muito grande, mas também porque você provavelmente já adquiriu a capacidade de fazer uma curadoria (saber o que buscar, onde buscar, a quem seguir etc.) para focar naquilo que realmente importa.

 

  1. Tenha mindset progressista

 

Todos nós temos um pouco do mindset fixo e um tanto do mindset de crescimento, também chamado de progressista. O que é diferente nas pessoas é a influência de cada tipo de mindset em suas ações. Se queremos aprender cada vez mais ao longo da vida, é mandatório que busquemos desenvolver o segundo tipo, o qual nos faz acreditar que conseguimos:

  • desenvolver novas habilidades;
  • encarar os desafios com entusiasmo;
  • enxergar os erros como oportunidades de crescimento;
  • perceber os aprendizados como formas de superar limitações;
  • notar o esforço como ferramenta para o alcance da excelência.

 

  1. Cultive a curiosidade acima de tudo

 

É ela quem nos faz querer descobrir o mundo, perseguir as respostas tanto às próprias questões existenciais como às mais práticas ou materiais. Ela nos move para a resolução de problemas — e, quando falamos de problemas, nos referimos tanto a coisas boas (como o planejamento de um grande evento ou aniversário) quanto coisas ruins (a fome no mundo, no seu país ou no entorno do seu bairro, por exemplo).

 

 

Você pode demonstrar curiosidade ao se interessar pelos caminhos percorridos por profissionais que admire para, então, poder dedicar seus esforços para alcançar o que também deseja. Essa é uma excelente forma de benchmarking profissional, não é mesmo?

 

  1. Mais do que ter respostas, aprenda a fazer perguntas

 

Grandes executivos têm este dom. No lugar de respostas para tudo e para todos, eles fazem perguntas. Não aquelas indagações que, no fundo, estão direcionando o caminho, mas aquelas que instigam as pessoas a pensarem, a abrirem seus horizontes e a encontrarem os caminhos.

 

Perguntas corretas e poderosas permitem encontrar a causa raiz de problemas para que, então, uma equipe possa trabalhar nas soluções adequadas. Nada pior do que se empreender um esforço enorme para chegar em uma solução “maravilhosa” para o problema errado.

 

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  1. Faça coisas diferentes do seu “padrão”

 

Percorra trajetos diferentes para chegar ao trabalho, ande por lugares novos, leia coisas não vinculadas a sua área de expertise, veja filmes que nunca escolheria, viaje para lugares inusitados. Tudo isso amplia o seu “lado generalista”, multiplicando as possibilidades de combinações com seu “lado especialista”, ampliando sua criatividade e repertório.

 

A isso chamamos transdisciplinaridade — característica de alguns profissionais que é extremamente valorizada pelas organizações. Afinal, ela os faz capazes de resolver problemas complexos.

 

  1. Converse com pessoas diferentes

 

Um café ou happy hour podem ajudar a encontrar respostas importantíssimas para sua vida, área ou empresa. Nutrir a rede, estar em contato frequente com pessoas que podem complementar ou chacoalhar suas ideias preconcebidas é essencial. E não deixe para fazer isso somente nos momentos de necessidade.

 

  1. Participe de eventos, meetups, palestras, cursos rápidos

 

Estude modelos de negócios diferentes, métodos, cases e processos diferentes. As respostas que você tanto procura, as oportunidades e até os riscos podem vir de lugares inimagináveis. Por isso, é preciso estar atento aos movimentos, analisar o que dá certo e o que dá errado, aprender com isso e agir, fazer acontecer.

 

  1. Utilize ferramentas digitais que aumentem sua produtividade e performance

 

A capacidade humana hoje está potencializada pela sua combinação com a tecnologia. Busque ter acesso a soluções que ampliem seu conhecimento e forneçam ferramentas para a realização de uma atividade ou a resolução de um problema na hora, onde e como precisar. Isso vale para podcasts, aplicativos, canais no YouTube. Esse será um de seus principais diferenciais competitivos.

 

A essa altura você já deve ter percebido que é no desconforto que acontece o lifelong learning. Ele nos faz reagir e agir em prol do nosso desenvolvimento. Ficar apegado à zona de conforto só vai antecipar um declínio profissional. Então é preciso visão, coragem e ação contínuas para a aquisição desse vício de aprender. O futuro não é previsível, as habilidades requeridas para transitar do hoje para o amanhã mudarão. Somente desenvolvendo a capacidade de aprendizagem contínua participaremos ativamente desse movimento ao invés de sermos arrastados por ele.

 

* Djenane Rocha é gerente de Produto na Afferolab. Formada em Economia pela UFES, possui mestrado em Gerência de Produção pela PUC RJ.

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