Tecnologia e design se tornam essenciais em ambientes de trabalho pós-pandemia
Especialistas revelam o que mudou no mercado arquitetônico com o trabalho remoto e híbrido
A pandemia mudou a relação – e o espaço de trabalho – de muitos profissionais em todo o mundo. Enquanto as empresas revisitam a necessidade de estações de trabalho para todos os seus colaboradores, as pessoas precisaram correr para adequar um espaço de sua casa para se tornar um escritório.
Com isso, o mercado de arquitetura e design de interiores cresceu durante a pandemia. Segundo um estudo feito em 2020 e 2021 pela Archademy, entre os 900 profissionais entrevistados, 80% disseram que a procura de clientes por projetos aumentou.
O levantamento também revelou que 95,5% dos profissionais receberam demanda para reforma de ambientes residenciais. Entre eles, 67,4% relataram ter recebido pedido de adequação do layout geral da casa, 65,8% para adequação da casa para home office e 58,4% para alterar os espaços de convivência.
Ao mesmo tempo, as empresas precisam fazer ações para que o escritório se torne atraente, uma vez que o funcionário pode escolher se deseja trabalhar de casa ou não. Por isso, explica Denise Moraes, líder de projetos da AKMX, muitas companhias buscaram modificar esteticamente seu escritório para torná-lo mais convidativo.
Denise Moraes, líder de projetos da AKMX
“Nós estamos na época das experiências e as empresas também estão se preocupando em transformar o escritório em algo que pode ser uma forma de divulgá-la. São criados, por exemplo, pontos no escritório instagramáveis e pontos que são referência. Explorar a experiência do usuário dentro dos seus espaços ajuda a criar algumas relações com o próprio colaborador, aumentando a sensação de pertencimento”, revela ela.
Além disso, a tecnologia se tornou ainda mais essencial. “As empresas estão investindo em salas específicas para ligações telefônicas, porque muitas das atividades no escritório se dão com o notebook. São salas de aproximadamente 3 m² a 4 m² que têm apenas uma mesa, um ponto elétrico e rede. Essas salas, para uma ou duas pessoas e de curta permanência, geralmente podem ter estética mais descontraída, com uma poltrona no lugar de uma cadeira ou uma mesinha de apoio no lugar de uma mesa. Geralmente são bem coloridas”, exemplifica a arquiteta.
Estão se tornando mais comuns, também, salas de telepresença – focadas em reuniões maiores e com suporte tecnológico. Em uma reunião em que muitas pessoas estão online, ter apenas uma tela de computador pode tornar o momento muito frio. Para diminuir essa distância, são colocadas, por exemplo, dez telas e cada um dos participantes online ficam em uma tela diferente.
As áreas de convivência se tornaram foco. “Antigamente, as empresas tinham uma área enorme com suas posições de trabalho, salas de reunião, brainstorm, entre outros. Os espaços de trabalho eram divididos conforme hierarquia e setores da companhia. Hoje, a distribuição dos espaços não é feita conforme a divisão da empresa, mas conforme as atividades que serão desenvolvidas”, comenta Denise.
Sala para call – projeto AKMX
Por exemplo: um profissional tem atividades que necessitam privacidade, outras foco ou colaboração com outras pessoas. Conforme a atividade, ele precisa de uma estrutura diferente. As pessoas deixaram de ter um espaço específico no escritório. Para isso, é necessário mexer na estrutura do escritório.
Em tempo de pandemia, Denise frisa a importância de repensar o número de colaboradores ao mesmo tempo no escritório e até diminuir o espaço físico. No caso de empresas que não queira fazer home office, segundo ela, sempre terá pessoas fora (de férias ou de licença, por exemplo) e essa porcentagem pode chegar a 15% ou 20% dos funcionários.
“Entre aquelas que implantam o home office, o número pode chegar a 60% ou 50% de colaboradores fora, dependendo da empresa. Há companhias que trabalham com 30% de mesa só”, diz.
Divisão entre vida pessoal e profissional
A mudança brusca do trabalho remoto também acendeu uma luz entre as pessoas: a necessidade de ter um escritório em casa que atendesse bem a todas as necessidades de trabalho. A startup Arquiteto de Bolso sentiu de perto essa procura. De acordo com Daniel Alves, designer de interiores, COO e cofundador da empresa, entre janeiro e março de 2020, escritórios não estavam entre os dez ambientes mais pedidos por clientes. No mesmo período de 2021, se tornou o quinto mais procurado e, até agora, se estabelece como o sexto. Entre março de 2020 e dezembro de 2021, foram solicitados 922 projetos de escritório.
Marcia Monteiro, Thiago Nigro e Daniel Alves – Arquiteto de Bolso
No quesito tecnológico, Daniel explica que a maior preocupação das pessoas é sobre o alcance da internet. “Nem sempre o roteador do wi-fi tem a potência muito boa. Algumas das perguntas que mais respondemos é sobre a parede ser grossa ou o sinal não chegar”, comenta.
Mas, um dos erros mais comuns entre aqueles que trabalham de casa, é a falta de ergonomia. A pessoa, por exemplo, trabalha na mesa de jantar com uma cadeira de jantar, inadequados para aguentar um dia de trabalho. Ter uma mesa de trabalho de 80 cm de largura e 60 cm de profundidade (ou 50 cm caso não tenha espaço) e uma cadeira de escritório (de preferência giratória com apoio de braço) é o mínimo para ter conforto.
Marcia Monteiro, arquiteta, CEO e cofundadora do Arquiteto de Bolso, complementa explicando que a iluminação é extremamente necessária para o conforto em um dia de trabalho. “Além disso, é necessário pensar nas cores do ambiente. Usar cores tranquilas e que acalmem. Entender a função também ajuda a pensar em cores que ajudem ou atrapalhem. Se for um trabalho criativo, por exemplo, usar tons que estimulem a criatividade”, frisa.
Projeto 3D home office – Arquiteto de Bolso
Nos casos em que a pessoa não tem um ambiente inteiro para o home office, o cômodo deve ser harmônico. Se o escritório for na sala, por exemplo, ter um ponto estético ajuda a ter um dia de trabalho positivo.
Opções no mercado
Entre o trabalho no escritório ou em casa – surge uma demanda crescente de pessoas e empresas que buscam o meio termo: coworking. Os números confirmam a tendência: o melhor mês de vendas da GoWork foi dezembro do ano passado – 1.800 estações de trabalho. Fernando Bottura, CEO da empresa, afirma que esse é o resultado de uma série de companhias que buscam algo mais flexível e dinâmico e que esteja conectado ao híbrido.
“Em conjunto, começa a decair o conceito do escritório convencional. As pessoas querem ter reuniões em lugares agradáveis e abertos, como jardins e rooftops. E mesmo as empresas grandes e tradicionais estão enxergando isso”, comenta o executivo.
Ele complementa dizendo que, hoje, todo mundo está preparado com áreas especiais para fazer calls. As pessoas estão buscando espaços com divisórias para essas reuniões e os escritórios estão focando em plataformas de videoconferências e de integração.
Outra vantagem, segundo ele, é o valor. Ao comparar todas as despesas de quem alugará escritório, reformará, contratará arquiteto, comprará mobiliário, entre outros – o custo de alugar um coworking pode ser até 40% mais barato.