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Simples revolução de Domenico de Masi: menos trabalho, mais produtividade

O progresso tecnológico tem sido tão acelerado que reformas, quando acontecem, já não são mais úteis. É por isso que pensar as mudanças hoje é pensar em revoluções. Steve Jobs revolucionou o mercado com o lançamento do primeiro iPhone em 2007 e está provado que os que fomentam inovações são, de fato, revolucionários. Foi esse pensamento que inspirou o filósofo e professor italiano Domenico de Masi a escrever sua mais recente obra: “Uma simples revolução, novos rumos para uma sociedade perdida”.

Ele sustenta no livro que é preciso desenvolver uma civilização cada vez menos atribulada e interessada em poder, dinheiro e posse de bens materiais, e cada vez mais ociosa, voltada à introspecção, à amizade, à diversão, à beleza e à convivência.

No palco do IT Forum 2019, que acontece de 17 a 21 de abril, na Praia do Forte (BA), o filósofo afirmou que o caminho para chegar lá é a simplicidade. Ele citou o escultor romeno Constantin Brâncuși para elucidar seu ponto de vista.

Brâncuși dizia que a simplicidade é a complexidade resolvida. É como voltar às origens, mas não necessariamente voltar ao passado. Assim, a principal tarefa dos intelectuais é desatar os nós de fenômenos complexos, simplificando sua estrutura e compreendendo seu significado.

Em busca dessa simplicidade, De Masi lembrou que o trabalho precisa ganhar novos contornos e que a ideia de trabalho e de jornada de trabalho deverão ser desconstruídos. Falando sobre a era do desenvolvimento sem trabalho, ele revelou que a sociedade caminha para trabalhar menos horas, mas com mais produtividade.

Exemplos mostram ser possível. Ao comprar a Itália com a Alemanha, o filósofo indicou que cada alemão trabalha em média 1.356 horas por ano e a taxa de emprego no país é 79% e de desemprego é de 3,8%. Comparando com a Itália, todo cidadão trabalha em média 1.723 horas por ano; a taxa de emprego é 58% e de desemprego 10,8%. “O resultado é que a Alemanha obteve mais produtividade. Para ser útil sem desemprego, é preciso reduzir horário de trabalho”, sentenciou.

Mundo de excessos

O mundo atual vive em excesso, destacou. Para absorver a quantidade de CO2 produzida por cada litro de gasolina que a população queima, são necessários 5 metros quadrados da floresta. O espaço bio-reprodutivo é de 1,8 hectare cada, de modo que 1,3 planeta é necessário hoje para suprir essa demanda.

Se os países pobres aumentarem seu consumo, enquanto os países ricos não reduzirem os seus, em 2030 mais de três planetas serão necessários. “Portanto, o equilíbrio ecológico já foi amplamente comprometido e qualquer desenvolvimento posterior do consumo nos países já ricos é insustentável: é necessário, portanto, planejar um reverso que reduza e modifique os níveis sem afetar o direito à felicidade”, comentou, completando que as reformar não são mais suficientes nesse contexto.

Sociedade pós-industrial

De Masi destacou que a sociedade pós-industrial nasceu sem ter um modelo teórico e esse é um problema sério. “Não sabemos que direção tomar. Vamos rapidamente, mas não sabemos para onde. Sabemos que temos de mudar, mas não sabemos produzir e às vezes produzimos o que já existe”, assinalou.

A proposta do filósofo para mudar completamente esse cenário é uma revolução para reformular o conceito de economia, sando de uma economia competitividade e agressiva para uma solidária. “Criar um progresso tecnológico inclusivo é muito brasileiro, porque vocês sempre foram muito acolhedores”, refletiu.

Para tanto, ele sugeriu algumas ‘doações’. Uma delas é a do ócio criativo, conceito que se tornou bastante popular pelas mãos de De Masi. O Ócio, explicou, não é a preguiça, mas a forma de trabalhar prazerosa, onde se possa se divertir e aprender. Outra doação é a da felicidade, criando uma sociedade sem egoísmo e com ética.

Ele citou ainda a doação da juventude de ideias, conceito tantas vezes proferido pelo sociólogo brasileiro Gilberto Freyre. Ele dizia que: “Se depender de mim, nunca ficarei plenamente maduro nem nas ideias nem no estilo, mas sempre verde, incompleto, experimental”, o que remete ao aprendizado constante. E, por fim, a doação de generosidade, que De Masi lembrou do amigo Oscar Niemeyer com sua frase “O mais importante não é a arquitetura, mas a vida, os amigos e este mundo injusto que devemos modificar”.

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