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Realidade aumentada promete impactar consumidores, empresas e profissionais

Para a maioria das pessoas, a primeira – e provavelmente a única – experiência com a realidade aumentada foi o game de smartphone Pokémon Go, lançado em 2016, e que até hoje conta com uma legião de jogadores dedicados no mundo inteiro. A premissa da realidade aumentada (ou AR, na sigla em inglês) é simples: sobrepor dados, animações ou objetos virtuais no mundo real, seja por meio da tela do celular ou de óculos especiais. A tecnologia promete encurtar a distância entre o mundo tridimensional em que vivemos e o manancial infinito de informações que vive na internet e até agora estava preso nas duas dimensões da tela dos celulares e computadores.

 

A AR ainda está dando seus primeiros passos. O frenesi do Pokémon Go serviu como um aperitivo, mas o potencial vai muito além do entretenimento. Segundo uma estimativa recente da consultoria Digi-Capital, o mercado de AR movimentou US$ 3 bilhões no ano passado e pode saltar para US$ 70 bilhões em 2023. A oportunidade de negócios é imensa, e não é preciso confiar nas previsões dos especialistas para perceber os sinais. Microsoft, Amazon, Google e Apple – além de uma onda de startups – estão apostando na realidade aumentada como uma das plataformas essenciais do futuro da computação.

O mercado de AR movimentou US$ 3 bilhões no ano passado e pode saltar para US$ 70 bilhões em 2023, segundo uma estimativa recente da consultoria Digi-Capital

Um dos nomes para essa plataforma é “computação espacial” (no sentido de espaço físico, não sideral). Outro termo é “realidade mista”, a expressão favorita da Microsoft. Mas é mais fácil entender o conceito com exemplos de uso da AR no mundo real. O aplicativo Place, da Ikea, por exemplo, permite enxergar, na tela do smartphone, como ficaria uma nova poltrona na sua sala. Se você se afastar para ter uma visão geral do espaço, o móvel muda de tamanho, mantendo as proporções reais do objeto. O app também permite enxergar a poltrona de todos os ângulos e examiná-la de perto para conferir os detalhes do acabamento.

A AR também pode ser uma companheira indispensável na sua próxima viagem. O Google recentemente lançou uma nova funcionalidade do Google Maps. Em vez de ficar olhando para a tela do celular e para a rua na tentativa de se orientar num lugar desconhecido, o aplicativo utiliza a câmera do smartphone para “enxergar” sua localização e indicar, com gráficos sobrepostos aos seus arredores, pontos de interesse ou o caminho que você deve seguir para chegar a seu destino. Uma aplicação semelhante existe em certos modelos de carros vendidos nos Estados Unidos: as informações de navegação são projetadas no para-brisa, para que o motorista em nenhum momento desvie o olhar da rua.

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A Microsoft optou por um caminho diferente. A companhia está na segunda versão do sistema Hololens, um óculos especial de visual futurista e focado em aplicações corporativas (foto abaixo). Desenvolvido por Alex Kipman, brasileiro que também criou o controle de videogame Kinect, o produto é inteiramente integrado: os óculos abrigam a unidade de processamento e são conectados à internet. A fabricante de aviões Boeing usa a tecnologia para a instalação da fiação dos aviões, uma tarefa complexa, minuciosa e sem espaço para erros.

 

Em vez de consultar diagramas em papel, os técnicos veem os locais exatos onde os fios devem ser colocados nos equipamentos, uma espécie de visão de raio-X. Segundo as estimativas da companhia, além dos ganhos de qualidade há uma redução no tempo – e no custo – associado ao trabalho. “Não é sempre que vemos ganhos de produtividade dessa magnitude”, disse num comunicado Bruce Dickinson, vice-presidente da Boeing responsável pelo programa dos aviões 767 e 747.

 

 

A segunda versão do Hololens foi apresentada em março por Kipman. O sistema ainda é relativamente pesado, caro e destinado a empresas mais arrojadas na adoção de novidades. A ideia da Microsoft é convencer os desenvolvedores de software a conceber novos usos e experiências, na expectativa de que o Hololens seja uma plataforma de computação espacial tão relevante como os sistemas operacionais iOS e Android no mundo dos smartphones.

 

A competição promete ser dura, especialmente do lado do consumidor final. O iPhone já tem embutido o sistema ARKit, um conjunto de ferramentas básicas usado pelos programadores para criar aplicações de AR usando o celular da Apple. A companhia fundada por Steve Jobs é famosa por manter segredo absoluto sobre seus novos produtos, mas o analista Ming-Chi Kuo, um dos mais bem informados sobre os bastidores da Apple, acredita que a empresa vá lançar um óculos de realidade aumentada em 2020. Em setembro, o vice-presidente de AR e VR (realidade virtual) do Facebook, Andrew Bosworth, anunciou oficialmente os planos da companhia de também entrar no segmento de hardware de realidade aumentada – embora ainda não haja data prevista para um lançamento comercial.

Outra aplicação de enorme potencial para a realidade aumentada será o treinamento. Praticar com a “mão na massa virtual” é mais barato que aulas presenciais e mais eficaz que usar manuais ou vídeos.

Mas o maior impacto, ao menos inicialmente, será do lado das empresas. O estaleiro Newport News Shipbuilding, que constrói porta-aviões para a Marinha americana, usa a realidade aumentada no processo de inspeção dos navios, para marcar estruturas de aço usadas na construção que terão de ser removidas. Normalmente, isso era feito com base em esquemas impressos em papel e levava um dia e meio. Com a ajuda da AR, o procedimento dura meros 90 minutos.

 

Outra aplicação de enorme potencial para a realidade aumentada será o treinamento. Praticar com a “mão na massa virtual” é mais barato que aulas presenciais e mais eficaz que usar manuais ou vídeos. Numa viagem a Redmond, no ano passado, pude experimentar uma outra funcionalidade do Hololens. Como o sistema está conectado com a internet e é equipado com câmeras e alto falantes, os óculos podem ser usados para uma espécie de suporte técnico virtual. Numa área de demonstração da empresa, com o Hololens na cabeça, tive de fazer um conserto virtual numa máquina. Simulando um funcionário sem treinamento específico, fui orientado a apertar botões e conectar cabos numa determinada ordem por um especialista que estava do outro lado do mundo (na realidade ele estava atrás de uma parede).

 

Óculos que te ajudam a preparar uma receita complicada na cozinha, indicando temperaturas, quantidades e passo a passo. Ou então um cirurgião que pode sobrepor exames de imagem sobre o paciente na mesa de operações. Um mecânico que não precisa conhecer cada detalhe do motor para realizar um conserto. Só a imaginação limita os potenciais usos da realidade aumentada.

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