Sem TI não há Big Brother: diretor do Hub Digital da Globo conta bastidores que suportaram edição histórica

Equipe com mais de 150 profissionais, squads multidisciplinares, cientistas de dados e engenheiros trabalharam no BBB que marcou história na TV

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8:16 am - 15 de maio de 2020
Baccala Globo

Quando foi ao ar em 21 de janeiro de 2020, a 20ª edição do Big Brother Brasil mal sabia que encontraria pela frente números recordistas e um contexto inédito para aqueles que assistiam os participantes dentro da casa: o isolamento social forçado dado à pandemia de covid-19 colocou os espectadores também em confinamento, o que contribuiu com um precedente de participação e engajamento que fez desta edição do BBB algo histórico para a Rede Globo.

Segundo dados da assessoria de comunicação, o BBB20 impactou 168,5 milhões de pessoas nos canais por assinatura e na TV aberta. Foram 100 milhões de horas consumidas do programa na plataforma de streaming Globoplay, o que representou um salto de mais de 500% em relação ao BBB19. Um marco também foi ilustrado no Guinness World Records. O paredão entre Manu Gavassi, Felipe Prior e Mari Gonzalez, que foi ao ar no dia 30 de março, recebeu 1,5 bilhão de votos. A repercussão no Twitter superou até a última edição do Super Bowl – sendo 20 vezes maior que o tradicional evento de futebol americano que, neste ano, colocou no palco artistas como Shakira e Jennifer Lopez.

Mas entregar uma edição de um reality show com superlativos para a Rede Globo – e um programa multiplataforma – exige um arcabouço tecnológico que Wanderley Baccalá, diretor do Hub Digital da Globo, resume como “complexo”. Em entrevista exclusiva à CIO Brasil, Baccalá reforça a multidisciplinaridade de profissionais e escalabilidade da infraestrutura tecnológica para viabilizar o que se vê ao vivo pelas câmeras e, depois, no conteúdo do Gshow. “Precisamos configurar, monitorar e otimizar desde a captura dos sinais ao vivo nos Estúdios para a entrega do streaming no Globoplay, até as plataformas utilizadas para publicação de conteúdo no Gshow, aplicações de entrega desse conteúdo nos sites, e a plataforma de votação utilizada nos paredões”, explica.

Para garantir escala, agilidade e flexibidade, a operação de tecnologia recorre, diz Baccalá, a uma arquitetura de microsserviços com dezenas de componentes e sistemas envolvidos. Processos automatizados também entram aqui. “Baseado em dados de monitoração, tomamos decisões sobre a alocação de infraestrutura de acordo com a necessidade de cada componente”, conta. É essa orquestração que possibilita, destaca o executivo, a audiência participativa do Big Brother – uma média de 50 mil votos por segundo e milhões de pageviews no Gshow.

Em prova: tecnologias e profissionais emergentes

A audiência do Big Brother Brasil e o comportamento daqueles que o assistem em casa, seja pela TV ou por telas móveis, gera uma infinidade de dados e informações que alheios à tecnologia não gerariam valor de negócio. Para viabilizar essa operação e gerar conclusões valiosas para a emissora como um todo, o time de tecnologia por trás do Big Brother não é modesto. São mais de 150 profissionais diretamente envolvidos, em squads multidisciplinares que atuam em conjuntos específicos de componentes. Segundo Baccalá, cada squad é composto por engenheiros de software, cientista de dados, desenvolvedores DevOpsSecOps e designers. Cada esquadrão de profissionais busca otimizar, evoluir e maximizar os resultados de uma parte específica desse ambiente.

“Temos squads dedicados acompanhando o processo de votação, a entrega de conteúdo no Gshow, a CDN de live streaming, o player de vídeos, os serviços de IaaS, os componentes de coleta de dados, a autorização de acesso etc. Todos têm um papel chave no sucesso da operação, afinal, é a combinação desses componentes e a orquestração bem sucedida dos mesmos que também permite que o BBB seja um sucesso no mundo digital”, destaca.

A equipe de Baccalá recorre a soluções de tecnologia estabelecidas no mercado – open source e licenciadas – para compor a estrutura do produto Big Brother. Mas o viés da inovação vem de casa. “Atuamos muito como integradores dessas soluções e componentes, criando uma camada que nos permita obter um diferencial competitivo naquilo que consideramos estratégico. É aí que entra nosso conhecimento e inteligência, e é nesse ponto que fazemos maior uso de tecnologias emergentes, que vão desde deep learning para recomendação de conteúdo, geração de insights e aplicações de segurança, até soluções de orquestração e gestão da nossa cloud com Kubernetes”, detalha.

Baccalá também chama atenção para o uso de soluções open source, num relacionamento que se retroalimenta. “Ao nos apoiarmos na comunidade open source, também contribuímos muito para ela e, com isso, muito do que evoluímos nesta soluções para atender nossa escala voltam para a própria comunidade”.

Esteja preparado

Para além do contexto de quarentena ao qual muitos brasileiros se viram cumprindo em meados de março, Baccalá também lembra que o fenômeno Big Brother Brasil 2020 emergiu como um dos poucos conteúdos de entretenimento inédito para os espectadores. A produção de telenovelas, por exemplo, foi suspensa pela Rede Globo. “Essa combinação aumentou ainda mais o interesse do público e, consequentemente, nos trouxe uma audiência e uma demanda muito maior em todas as nossas plataformas digitais”.

O diretor do Hub Digital lembra que para suportar a crescente demanda de audiência foi preciso tomar decisões muito rápidas. “Graças a nossa arquitetura, conseguimos adequar e dimensionar, de maneira muito dinâmica, recursos de infraestrutura para os serviços onde tínhamos maior demanda – como as votações e os serviços de vídeo”, revela.

O que fica de aprendizado para o BBB21 e para a Globo?

Além da audiência massiva, a 20ª edição do Big Brother deixa um legado da importância da integração da mídia tradicional linear com o mundo digital. Constatar isso com números generosos reforça o caminho, diz Baccalá, que a Rede Globo tem perseguido. “Estamos construindo uma Media Tech Company, onde o conteúdo e a tecnologia andam lado a lado e são fatores críticos de sucesso para proporcionar uma experiência única para nossos consumidores e anunciantes, independente do canal em que chegam até a Globo”, conta.

Essa integração ‘de mundos’, pontua Baccalá, além de gerar enormes possibilidades para a audiência e para anunciantes, traz grandes desafios do ponto de vista de tecnologia. Um dos exemplos que ele dá está no Jogo da Discórdia, uma brincadeira que acontecia entre os participantes do Big Brother. Ela começava ao vivo na TV e, muitas vezes, continuava quando o programa na TV era encerrado pelo apresentador Tiago Leifert. “Isso fazia com que recebêssemos uma enxurrada de usuários em nossos produtos digitais, mostrando que a continuidade do programa se dava no mundo digital. Assim, aprendemos muito sobre como escalar nossa infraestrutura para não prejudicar a experiência desses consumidores que são fãs muito fiéis”, argumenta o executivo.

Outro exemplo desse encontro entre linear e digital se deu na utilização de QR Codes por anunciantes do programa. “Não é uma tecnologia nova, mas foi muito bem utilizada para gerar novos leads e vendas, além de permitir uma melhor mensuração do impacto que a publicidade na TV gera nos negócios dos nossos parceiros comerciais. Através de uma execução muito simples, nós conseguimos ligar o mundo real ao digital e gerar excelentes resultados”, lembra.

Com o case bem-sucedido do Big Brother Brasil 2020, Baccalá reforça o que acredita ser uma nova era do entretenimento televisivo e o de mídia, que vai de encontro a uma discussão que tem abalado outras indústrias tradicionais. “Da mesma forma que vimos em outros mercados que colocam o consumidor no centro do seu negócio e criam produtos e serviços para atender, no limite, cada necessidade individualmente, no mercado de mídia vemos cada vez mais este fenômeno acontecer. As opções são muitas e a decisão do que consumir e onde é do consumidor”, conclui.

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