Herança dos pais na tecnologia é ouro na arena do mercado

Guilherme e Rodrigo Stefanini, Fernando Danesi, Bruno Rigatieri, e Caroline Schork compartilham histórias e aprendizados com seus pais

Author Photo
8:20 am - 11 de agosto de 2024
Filhos seguem o legado dos pais. Fotos: Divulgação

*com colaboração de Laura Martins, editora do IT Forum

O sucesso de uma empresa familiar vai além de manter um negócio próspero; é sobre construir um legado que atravessa gerações, enfrentando os desafios únicos de se trabalhar em família. Segundo dados da consultoria PwC, 85% das empresas no mundo são familiares, e essas organizações são responsáveis por cerca de 70% do PIB global. No Brasil, companhias do tipo representam 90% do total, gerando aproximadamente 65% dos empregos formais. Esses números mostram a relevância e o impacto desses negócios na economia global e nacional.

Neste Dia dos Pais, o IT Forum conversou com pais, líderes de empresas de tecnologia, e seus filhos sobre o papel fundamental que essa relação desempenha na construção e na continuidade desses negócios, garantindo um futuro promissor para as próximas gerações.

Leia também: Mães empreendedoras: 4 histórias de mulheres que equilibram negócios e maternidade

As histórias do Grupo Stefanini, Simpress, WDC Networks e Add Value mostram como a convivência familiar no ambiente de trabalho pode ser uma linha tênue entre desafios e oportunidades. A construção desse legado, que exige equilíbrio entre laços pessoais e profissionais, é o que diferencia essas empresas no mercado.

Marco Stefanini, Guilherme Stefanini e Rodrigo Stefanini

Marco, Rodrigo e Guilherme Stefanini, da Stefanini Fotos: Divulgação

Marco Stefanini, CEO global do Grupo Stefanini, e seus filhos Guilherme Stefanini, CMO global do Grupo Stefanini, e Rodrigo Stefanini, country manager da Stefanini no Chile e na Argentina, demonstram como a herança familiar pode se tornar um alicerce sólido para o sucesso empresarial. A convivência no ambiente de trabalho, as lições aprendidas em casa e a admiração mútua destacam a força de uma família unida não só pelo sangue, pelos seus hobbies, mas também pelos negócios.

Fundado em 1987, o início do Grupo Stefanini foi marcado pela presença constante dos filhos nos corredores da empresa. Rodrigo relembra os primeiros passos ao lado do pai. “Estudava de tarde e pela manhã ia muitas vezes para a Stefanini. Nas férias, ajudava a carregar computadores e caixas. Também ia a visitas em clientes. Não entendia direito o que era tudo aquilo, Mais velho, compreendi o impacto e a mudança que estávamos construindo para as pessoas, funcionários e clientes. A empresa era nossa irmã mais velha e tema de muitos jantares.”

Guilherme também compartilha suas memórias dessa época. “Quando entrei na faculdade, a Stefanini já tinha um bom tamanho, mas não era tão grande quanto hoje. Quando saí da faculdade, era quatro vezes maior, com R$ 1 bilhão de faturamento. Trabalhamos nas férias e aprendemos muita coisa em casa. Sabíamos que boa parte do que tínhamos vinha da empresa, então valorizávamos muito isso.”

Mas trabalhar em família traz desafios únicos, concordam Guilherme e Rodrigo. A cobrança por resultados por parte dos filhos é constante, mas a experiência de compartilhar o ambiente de trabalho fortalece os laços. “O cliente quer saber se o problema foi resolvido, não quem somos. Já aprendemos que esse modelo é o melhor a ser seguido”, comenta Guilherme.

Rodrigo completa, destacando a importância do diálogo e da paciência. “A resiliência do Marco, a calma para nos escutar e a adaptabilidade são lições importantes para nós. Isso ajuda a evitar atritos. Hoje, nos cobramos mais do que os outros nos cobram.”

A admiração mútua é um pilar-chave na relação entre Marco e seus filhos. Marco destaca o orgulho que sente ao ver os filhos engajados na empresa e com uma visão pé no chão. “A primeira geração tem uma necessidade de sobrevivência ao começar um negócio. A segunda tem um propósito maior. Eles nunca foram obrigados a seguir a carreira aqui. Sempre tiveram a opção de escolher e contribuir para a empresa.”

Guilherme admira a persistência do pai. “O nível de persistência e garra do Marco é incrível. Ele tem energia e adaptabilidade. Rodrigo, por outro lado, tem disciplina e controle. Somos complementares e aprendemos muito um com o outro.” Rodrigo reflete sobre a importância de ter um grande exemplo em casa. “Ele sempre nos ajudou a encontrar o ponto de equilíbrio.”

A construção de um legado é um dos principais objetivos de Marco, não só para seus filhos, mas para a empresa, funcionários e ainda para o Brasil. “Sempre quis fazer a diferença. Mostrar que é possível fazer e levar a bandeira brasileira ao mundo em tecnologia é um legado bacana.”

Rodrigo e Guilherme compartilham a mesma visão de impacto e transformação. “Queremos manter a resiliência da Stefanini e fortalecer a marca Brasil para fora como sinônimo de qualidade e tecnologia. O que nos motiva é ver as pessoas se desenvolverem e transformar o negócio juntos.”

Para empreendedores ou empresários que trabalham com seus filhos, Marco revela uma lição importante: a educação com valores sólidos é fundamental. “Educar os filhos não com abundância, mas com a noção de que as coisas têm valor e são difíceis. Liderar pelo exemplo é tudo.”

Já Rodrigo e Guilherme aconselham os jovens a trabalharem fora da empresa familiar primeiro. Ver o mundo e conhecer bons – e às vezes maus – exemplos de liderança. “Trabalhar fora foi importante para entender o valor do trabalho e estar realmente disposto a trabalhar o dobro dos demais. Sucessão familiar é um unicórnio. É único e precisa ser tratado com seriedade e dedicação”, pondera Guilherme.

Vittorio Danesi e Fernando Danesi, da Simpress

Vittorio e Fernando Danesi, Simpress. Fotos: Divulgação

Fernando Danesi, diretor comercial da Simpress, cresceu acompanhando de perto a evolução da Simpress. “Estive envolvido com a empresa desde cedo, seja nos trabalhos de escola ou na faculdade”, relembra. A familiaridade com o ambiente de negócios veio naturalmente, impulsionada por um interesse genuíno pelo mundo corporativo, conta.

Para Vittorio, ver o filho seguir seus passos sempre foi motivo de grande orgulho. “É uma alegria e um privilégio ter dentro de casa alguém que compartilha do mesmo interesse e paixão pela área que foi fundamental para meu desenvolvimento profissional”, comenta.

Desde 2017 atuando na Simpress e hoje como diretor Comercial, Fernando sempre teve o respaldo do pai para construir sua própria trajetória, sem privilégios. “Ele está com a gente como qualquer outro funcionário”, explica Vittorio. Fernando, por sua vez, sempre se esforçou para provar seu valor. “Eu sabia que tinha uma grande responsabilidade de dar certo e ocupar esse terreno de maneira natural e propositiva”, afirma.

A cobrança, tanto interna quanto externa, é um desafio constante, reconhece Fernando. “Havia o paradigma de que eu estava lá por ser filho”, admite. No entanto, seu foco em resultados e dedicação ajudaram a dissipar essas percepções. “Tijolo por tijolo, fui mostrando que estou na cadeira por merecimento, sem síndrome do impostor”, acrescenta.

A admiração mútua entre pai e filho é evidente. Fernando descreve Vittorio como uma das pessoas mais competentes que já conheceu, destacando sua capacidade de equilibrar a vida pessoal e profissional e sua visão estratégica. “Ele é um líder inspirador”, diz Fernando. Para Vittorio, transferir conhecimento e valores para o filho é um único. “É único ver meu filho aderir à forma como construí meu modelo de gestão”, comenta ele, que tem outros dois filhos, uma mulher e um homem, que seguiram carreiras fora da Simpress.

Fora do ambiente de trabalho, os Danesi compartilham uma paixão por esportes. “Gostamos de corrida, caminhada, musculação e esportes aquáticos”, conta Fernando. Essa conexão fora do ambiente corporativo ajuda a fortalecer ainda mais o vínculo entre pai e filho.

Para outros pais empresários que trabalham com seus filhos, Fernando oferece um conselho valioso: “Aproveitem essa jornada. É uma oportunidade de aprender e vivenciar o dia a dia do legado que nossos pais construíram.” Vittorio também compartilha uma perspectiva importante. “É fundamental que o pai tenha uma consciência realista das competências, engajamento e ética que o filho vai ter. Não se deve criar uma situação artificial; o filho precisa ser maduro para encarar os desafios dessa jornada. Ambos devem ter visões realistas para não frustrar as expectativas do pai, do filho e da empresa. É importante trabalhar um plano tanto dentro quanto fora da empresa, dar feedback e criar uma divisória clara entre o trabalho do pai e do filho. O vínculo de trabalho não é com o pai, mas com a estrutura na qual ele está inserido”, aconselha.

Com 23 anos de história na Simpress, Vittorio revela que está na “última milha” de sua jornada na empresa, focando em garantir a solidez e o crescimento contínuo da companhia. “Tenho a missão cumprida ao ver que os valores que nortearam minha vida são praticados por nossa equipe”, afirma. Fernando, por sua vez, está determinado a continuar o bom trabalho iniciado pelo pai, mantendo os princípios de ética, respeito e dedicação.

Vanderlei Rigatieri e Bruno Rigatieri, da WDC Networks

Vanderlei Rigatieri e Bruno Rigatieri, da WDC Networks. Fotos: Divulgação

Bruno Rigatieri vivencia a rotina da WDC Networks, fabricante e distribuidora de produtos de TI, desde que criança, já que tem 31 anos de idade e a empresa 21 anos de história. Em entrevista ao IT Forum, o atual diretor comercial da companhia conta que ajudava em pequenas tarefas nas férias escolares desde jovem e, no terceiro ano da faculdade, começou a trabalhar oficialmente com seu pai – e com a mãe, que também é sócia.

Bruno teve, contudo, um papel importante na carreira de seu pai, Vanderlei Rigatieri, fundador e CEO da WDC, antes mesmo da fundação da empresa. “Fui o presidente da Avaya no Brasil e no aniversário dele de 2002 ou 2003, quando perguntamos o que ele queria ganhar de presente, ele disse que queria trabalhar um dia comigo. Ele ficou comigo o dia inteiro, participou de todas as reuniões. No fim do dia, me disse de quem gostou ou não, o que achou legal… Ele já mostrou uma sensibilidade muito interessante.”

Mais de 20 anos depois, Vanderlei criou um plano para que Bruno conhecesse toda a empresa, desde o marketing, passando pelo financeiro, até compras e vendas. “Depois disso, começamos a prepará-lo para o que ele queria fazer. Ele queria ir para vendas, o que foi um desafio, pois ele tinha o DNA mais próximo da mãe, que é da área administrativa”, revela.

Ter conhecido a empresa como um todo foi importante não apenas para o seu conhecimento. Segundo o CEO, os colaboradores da WDC não veem Bruno apenas como o “filho do dono”.

“Não tem ninguém na empresa, fora meu pai, que conheça a empresa tão bem quanto eu. Algumas coisas mudam com o tempo, mas a essência é muito parecida. Eu sei para onde queremos ir, diretamente da fonte. Tudo isso me ajudou a criar o meu respeito e não usar o meu sobrenome”, concorda Bruno.

Mas, claro, nem tudo são flores. Bruno confessa que, algumas vezes, o pai acaba sendo mais direto em sua comunicação. E é natural que os papéis profissionais e familiares se misturem. “Às vezes deixamos de compartilhar algo pessoal porque tivemos um embate profissional”, brinca.

Apesar disso, Vanderlei acredita que o trabalho em família funciona. “Pelo menos para nós, essa relação é positiva. Temos um grupo do WhatsApp só para almoçar junto, para trocar ideias. Essa transparência é muito boa. No nosso caso dá muito certo.”

Bruno aproveita a oportunidade para contar uma história curiosa sobre seu pai. O grande objetivo de Vanderlei era chegar ao primeiro milhão. No ano em que eles – quase – bateram a meta, os funcionários da WDC deram uma lata de milho gigante para ele na festa de fim de ano para brincar com a situação.

A cada ano, o CEO criava um desafio. Se a equipe batesse a meta, ele pagaria uma prenda. Por causa disso, Vanderlei já se vestiu de Carmem Miranda e até foi trabalhar vestido de paetê. “Passamos muito tempo na empresa. Então você também tem que transformar o ambiente de trabalho em algo mais leve e colaborativo. E nada melhor do que tirar sarro do chefe para isso”, diverte-se Vanderlei.

Cesar Schork e Caroline Schork, da Add Value

Cesar Schork e Caroline Schork, da Add Value. Fotos: Divulgação

Cesar começou sua carreira em 1993 e, em 2004, fundou a integradora Add Value – quando Caroline Schork tinha apenas sete anos de idade. Escutando o pai, desde que nasceu, falar sobre sua carreira, não foi difícil que Carol – como é carinhosamente chamada por Cesar – se interessasse pelo mercado de tecnologia, ainda que não tão diretamente.

E, apesar da pouca idade, Cesar conta orgulhosamente que ela já tem três faculdades: História, Pedagogia e está terminando Marketing. “Conversamos muito, eu sou muito curiosa e fui criando familiaridade com o assunto. Quando eu entrei na Add Value, há três anos, eu já me senti em casa. Sinto-me muito próxima e confortável com a tecnologia”, conta ela ao IT Forum.

O fundador da empresa explica que Carol entrou como estagiária de marketing na Add Value. “É uma área que é completamente isolada da minha, eu estou na área de consultoria, lido com clientes, projetos. E ela está a mais no backoffice: marketing e desenvolvimento de imagem. Hoje, ela já responde como Designer”, explica Cesar.

Carol, entretanto, diz que sempre teve uma preocupação de que falassem que ela estava ali apenas pelo seu pai. Ter começado como estagiária foi essencial, segundo ela, para que as pessoas vissem que ela tem capacidade de estar em seu cargo.

Para que o convívio seja harmônico, Cesar diz que procura não se “meter”, já que, por mais que a área de marketing esteja longe da tecnologia, usa muitos recursos pesados – o que pode atrair alguns pedidos de Carol para que os equipamentos funcionem melhor.

“Como não trabalhamos diretamente na mesma área, acaba que todo o tempo que temos fora do trabalho, falamos sobre trabalho. Tentamos nos dividir para não atrapalhar o outro”, complementa Carol. E há mais um elemento essencial para equilibrar essa relação. Cesar revela que sua esposa também trabalha na Add Value, na área contábil.

Eles dão uma simples dica para familiares que trabalham juntos. “Paciência e conversa para cada um saber até onde pode ir dentro do que o outro está fazendo. E não levar muito para o coração, porque o que acontece no horário de trabalho, fica no horário de trabalho.”

Siga o IT Forum no LinkedIn e fique por dentro de todas as notícias! 

Author Photo
Déborah Oliveira

Editora-chefe e diretora de Conteúdo do IT Forum, Déborah Oliveira é jornalista com mais de 17 anos de experiência na área de TI. Tem passagens pelas redações da Computerworld, CIO e IDG Now!. Bacharel em Jornalismo, com graduação executiva em Marketing, e MBA em Marketing. Em 2018, foi vencedora do prêmio de melhor Jornalista de TI no Brasil, do Cecom. Em 2019 e 2020, foi destaque do mesmo prêmio na categoria Telecom. É uma das autoras do livro “Da Informática à Tecnologia da Informação – Jornalistas Contam Suas Histórias”, pela editora Reality Books, lançado em 2020.

Author Photo

Newsletter de tecnologia para você

Os melhores conteúdos do IT Forum na sua caixa de entrada.