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Brasil ainda não está 100% preparado para lidar com fake news nas eleições

As últimas eleições não só do Brasil, mas como de outros países, foram marcadas pelas fakes news. Com as próximas eleições chegando em outubro deste ano, as discussões sobre como barrar – ou diminuir – a desinformação, cresceram. Esse foi o tema da palestra “As fake news e os desafios de uma eleição transparente”, no primeiro dia do Rio Innovation Week.

Gustavo Binenbojm, advogado e professor da UERJ, iniciou a conversa explicando que as democracias liberais são radicadas em duas ideias básicas: na autodeterminação individual – todas as pessoas são habilitadas a fazer as escolhas que desejam em sua vida privada e isso só é possível em uma democracia que assegure direitos. O segundo ponto é a autodeterminação coletiva: como viver é conviver, só é possível o exercício das liberdades individuais em um ambiente onde haja equilibro dessas liberdades, regulamentado pelas autoridades.

“Porém, no Brasil de hoje existe um paradoxo da liberdade de expressão. De um lado, os três anos do governo Bolsonaro ofereceram riscos reais à democracia brasileira em diversos aspectos, mas em especial ao que se refere à liberdade de expressão, de imprensa e de informação. De outro lado, a gente vive um novo momento diferenciado do processo de livre difusão e compartilhamento de informação. Nunca houve tanta informação disponível a um clique”, diz o professor.

Com as redes sociais e os aplicativos de mensagens, existe um risco real à integridade do processo informacional, dando origem às fake news, comenta Gustavo. E existem dois problemas sobre isso: as campanhas chegam a muitas pessoas rapidamente e não há fronteiras regionais ou políticas para isso.

Leia também: 5 dicas para não cair em fake news

Além disso, Marco Aurelio Ruediger, professor e diretor de análise de políticas públicas da Fundação Getúlio Vargas (DAPP/FGV), explica que atualmente a sociedade está em déficit de confiança significativo – tanto no atual presidente, Jair Messias Bolsonaro, quanto nos pré-candidatos, como Lula, Dória e Moro. Com isso, cresce a possibilidade de as pessoas acreditarem em fake news.

“Os jovens estão nas redes sociais e, muitos deles, engajados naquilo que conseguem encontrar dos candidatos e isso pode gerar um choque geracional muito grande. Esse fenômeno pode contribuir para que haja desinformação e fake news. Nas redes sociais, a gente está falando de pessoas que são jovens e nem conhecem os candidatos e outras que vivenciaram os mandatos passados”, complementa Nina da Hora, Cientista da Computação, pesquisadora e hacker antirracista.

Entre as ferramentas utilizadas por grupos para a desmoralização, Nina diz que é comum que façam ou hackeiem um perfil já de grande visibilidade e confiabilidade para influenciar os seguidores. Ela exemplificou dizendo que, no Natal, recebeu diversas mensagens de perfis grandes de negros que foram hackeados.

“Outra estratégia muito usada é usar notícias veiculadas por mídias jornalísticas. O veículo uma informação baseada em dados e nos comentários ou compartilhamentos há uma tentativa de desmoralização da mídia e da informação. Quando isso acontece, o primeiro impulso dos outros usuários é começar o debate dentro da informação ou desinformação, ao invés de buscar a veracidade”, frisa ela.

Leia mais: Ameaças impulsionam investimentos de provedores em cibersegurança

Ainda há diversas barreiras para que as fake news sejam combatidas no Brasil. Por um lado, a justiça brasileira ainda não está preparada para combatê-las. “A justiça brasileira parece um cachorro correndo atrás do rabo. Mas, por outro lado, o congresso discutir sobre é um novo passado e, também, acredito que as pessoas estão aprendendo a lidar com isso”, diz Gustavo.

Além disso, a maior parte das redes sociais usadas no Brasil são de origem estadunidense e, por isso, estão alinhados à cultura e regra dos Estados Unidos. “No cenário internacional, eles colocam diversos temas (como racismo e lgbtfobia) dentro da desinformação, então não há uma análise estrutural e específica sobre cada um desses temas. Isso já dificulta como a mediação vai ser feita nas plataformas”, contextualiza Nina.

Ela também afirma que as redes sociais não têm transparência. Não há um feedback para o usuário sobre os seus dados e sobre denúncias. As empresas dizem apenas se determinado conteúdo saiu ou não e um porquê muitas vezes confuso. Isso cria um transtorno digital que beneficia o engajamento das redes – e o engajamento é, no fim, o grande objetivo de qualquer rede social.

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