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Eles eram CIOs e conquistaram o cobiçado cargo de CDO

Nos últimos dois anos, o mercado levantou mais fortemente a poeira sobre um personagem altamente necessário e estratégico na jornada da Transformação Digital nas organizações: o Chief Digital Officer (DCO). Um profissional com características particulares, que traz no DNA um blend potente de tecnologia e negócios, com visão de futuro para ser aplicada no presente. A questão é: qual profissional está melhor preparado para receber a coroa de CDO nas organizações? 

O relatório “The 2016 State of Digital Transformation”, da consultoria californiana Altimeter, publicado por Brian Solis, principal analista da empresa, também abordou a questão que, até hoje, ronda os bastidores corporativos. De acordo com o levantamento, a preferência entre os executivos consultados apontou para o Chief Marketing Officer (CMO), com 34% das respostas, seguido pelo Chief Information Officer (CIO), com 27%.

Na opinião de Cassio Dreyfuss, vice-presidente de pesquisas do Gartner, a área de Tecnologia da Informação (TI) é a mais preparada para conduzir o processo de Transformação Digital das empresas. Ele acredita que  o CIO tem uma posição única para ser o líder digital.

“O que vemos é que CEOs estão liderando essa visão dos negócios digitais, enquanto o CIO ainda está cuidando da TI tradicional”, disse Dreyfuss durante o VtexDay, evento com foco em e-commerce e varejo realizado em 2017. E foi mais enfático: “O CIO precisa agir para não deixar a oportunidade escapar. Ninguém vai chegar em uma segunda-feira de manhã e dizer que pensou durante o fim de semana  em ser o líder digital”.

Independentemente de pesquisas, em qualquer parte do mundo o que vai definir qual profissional mais adequado para ocupar esse cargo é a estratégia de negócio da empresa, a cultura, seus objetivos e o ramo de atuação, na avaliação de Fernando Birman, Chefe do Escritório Digital da Solvay (CDO da companhia), conglomerado químico dono da Rhodia.

“Na maior parte dos casos, essa função acaba acontecendo de maneira natural, como foi comigo”, revela Birman. Ele era CIO na Rhodia e passou a exercer a mesma função no Grupo Solvay a partir de 2011, quando a holding foi comprada. Em 2014 passou a comandar a TI de todo o grupo na América Latina, baseado na Bélgica, sede da organização.

De acordo com o executivo, a movimentação para a evolução tecnológica na Solvay começou a acontecer com a criação de um time voltado à inovação, em 2015, o que representou um marco rumo à transformação. “Foi o momento da nossa virada, com viagens ao Vale do Silício (EUA), reduto tecnológico norte-americano, e, a partir de então, o digital tornou-se foco estratégico”, diz.

Com a formação desse grupo, a função de Birman passou a ter envolvimento direto com a Transformação Digital e a mudança para o cargo de CDO foi inteiramente natural. “Até porque, a transformação digital é inevitável e não se trata de uma escolha. Ela vai acontecer, querendo ou não. Todos à volta se transformaram: clientes, parceiros e funcionários. Esse alinhamento é obrigatório.” 

Birman acredita não haver um padrão para o cargo de CDOs. Está muito ligado aos valores de cada empresa, sua estratégia e cultura. “Quando uma organização procura por um CDO é porque o seu CIO certamente tem outro papel, bem definido e distinto da proposta desse novo profissional”, alerta.

Muitas vezes a empresa nem mesmo precisa de um CDO, visto que o CIO ou outro profissional, como o CMO, por exemplo, desempenha essa função. “Um CIO que é voltado ao business pode atender perfeitamente às funções de CDO, com bom trânsito entre as áreas de negócios da corporação. Vale ressaltar que a criação desse cargo não é obrigatória” sentencia.

Na percepção de Birman, muitos CIOs também desempenham a função de CDO. Ele explica que o digital ganhou importância tão grande no mercado, e nas empresas, que acrescentou uma pauta muito grande na agenda do CIO. “Aí sim, pode ser inevitável a divisão dessas atividades em cargos distintos: CIO e CDO.”

Nos 32 anos de carreira de Birman, dez foram dedicados à área de finanças e mais 22 anos aos cargos de liderança em tecnologia da informação. Toda essa experiência, segundo ele, o proporcionou segurança para vivenciar um momento vitorioso. “Nunca vi uma onda como essa provocada pelo digital, que trouxe significativa mudança na sociedade e para nós, CIOs, que nos tornamos CDOs de maneira natural”, comemora.

O executivo está diretamente ligado ao presidente da Área de Serviços Compartilhados da Solvay, porque a empresa entende que o digital é tão importante que deve estar na estratégia do negócio. “Meu Escritório Digital apoia todas as áreas de negócio da companhia. Para cada uma delas, há um atendimento diferenciado, personalizado. Aqui somos todos digital.”

 

Um porto seguro na estratégia
O cargo de CDO também aconteceu de maneira natural para Ítalo Flammia, CDO Plus da Porto Seguro. Depois de 12 anos na Natura, quando teve a oportunidade de trabalhar com canais digitais e desenvolver a habilidade de unir tecnologia e negócios, Flammia chegou à Porto Seguro em 2009 e já em 2010 empenhou-se na estruturação de um projeto ousado para a companhia: a estruturação da Porto Seguro Conecta.

Foi um grande desafio, recorda o executivo, porque era uma unidade de negócios da seguradora que iria atuar como operadora virtual móvel (MVNO, na sigla em inglês), a primeira do Brasil, tendo iniciado sua operação em meados de 2013. “Assim, passei a me envolver fortemente com o Digital.”

E não parou por aí. Em 2015 Flammia criou uma área de Pesquisa & desenvolvimento (P&D) para tecnologia e negócio. “Estabelecemos parcerias estratégicas com startups no Brasil e no Vale do Silício (EUA). Assim nasceu a Oxigênio, uma aceleradora de startups.”

As habilidades e experiências como CIO, na avaliação de Flammia, contribuíram para a construção de um profissional muito além da sigla CDO, facilitando todo o processo de evolução do digital na companhia. “Por essa razão, na Porto Seguro, essa função recebeu o nome de CDO Plus”, explica.

A estrutura do CDO Plus envolve inovação, instrumentos de vendas online para o cliente, CRM e Digital. Neste último bloco, a estratégia é voltada principalmente para o uso de tecnologias para melhorar a experiência do cliente e estimular e pressionar as áreas de negócio para melhorar seus produtos e processos e assim torná-los mais simples e intuitivos.

Para Flammia, a sigla CDO não padroniza as funções e habilidades de quem ocupa o cargo. O mais comum no mercado, segundo ele, é que esse profissional seja um gerente de sistemas digitais e de relacionamento com o cliente. 

“Mas o CDO estratégico é aquele que reúne habilidades como ousadia, perfil transformador de cultura, disposição para lutar por seus objetivos, excelente trânsito nas áreas de negócio, soft skills, capacidade de inovar e muita energia. Este é o CDO Plus”, diz. 

Tudo isso é fruto de muita experiência e busca de informação. “E tem muito a ver com a leitura que se faz do mercado e da empresa. Considero que o profissional mais preparado para exercer a função de CDO é o CIO com perfil de inovação e negócios ou mesmo o CMO com perfil de tecnologia e inovação”, declara.

CIO e CDO, cargos distintos?
Até pouco tempo, Lyzbeth Cronembold respondia pela diretora de TI e operações das empresas de Midia OOH do Grupo Bandeirantes e há oito meses assumiu o posto de Diretora de Tecnologia Digital (CDO) do grupo. Essa virada na carreira aconteceu, segundo a executiva, muito em função do fato de ela conhecer profundamente os negócios da empresa. “Quando o profissional tem uma visão limitada e apenas fala sobre infraestrutura e soluções, não consegue performar nesse papel”, acredita.

Na visão da executiva, que tem grande experiência no segmento de mídia e de telecomunicações, o CDO chega para assumir papel de agente transformador. “É por isso que tem de saber transitar nas áreas de negócios”, completa.  Essa é, inclusive, a chave para o sucesso do CDO: se relacionar e entender os negócios. “Caso contrário, o papel do CDO torna-se solitário.” 

Muito além de reunir competências comportamentais e técnicas, o CDO é aquele que tem de inovar, mas também apresentar o retorno do investimento (ROI) das iniciativas, pontua Lyzbeth. “Precisamos sempre criar valor para a empresa e para o usuário.”

“A verdade é que, dependendo dos objetivos de negócio, não dá para acumular os cargos de CIO e CDO”, alerta Flammia. “Porque o CIO é um profissional mais voltado para o dia a dia da agenda operacional e o CDO tem de focar fora dessas atividades e alinhar mercado e empresa”.

Flammia garante que na Porto Seguro não existe rivalidade entre ele e o CIO. “Até porque ele trabalhava na  minha equipe e estamos em sintonia, falamos a mesma linguagem e conheço todas as dores da função. Afinal, fui CIO por 17 anos”, sorri.

Hoje, o executivo responde diretamente para o CEO e ocupa uma posição no board. Essa condição é imperativa, segundo ele, visto que exige muita transformação. “Eu e o CIO trabalhamos em sintonia. Preciso muito dele.” 

Nos últimos cinco anos, a Porto Seguro investiu fortemente em TI e com a evolução surgiu a necessidade de um CDO, impulsionada também pela revolução digital. E foi além com a criação de uma espécie evoluída, o CDO Plus.

Para chegar lá, Flammia sinaliza o caminho para os CIOs: “Leiam bem o ambiente da empresa e seus sinais. Sejam os promotores da mudança e da inovação do negócio. Assumam o papel de protagonistas. E não esqueçam: essa mudança envolve pessoas, comportamento e cultura”.


(*) Com a colaboração de Déborah Oliveira

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