Mercado de banda larga brasileiro: um olhar sobre a última década

Somos cada vez mais movidos pela internet. Há 20 anos, se o Google deixasse de funcionar, não causaria impacto algum em nossas vidas.

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2:14 pm - 03 de novembro de 2019

Somos cada vez mais movidos pela internet. Há 20 anos, se o Google deixasse de funcionar, não causaria impacto algum em nossas vidas. Hoje, quando alguma rede social muito utilizada, como o WhatsApp, fica fora do ar, a situação pode acabar se tornando caótica. Nos tempos atuais, a internet deixou de ser um recurso restrito a alguns setores e grupos sociais e passou a ser um bem acessível para a maior parte da população.

Digo para a maior parte, pois ainda existem lugares que não são conectados. Porém, como vou mostrar ao longo deste artigo, o número de excluídos digitais tem se reduzido cada vez mais, devido, principalmente, aos esforços dos provedores regionais em levar internet para regiões afastadas dos grandes centros.

Aumento de acessos à internet ao longo dos anos

No início dos anos 2000, a instalação de pontos de acesso de banda larga no Brasil caminhou lentamente. O principal fator que influenciou na demora da popularização da internet foram os altos custos da tecnologia necessária para fazer as conexões (na época, a fibra ainda era extremamente cara), o que consequentemente acarretava em custos altos para os consumidores.

Em 2005, a velocidade média da internet via banda larga, estimada pela ABRINT, era de 2 Mbps e o preço médio era de R$ 100 por Mbps. Já em 2010, a velocidade passou a ser de 4,41 Mbps, com um custo de R$ 21,2 por Mbps, e agora, em 2019, a velocidade média é de 24,62 Mbps e o custo é de R$3,5 por Mbps. Vale a pena ressaltar que em 2005, quando os preços ainda eram muito elevados, 57,4% da população brasileira utilizava internet discada e somente 1,33% acessava via banda larga (dados PNAD 2005).

Curiosamente, conseguimos perceber muito bem esse período de expansão das conexões da banda larga em domicílios quando lembramos da ascensão e declínio das Lan Houses, muito populares entre 2005 e 2008. Durante o período, os estabelecimentos viram um aumento de 75% dos frequentadores. No entanto, esse cenário começou a mudar a partir de 2010. De acordo com pesquisa do TIC Domicílios e Usuários 2011, 67% dos acessos à internet eram feitas em casa e apenas 28% nas Lan Houses.

De acordo com a PNAD 2009 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no final daquele ano haviam 67,9 milhões de brasileiros com acesso à internet, crescimento de 21,5% em relação a 2008. Já o TIC Domicílios 2011, produzido pelo Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação) apontou que, em 2010, pouco mais de um quarto (27%) dos domicílios no Brasil possuíam pontos privados de acesso à internet. Para se ter uma ideia, entre esse ano e 2018, data do último TIC Domicílios, este número subiu para 67% (46,5 milhões). No entanto, apesar dessa expansão, 30% dos domicílios em áreas urbanas e 56% dos localizados em áreas rurais ainda não possuem conexão à internet.

Com o passar dos anos, as tecnologias foram evoluindo e o custo de instalação das redes foi diminuindo, o que ajudou a expandir as redes de banda larga pelo Brasil. De acordo com a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), de 2005 para 2018, o número de acessos à internet via banda larga fixa cresceu 276% – ainda segundo a Agência, o market share da fibra óptica aumentou de 0,53%, em 2007, para 18,50% em 2018. Atualmente, a tecnologia corresponde a 22,9% de todas as conexões de banda larga no Brasil.

Importância e participação dos provedores regionais no Brasil

Nosso país é muito grande, tanto em território quanto em população — são 202 milhões de pessoas vivendo em um território de 8 milhões de km², dividido em 26 estados e 5.569 municípios.

Por muito tempo, as grandes operadoras de telecomunicações focaram suas operações nos grandes centros e capitais brasileiras, atendendo, primariamente, bairros nobres e bem localizados para depois irem abraçando, aos poucos, as periferias. Desta forma, parte da população brasileira, principalmente habitantes de interiores e regiões afastadas, viveu (e em alguns lugares ainda vive) sem acesso à internet.

Os provedores foram os primeiros que se aventuraram pelas regiões afastadas do Brasil e realizaram o trabalho de conectar milhares de pessoas ao mundo online. Em 2010, os provedores regionais representavam 10% do mercado e hoje chegam a 27%, tornando-se o segundo maior grupo de banda larga fixa no País, sendo responsável por mais de 8 milhões de acessos. De acordo com a Anatel, grande parte dos municípios (78,2%) possui cinco ou mais ISPs ativos.

Mas os provedores não aumentaram apenas seu market share. Em 2018, o grupo foi responsável por 83% (1,5 milhão) dos novos acessos de banda larga no Brasil, enquanto as grandes operadoras por apenas 17%. De acordo com a Anatel, o Brasil fechou agosto deste ano com 32,5 milhões de conexões fixas, sendo que 8,5 milhões delas foram realizadas via fibra óptica.

Apesar do crescimento contínuo da participação dos ISPs no mercado da banda larga fixa, ainda é preciso realizar um trabalho de conscientização quanto à importância do preenchimento da base de dados da Anatel. Na realidade, esse é um dos maiores entraves em se tratando do monitoramento do crescimento dos provedores regionais. Nosso trabalho já é reconhecido e divulgado nacionalmente, já que somos os responsáveis por conectar cerca de 8,2 milhões de domicílios à internet. No entanto, muitos provedores ainda deixam de enviar os dados de acessos e conexões corretamente à Anatel, o que acaba, às vezes, gerando dados aquém da realidade.

Ainda temos muita base e território para cobrir e muitas pessoas a quem levar conexão de banda larga – apesar do crescimento contínuo dos acessos, ainda há muito a ser feito. Enquanto a expansão da internet não for considerada realmente uma prioridade nacional, e isso acontece por meio de uma política pública bem articulada entre todos os entes públicos e privados envolvidos na expansão da infraestrutura, muitos brasileiros demorarão mais alguns anos para conseguir acessar à internet de seus domicílios.

*Por André Felipe Rodrigues, presidente do Conselho Administrativo da ABRINT (Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações)

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