O negócio dele é investir em startups

Do departamento de TI do Mcdonalds até a compra da participação da Mitsubishi e Intec na Accesstage, executivo conta sua história empreendedora

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10:14 pm - 11 de outubro de 2019
cultura, grupo, startup, metodologia ágil Foto: Shutterstock

Com uma base de mais de 120 mil empresas conectadas e com estimativa de faturar cerca de R$ 100 milhões  em 2019, a Accesstage é uma das maiores integradoras de soluções e serviços para a gestão de pagamentos/recebimentos e transferência eletrônica de informações financeiras. Nascida como um braço da gigante japonesa Mitsubishi em 2001, ela é resultado da experiência e minha visão empreendedora. Nasci na pequena Guaraçaí, a 600 km de São Paulo, sou um programador que viu no boom da internet brasileira no início dos nos 2000 espaço para oferecer ao mercado soluções que, na época, nem mesmo o próprio mercado sabia que precisaria ainda, como os meios de pagamento eletrônicos.

Sou filho de um sapateiro e de uma dona de casa e neto de imigrantes japoneses que teve sua educação integralmente concluída no ensino público e cursei Ciências da Computação na Universidade de São Paulo (USP), em São Carlos. Para não dizer que não fiz nada particular, meus pais conseguiram bancar um ano de cursinho para aumentar minhas chances de estudar em uma universidade pública. Lembro que me disseram ‘Celso, temos condições para um ano de cursinho. O ideal é você passar em uma universidade pública’. Eu pensei: ‘não posso falhar’. No final, passei em três universidades públicas e optei por cursar em São Carlos (também fui aprovado em Engenharia na Unesp em Ilha Solteira e em Ciências da Computação na Fatec, em São Paulo).

Nos tempos da faculdade (ingressei em 1987 e colei grau na turma de 1990), dividi uma república com outros nove estudantes, a maioria do interior e de outras regiões do país. Aprendi a lavar, passar e a cozinhar, especialmente nos finais de semana, longe do tradicional bandejão. Fiz uma graduação em curso da vida. Durante o período acadêmico, ganhei experiência. Participei ativamente como monitor da própria USP e diretor do Centro Acadêmico Armando Salles de Oliveira.

Após a graduação, meu primeiro emprego foi no departamento de TI do Mc’Donalds como analista de sistemas júnior. Dois anos mais tarde, cheguei ao Banco de Boston, onde moldei o gosto pelo setor financeiro. Os sete anos seguintes a essa oportunidade, as linhas de código foram deixadas um pouco de lado para assumir uma posição na área comercial da Tech Interchange, empresa que desenvolvia soluções para o setor financeiro.

Em 2001, com o boom da internet no Brasil e já experiente em programação e vendas, chegou a hora de empreender, ainda que o meu maior sonho, nos tempos da faculdade, era apenas trabalhar e ter um bom salário. A primeira empresa, a Maxlog, era uma startup na área de logística. Foi importantíssima demais para o meu crescimento, pois ela ensinou muito. Vivemos toda a jornada do início ao final, quando literalmente falimos e tivemos de encerrar a operação depois de ter rodado um ano e meio, conquistado clientes e todo o processo.

A experiência com a Maxlog deu início à trajetória de sucesso da Accesstage. Foi a partir da negociação de venda da startup para a gigante Mitsubishi que eu e meus sócios fizemos os contatos que iriam ser importantes para a criação da nova empresa. A venda da startup não se concretizou, mas as conversas seguiram porque a Mitsubishi queria uma empresa no Brasil.

Lembro bem deste dia! Em 24 de setembro de 2001 – eu tinha 32 anos – assumi como diretor comercial da Accesstage, uma empresa de apenas cinco funcionários resultante da integração entre as japonesas Intec (40%) e a Mitsubishi (60%). A primeira ideia era fazer da Accesstage uma empresa de logística, porém, o mercado não favoreceu na época. Logo partimos para um plano paralelo no setor financeiro, minha paixão. Deu certo e a Accesstage se tornou pioneira ao atuar no setor de meios eletrônicos de pagamentos e intercâmbio de dados financeiros (EDI) no Brasil.

Em 2004, a Accesstage começava a “ganhar corpo” até que a Intec resolveu se retirar da parceira. Com isso cheguei em um momento crucial na minha vida. Tinha a oportunidade de comprar a parte da Intec e me tornar sócio da Mitsubishi em uma companhia que tinha ajudado a criar e que sabia ser promissora. Mas para isso teria de vender todo o patrimônio que havia conquistado até então e ainda recorrer a um financiamento em banco.

E foi o que fizemos. Eu e meu sócio Fernando Takano levantamos o capital necessário vendendo nossos apartamentos e carros, além de adquirir um empréstimo no banco que foi pago em três anos. Nesse período, fiquei a pé, fui morar de aluguel com a esposa e filhos e o transporte oficial para o escritório na região da Paulista era o metrô.

Comigo, Takano e a Mitsubishi, a empresa cresceu ainda mais. Mas em 2007, para nossa surpresa, assim que terminamos de pagar o investimento feito pela compra da parte da Intec, a Mitsubishi anunciou que ela também se retiraria da operação e nos ofereceu para compramos dela os 60% restantes.

Ainda peguei um avião em São Paulo e desembarquei em Tóquio para tentar demover a ideia junto aos diretores japoneses da matriz. Foi em vão. A decisão era global. Perdi tempo e dinheiro, mas voltei com a certeza de que, assim como já havia feito com a Intec, a solução seria encarar o novo desafio. Apesar do susto inicial, fomos eu e Takano recorrer a financiamentos. Desta vez, o apartamento reconquistado não precisou ser sacrificado e nós já sabíamos o quanto poderíamos crescer com a Accesstage.

A compra foi feita de maneira amistosa e negociada em cinco anos. A Accesstage se tornou uma empresa 100% nacional e apresenta desde então crescimento e estabilidade. A saída oficial da Mitsubishi na parceria ocorreu em 2013. Na presidência eu substitui o japonês  Hiroshi Nimura em 2008 com o desafio de, já no primeiro ano de sua gestão, fazer a companhia saltar de um faturamento de R$ 30 milhões para R$ 38 milhões.

Em 2018, a empresa, que faturou R$ 75 milhões, investiu em seis startups que foram trazidas para o guarda-chuva de produtos oferecidos pela Accesstage ao mercado.  Hoje, quando investimos em startups e fintechs, além de buscarmos novos negócios promissores e que agreguem ao nosso negócio, queremos também passar experiência para esse pessoal novo que começa no mercado. Como empreendedor eu já passei por muito, aprendi muito, tenho bagagem e quero compartilhar. Nossa política é de respeito ao empreendedor e prevê que sempre deixemos uma participação relevante para ele. O que queremos é um parceiro.

Foi nesse cenário de crescimento, vislumbrado a longo prazo, que a Accesstage partiu para investir em startups em 2018. Começou o primeiro semestre com a Trustion, conciliadora de recebíveis desenvolvida em uma parceria com a Brink’s no valor de US$ 10 milhões, depois investimos R$ 5 milhões na Negocie Online, fintech com uma plataforma inovadora de autosserviço digital que permite migrar o cliente para o canal digital de forma orquestrada, trazendo uma redução de até 40% nas interações humanas, e posteriormente o investimento foi na fintech Moneto no valor de R$ 2 milhões, que tem como ideia principal automatizar o processo de cobranças e recebimento para o público autônomo e desbancarizado, e promover o crescimento de pequenos negócios.

No segundo semestre, não tiramos o pé do acelerador. Veio a expansão na Movats Business, que oferece a solução de BPO (Business Process Outsourcing) para processos financeiros e teve um aumento no quadro, passando de 50 para 130 colaboradores. A companhia também investiu R$ 2 milhões na IN10, uma empresa com expertise em análise de dados e business intelligence, que fornece, além de tecnologia, a inteligência na consolidação e apresentação dos dados de forma ágil para a tomada de decisão para as empresas, e terminou o ano investindo R$ 2 milhões na Cyberblock, startup criada com o intuito de promover e facilitar a integração da tecnologia blockchain ao universo dos clientes. Juntas, essas empresas exigiram um investimento de aproximadamente R$ 50 milhões em 2018.

Há seis anos, passei a colaborar com o Instituto de Oportunidade Social – IOS (http://ios.org.br/), onde palestro para adolescentes moradores de comunidades carentes contando minha história e falando sobre a importância de se aproveitar cada oportunidade recebida para buscar o crescimento. Além das palestras, na Accesstage, algumas oportunidades de trabalho são preenchidas por pessoas vindas do projeto.

Agora em maio último, passou a integrar o grupo a Kaspper Innovation, uma fábrica de softwares sob medida adquirida pela Accesstage por R$2 milhões. A Kaspper Innovation é uma startup que surge com a expectativa de faturamento superior R$ 3 milhões em seu primeiro ano de operação.

Mantendo o ritmo de expansão e crescimento, nossa meta é encerrar 2019 com R$ 100 milhões de faturamento no Grupo Accesstage, sempre me mantendo atento às novidades e tendências de mercados e tecnologia.

*Por Celso Sato, CEO Accesstage

**Sobre a Accesstage: especialista em soluções para intercâmbio de dados financeiros, a Accesstage é sinônimo de conectividade financeira e pioneira na utilização dos recursos da internet como impulsionadores de negócios. A empresa otimiza a gestão da cadeia financeira de seus clientes e garante integridade e segurança nas vendas, pagamentos e recebimentos para todos os envolvidos na cadeia – empresas, fornecedores, adquirentes, bandeiras e bancos.

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