Natura se prepara para comprar a Avon. Por que isso é disruptivo?

A capacidade de se transformar e a cultura das duas empresas serão dois elementos-chave nesse movimento estratégico

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7:36 am - 23 de maio de 2019

Quando o assunto é transformação digital a Natura é um dos melhores casos que temos no Brasil. Ela iniciou a sua jornada em 2015 com o então CIO, Agenor Leão, que como consequência do sucesso do trabalho foi promovido a vice-presidente da empresa na Argentina, unidade que engloba todas as operações do cone sul. É importante lembrar que em poucas empresas o CIO é o responsável por puxar a transformação digital. Geralmente essa tarefa fica para a liderança de negócios.

Com a reorganização da empresa em grupos ágeis, mesclando a TI e os negócios em times de produto, a empresa passou a entregar continuamente novos aplicativos e soluções, transformando o trabalho de mais de 1,8 milhões de consultoras Natura. O que era papel passou a ser digital, desde o catálogo e pedido, até o preço e a logística, contando com o suporte de ‘analytics’ ao longo de todo o processo.

Na contramão, a Avon não conseguiu se transformar e superar seus velhos sistemas. Embora a mobilidade esteja presente na vida de 6 milhões de suas consultoras, o processo e o modelo de negócios mudaram pouco, com uma produtividade relativamente baixa e consequentemente menor lucratividade. A operação brasileira da Avon é a maior do grupo no mundo, mas a queda nas vendas nos EUA criou dificuldades e fez com que a ela separasse a unidade americana da europeia.

A Natura tem, na verdade, uma tarefa difícil e ao mesmo tempo ambiciosa: negociar em relação à Avon brasileira e americana. A Avon tem números maiores, tanto de pessoas quanto de faturamento, além disso, sua compra colocaria todo o processo da Natura em teste, que é diferente do praticado nos Estados Unidos e não se sabe ao certo como funcionaria por lá. É importante, porém, considerar que os times ágeis compostos por negócios e TI da Natura, serão capazes de rapidamente testar, errar, corrigir e superar as diferenças de forma a ajustar o modelo às consultoras americanas.

Portanto, não é uma questão de tecnologia e sim da cultura organizacional da agilidade ser consistente o suficiente para levar a Natura ao sucesso na aquisição. A companhia quando é digital tem um valor superior, pois tem uma nova competência competitiva.

Organizar startups ágeis é muito mais fácil que grandes empresas com milhões de pessoas envolvidas, como neste caso. Para os céticos em relação à cloud, cibersegurança e metodologia ágil, o case de transformação digital da Natura é uma prova de que a ruptura de modelos de negócios tradicionais é viável para grandes empresas também. Existe um caminho e ele já é conhecido.

*Pedro Bicudo é autor de pesquisas da ISG no Brasil em parceria com a TGT Consult

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