Com a escassez de talentos, empresas de tecnologia focam em capacitação

Para além de recrutar colaboradores, formar profissionais capacitados e alinhados com o mercado ajuda a enfrentar a escassez de talentos.

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6:20 pm - 17 de outubro de 2019
capacitação

O crescimento exponencial do setor de tecnologia não é novidade, para além de startups, os processos nas organizações caminham para a automatização por meio de softwares. Com a crescente demanda para a área, o desafio é encontrar profissionais capacitados no mercado, tendo em vista que o sistema educacional não acompanhou toda essa evolução. Num cenário em que 13,4 milhão de brasileiros estão desempregados, o setor de TI demandará 420 mil novos empregos entre 2018 e 2024, de acordo com um relatório da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom).

O setor de TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação) foi responsável por 7% do PIB brasileiro em 2018. Além disso, esse mercado brasileiro é o 7º maior do mundo. Atentas às mudanças e à escassez de talentos, as empresas de tecnologia estão buscando capacitar desenvolvedores, formando profissionais alinhados com as necessidades do mercado.

Recrutamento sustentável

A Codenation, startup de Florianópolis (SC) criada em 2017, tem como propósito suprir a demanda de mão de obra especializada na área de tecnologia por meio da capacitação, criando um recrutamento sustentável. Por meio de seu programa de aceleração, o AceleraDev, fundamentado na abordagem Challenge Based Learning (aprendizado baseado em desafios), os desenvolvedores e cientistas de dados realizam desafios de programação, recebem auxílio de tutores e assistem palestras com convidados que já atuam no mercado, tudo de forma gratuita graças ao apoio de empresas parcerias. As acelerações possuem diferentes edições, cada uma com foco em uma linguagem de programação, ao final, os participantes destaque têm chances de contratação nas empresas apoiadoras. A startup atende tanto estudantes recém-saídos da universidade e sem experiência, quanto profissionais que já trabalham no setor e não conseguem chegar aos polos de tecnologia, além das próprias empresas que estão em busca de novos talentos.

Especialistas no negócio

Não basta saber programar. Para entregar uma solução eficiente, o desenvolvedor deve entender do negócio do cliente. Quem avisa é Tarcísio Mello, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da divisão de Agricultura da Hexagon, empresa global de soluções digitais. Para ele, estar conectado com o cliente agiliza as entregas, corroborando com o que vem sendo exigido dos times de desenvolvedores por meio de metodologias como DevOps. Além disso, a chance de entregar um produto com mais qualidade é infinitamente maior. Por isso, o especialista sugere que as empresas não tratem seu time de desenvolvimento interno como se fosse uma fábrica de software. “Sempre que vou apresentar as demandas e os requisitos para o time de desenvolvedores, tenho buscado gastar um tempo para contextualizar o trabalho do ponto de vista do negócio para o qual ele se destina. Quero que eles tenham em mente não apenas a missão de criar um botão em uma tela qualquer, mas que eles saibam como esse botão se insere no processo do cliente e qual o benefício que ele vai trazer para o cliente”.

Valorização de experiências

Empoderar desenvolvedores e valorizar seu conhecimento é uma das práticas que a Cheesecake Labs, empresa de design e desenvolvimento web & mobile, realiza para reter talentos e ajudá-los a alavancar suas trajetórias profissionais. A empresa aposta em uma gestão 3.0, na qual, as trilhas de carreira são desenhadas em conjunto com cada profissional para atender os seus anseios dentro da empresa e torná-lo protagonista na jornada.

“Estes acompanhamentos acontecem mensalmente, em formato de mentoria em que líder e liderado se preparam com feedbacks de crescimento para ambas as partes e definem os novos passos de desenvolvimento para avanço da carreira”, explica Caroline Schmitz, diretora de gestão de pessoas na Cheesecake Labs. A cultura de protagonismo se traduz também na série de benefícios oferecidos ao time que inclui auxílio educação. Além disso, por acreditar que o conhecimento é cíclico, a empresa incentiva os Cakers, como são chamados os colaboradores, a compartilhar experiências, o que contribui para o desenvolvimento de todos.

Plataforma online

Para poder fornecer profissionais altamente capacitados e soluções sob medida em tecnologia da informação, a Supero investe em constantes treinamentos. Em 2019 já foram 26 cursos e mais de 1700 horas de capacitação. Recentemente, a empresa deu início a um projeto através de uma plataforma online para capacitar os desenvolvedores em outras tecnologias ou aprimorar as que já atuam. Para isso, mapearam o conhecimento do time, o interesse de cada pessoa no aprendizado de outras linguagens e as oportunidades de negócios que existem, preparando os envolvidos para atendê-las.

A plataforma possibilita a criação de um plano de estudo montado pelo gestor, assim como sugestões de trilhas com base nas tecnologias desejadas. “Com o mercado de TI aquecido, um boom de novas empresas e startups e a qualificação dos profissionais não acompanhando no mesmo ritmo, vemos uma boa oportunidade nesse modelo de capacitação. Com foco em qualificar profissionais que possuem bom potencial, mas ainda não estão tão qualificados. Como os profissionais de TI, na sua grande maioria, são perfis autodidatas vemos que o programa de capacitação tende a ter sucesso”, explica Bárbara Daniel Vieira, Coordenadora de Desenvolvimento Humano e Organizacional da Supero.

Parceria para capacitar profissionais

A variedade de linguagens e plataformas utilizadas pelas empresas de tecnologia traz desafios adicionais às equipes de recrutamento: ainda que encontrem profissionais qualificados na área de desenvolvimento, é comum que eles tenham pouca – ou nenhuma – familiaridade com ferramentas específicas. Esse é o caso na HostGator, multinacional de hospedagem de sites e serviços para presença online.

“Temos muita dificuldade para contratar profissionais com conhecimento em Linux”, conta Andreia Girardini, gerente de Recursos Humanos. A saída foi procurar parcerias para capacitar os profissionais que já trabalham lá. Em conjunto com o Senai, a empresa montou um curso com um currículo que atendia às suas demandas de conhecimento em Linux para ser oferecido aos colaboradores. Desde 2017, 152 colaboradores passaram pela formação. “De lá para cá, promovemos muitas pessoas internamente, sem precisar correr para o mercado. Ajudamos as pessoas a se desenvolverem e, em contrapartida, elas nos ajudam a crescer”, diz Andreia.

Formação para mulheres de baixa renda

Falta gente para o setor de tecnologia, mas sobram pessoas interessadas em se inserir na área. Com o objetivo de fomentar a inclusão de mulheres no segmento, a startup Agendor apoia o programa Laboratoria, que oferece formação em programação e outras áreas da tecnologia para o público feminino. Participam mulheres, maiores de 18 anos, que cursaram o Ensino Médio em escola pública ou em escola privada com bolsa por critério de renda.

O programa dura seis meses e conta com a mentoria de profissionais que atuam em empresas já estabelecidas. É nessa etapa do treinamento que os desenvolvedores do time do Agendor – uma plataforma de gestão comercial e CRM (gestão de relacionamento com clientes – entram em cena. Entre outras ações, eles simulam entrevistas técnicas com as participantes, para prepará-las para situações reais e deixá-las mais confiantes em processos seletivos. No fim do treinamento, as alunas poderão integrar as seleções realizadas pela empresa e por outras.

“Estamos ajudando a formar desenvolvedoras não apenas para trabalharem conosco”, diz Mariana Ledesma, gerente de Gente e Gestão do Agendor. “O projeto tem impacto positivo no mercado como um todo e potencial para mudar a vida dessas mulheres”.

*Por Júlia Mallmann

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