Vantagens e desvantagens do home office

Adotado pela maioria das empresas devido à pandemia, o home office vem na esteira das grandes transformações digitais e continuará como modelo de trabalho de muitos profissionais após o fim do isolamento social. Várias organizações já anunciaram sua adoção até o final deste ano e estão avaliando a continuidade para 2021. 

O home office já é uma realidade no Brasil e no mundo. Alguns nichos até perceberam um aumento de produtividade – como áreas financeiras e de tecnologia – e um dos motivos é a redução de despesas: diminuindo a quantidade de profissionais fixos, de estruturas maiores, cai o gasto com aluguel, equipe de limpeza, entre outros. 

Essa questão econômica foi uma das vantagens para donos de empresas, além da abertura para novas formas de trabalho, novos negócios. Quanto às desvantagens, alguns podem enxergar a distância entre líder e colaborador como fator de perda de controle; eu, pessoalmente, vejo como vantagem porque controlar não funciona mais. É hora de pensar em uma nova forma de liderar. 

Hoje, existem muitas ferramentas digitais que ajudam a gerenciar equipes a distância. Elas permitem maior colaboração, de compartilhamento de arquivos, de documentos que são acompanhados; o que facilita o trabalho das pessoas. Fora isso, o líder precisa se fazer presente por meio de contatos diários, mudando a perspectiva de comando e controle. Essa transformação digital gera uma mudança na gestão. 

Ou seja, o líder estará presente como ‘parceiro’. Então ele precisa se mostrar disponível diariamente. Outro ponto que vinha funcionando bem antes da pandemia, é o ‘happy hour’. Muitos executivos adotaram essa forma de encontro para falar de outros assuntos. É uma ideia que ajuda a engajar a equipe, já que as pessoas se sentem valorizadas e reconhecidas, prontas para prosseguirem motivadas.

Quantos às vantagens do home office visto sob a perspectiva do colaborador, a flexibilidade de horário é um ponto positivo, assim como uma certa economia – já que não terá despesas de almoço e de deslocamento até sua empresa. Entre as desvantagens estão a falta de convívio com os colegas de trabalho e as atividades domésticas, que se acumulam, além da atenção aos filhos. Mas, para conciliar trabalho e vida pessoal é preciso ter disciplina e não deixar que tudo se misture.

Não é fácil gerenciar o tempo e manter a produtividade ao mesmo tempo. Ainda mais trabalhando de casa, lugar onde existe muita distração, principalmente para quem têm filhos pequenos e família grande. No geral, a primeira coisa que eu indico é negociar com os familiares, impondo limites para que entendam que você está ali trabalhando. Outro ponto importante é estabelecer horários para cada turno, para tomar um cafezinho, poder se levantar de vez em quando, dar um tempo. Também é bom reservar um espaço na agenda para fazer refeições com a família. Tudo é uma questão de equilíbrio.

Se a pessoa ficar sentada o tempo inteiro isso vai impactar negativamente também. Outra questão, que não se refere à gestão do tempo, mas no quesito de criar um ritual, de tipo: acordei, vou tomar banho, me arrumar, mesmo que seja uma roupa mais casual, mas tirar o pijama. Para algumas pessoas isso serve como gatilho, precisam de um ritual. É preciso ter maturidade.

Há os que produzem mais no escritório por não terem desenvolvido essa disciplina para trabalhar de casa e perdem o foco com facilidade. Já outros, produzem mais em casa, por não ter barulho e movimento de pessoas por perto e nem interrupções que acontecem na empresa o tempo inteiro. Cada um desenvolve sua atividade melhor de uma maneira e agora é a hora de negociar com seu líder como será no pós-pandemia. Acredito que as empresas devem estar abertas a essa negociação e que os profissionais sejam proativos e protagonistas, para poderem ajustar com seus líderes, a melhor forma para conciliar produtividade e qualidade de vida.

Preparar um ambiente adequado para o home office é uma recomendação que julgo importante. Para quem não tem um escritório em casa, o ideal seria adaptar um quarto ou uma parte de algum cômodo, um espaço fixo exclusivo para trabalhar. Mesmo que seja na sala, reservar uma mesa com uma cadeira confortável, um computador e, se possível, até colocar objetos próximos como a pessoa costumava fazer em sua mesa na empresa, alguma coisa que faça lembrar o ambiente de trabalho. Eu diria que é criar um espaço como se a pessoa estivesse mesmo na empresa. 

O contato diário com os colegas de trabalho também faz falta para quem faz home office. Devemos lembrar que somos um povo latino, que gosta do contato. Se pensarmos no mundo pós-pandemia com esse modelo de trabalho, é interessante combinar com o líder que vai trabalhar alguns dias de casa e, pelo menos, dois dias da semana vai ao escritório, propor um esquema de rodízio, até para poder estar presente no ambiente de trabalho alguns dias. Isso vai ajudar. Mas, vamos supor que a empresa adote o home office ‘full-time’. Como suprir essa falta? Usando a criatividade. Quem está trabalhando de home office, mas sente falta do contato com as pessoas, pode combinar com os colegas de trabalho para trabalharem juntos um dia ou outro em algum café, assim dá para mesclar. 

A verdade é que ninguém estava preparado para ver sua equipe toda trabalhar a distância. Outra coisa fundamental é que não dá mais para adiar a transformação digital, ela já é uma realidade na vida de todo mundo. É urgente olhar para novos horizontes, se reinventar a partir de novos modelos de negócio. Esta é a grande lição que a crise do coronavírus nos traz.

*Susanne Andrade é especialista em desenvolvimento humano e autora dos best-sellers “O Poder da Simplicidade no Mundo Ágil” (Editora Gente) e “O Segredo do Sucesso é Ser Humano”. É sócia-diretora da A&B Consultoria e Desenvolvimento Humano. Atua como Head de Soft Skills na plataforma NL Pro. Coach, palestrante e professora de cursos de MBA pela FIAP. Responsável pelo “Canal Humaniza-TI” do youtube.