Vai uma “CaronaVac” aí?

Novos hábitos exigidos pelo isolamento social nos deixaram muito mais conscientes sobre nós mesmos e o outro. Uma vacina não precisa mudar isso

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9:12 am - 01 de fevereiro de 2021

Na última quinzena fomos bombardeados com notícias e posts sobre a aprovação da CoronaVac e o início da vacinação nos profissionais da saúde. Muitos dos meus amigos da área compartilharam fotos dos seus braços vacinados e legendas com belas reflexões. Eu explodi em gratidão, pois reconheço tamanho heroísmo, desde o momento da decisão pela profissão, até agora, nessa luta incansável contra a COVID-19. Por fim, a ciência venceu essa batalha.

Esse acontecimento rendeu muita coisa na internet. E como brasileiro é criativo e empreende fortemente na “indústria de memes” recebi um que me chamou atenção, tanto que ele foi escolhido como imagem desse artigo.

meme gatinho

Foto: Reprodução

Bem, é verdade que, quando é preciso explicar uma piada, ou é porque ela é ruim ou porque é descontextualizada. Mas vale a explicação desse meme por motivos didáticos: o gatinho da foto, denominado “home officer”, está tentando se esconder, onde não há saída. Um homem, denominado “CoronaVac”, está arrancando dali o gato, que resiste.

Engraçado ou triste?

Não é mentira que muita gente gostou de trabalhar em home office. Eu adorei cuidar mais das coisas de casa, cozinhar minha própria comida e dar utilidade a tantas horas que perdia no trânsito. Mudei todos meus horários que seguia há anos, como a hora do café, a hora de dormir e acordar, a hora de tomar banho, de ler, de fazer as unhas e a sobrancelha, de comer um docinho e a hora de não fazer nada. Isso me gerou uma rara energia criativa, usada para cocriar muita coisa nova.

Mas o fato é que o home office não foi opcional.

Subitamente tivemos que sacrificar parte de algum cômodo para o escritório, aumentar a banda da internet, comprar uma panela de pressão e produtos de limpeza pesada. Descobrimos vários apps, de e-commerce à meditação, utilizamos todos os serviços “no digital”, e, assim, ficamos com os olhos secos de tanta tela. Fizemos um intensivão em relacionamento com as pessoas da nossa casa, redescobrimos suas qualidades (e defeitos). De algumas nos aproximamos; outras, nos separamos.

Cinco meses depois, como num pós-inverno russo, aos poucos, botamos a “cara na rua”. Os estabelecimentos voltaram a todo vapor e os escritórios se adaptaram para um retorno consciente. Lembro que foi boa a experiência de dirigir livremente pelas ruas do bairro da Vila Olímpia, sem trânsito… Melhor ainda foi encontrar colegas do trabalho, conversar sem tela, trocar abraços gestuais e sorrisos com os olhos. Tudo regado a álcool em gel.

Leia também: 5 dicas para planejar um 2021 mais cocriativo

Dentro ou fora de casa, pessoas, famílias e empresas, viveram experiências transgressoras no último ano. Não há quem diga que fechou 2020 do mesmo jeito que iniciou. Não há quem não tenha ganhado ou perdido algo: trabalho, dinheiro, desafios, clientes, amigos. Porém creio que o maior de todos os ganhos tenha sido no âmbito consciencial. Essa chacoalhada no mundo nos deixou muito mais conscientes sobre nós mesmos, sobre o outro (que está do teu lado ou lá na China), sobre a importância dos relacionamentos e sobre o valor da vida.

Bonito. Mas e o gatinho e a vacina?

Assim como o gato, tem muita gente com medo da vacina, e não estou falando sobre virar jacaré. O grande receio é que a vacina as imunize do aprendizado que tiveram nesse período. Como se, ao tomar a vacina, voltassem imediatamente as suas rotinas e relações pré-COVID.

A boa nova é que isso não é possível. Se você viu, tá visto. Se viveu, tá vivido. Paladar não retrocede. Consciência não tem ré, só anda pra frente. O (velho) “novo normal” já rolou.

Portanto, amigos, que venha a vacina, e com ela, as novas relações no B2C, B2B, H2H, no presencial, no digital, com ou sem máscara. Já tem muita oportunidade por aí esperando por nós, mas precisamos de abertura para reconhecê-las. Eu não tenho medo da picada! Mas enquanto não está na minha hora de tomar a CoronaVac, vou pegar uma carona na vacina. Estou indo de CaronaVac.

*Gabriela Vicari trabalha desde 2002 com marketing voltado ao setor de TI. Nos últimos 15 anos cocriou com diversas empresas e pessoas para desenhar experiências disruptivas em eventos para C-levels de tecnologia. Atualmente, é diretora de Comunicação e Marketing na IT Mídia

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