Uma exceção em meio à derrocada econômica

A pandemia do coronavírus está sendo, para todo o planeta, um episódio muito triste. Além das incontáveis e preciosas vidas perdidas, tivemos para cada falecimento aproximadamente 1.000 pessoas infectadas, muitas com sequelas permanentes. Tão devastador quanto o lado humano, o COVID 19 trouxe consequências seríssimas para a economia e, consequentemente, para o emprego.

Crises econômicas normalmente causam a queda da demanda. No caso da pandemia observamos a queda da oferta e a queda da demanda. Como consequência, os números de 2020 foram assustadores. Analisando-se as 50 maiores economias do mundo com crescimento médio previsto de 2,5%, constatou-se uma queda do PIB de 4,8%. Estima-se que o número de desempregados em todo o mundo até o final de 2022 seja de 200 milhões.

Mas nesse cenário de desolação e tristeza, existem segmentos que prosperaram em 2020 e continuam prosperando. O mercado da tecnologia da informação cresceu em todo o mundo. A grande responsável foi a componente da cybersecurity, que cresceu espantosos 12,5% globalmente. E espera-se um crescimento igual ou maior nos próximos cinco anos. Isso se deve a dois fatores. A adoção massiva, mas sem planejamento de segurança adequada, do trabalho remoto, forçada pelas restrições sanitárias. E a promulgação de leis sobre proteção de dados de pessoas e empresas, como a LGPD do Brasil.

Essa situação de prosperidade para o setor de TI, cercado por crises e desaceleração dos negócios por todos os lados, deixa os nossos profissionais numa situação muito desconfortável. Quando família e amigos nos perguntam como estávamos enfrentando a pandemia, muitos de nós, envergonhados, não contamos a verdade sobre o lado profissional. Mantemos uma postura reticente, evitando falar sobre a nossa realidade.

Esse sentimento de culpa é um erro. Como todos, conhecemos pessoas que adoeceram, faleceram ou estão desempregadas. Sentimos muito por elas e compartilhamos a sua dor, mas não temos que nos envergonhar do nosso segmento estar indo bem. Não podemos esquecer a contribuição da TI na identificação da doença e dos padrões da sua disseminação, na criação dos protocolos sanitários e, principalmente, no desenvolvimento das vacinas. O tempo médio para o desenvolvimento de vacinas era de cinco anos. Os laboratórios criaram vacinas contra o coronavírus em oito meses, graças ao uso de Inteligência Artificial, Analytics e outras ferramentas de TI.

Graças à Tecnologia da Informação as empresas colocaram milhões de trabalhadores em todo o mundo fazendo as suas tarefas em suas casas, com a mesma eficiência e eficácia que tinham no escritório ou na fábrica. Às vezes até mais. Milhões de homens-hora jogados no lixo todos os anos nas grandes cidades no deslocamento casa-trabalho-casa foram revertidos em produção, aprendizagem ou descanso. Graças a esse trabalho remoto, as empresas sobreviveram e o desemprego não foi muito superior ao que poderia ser.

Nosso comentário final aos colegas de TI é que não se sintam envergonhados ou culpados por estarem indo muito bem nos seus trabalhos. Quanto aos colegas de outros segmentos, estejam certos que nós da TI vamos continuar trabalhando para minimizar os terríveis efeitos desta pandemia. Estamos todos juntos.

*Sergio Basilio é Diretor de Estratégia e Desenvolvimento de Canais  da TD Synnex Brasil