Transformação digital e mulheres na TI: em qual etapa estamos?

O mês da mulher é uma oportunidade perfeita para refletir sobre o pouco espaço que elas ocupam no mercado de TI

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9:29 am - 19 de março de 2019

Como é de conhecimento de todos, hoje, a porcentagem de mulheres que atuam no mercado de TI e de Tecnologias Digitais é muito inferior ao dos homens. No ano passado, a USP publicou que o número de alunas cursando Ciência da Computação tem caído drasticamente desde década de 70. Em 1970, a turma de Ciência da Computação do IME (Instituto de Matemática e Estatística) da USP contatava com 70% de alunas mulheres e essa participação caiu para 15 % em 2016. Nos últimos 5 anos, o curso equivalente no ICMC (Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação) da USP em São Carlos tem contado com 9% de mulheres, enquanto na Engenharia de Computação esse número é ainda mais reduzido, por volta de 6%.

Essa realidade não é só brasileira. De acordo com relatório do NCWIT (National Center for Women e Information Technology), em 2015, as mulheres ocupavam cerca de 57% de postos de trabalho em nível mundial, mas apenas 25% dos postos de trabalho relacionados com tecnologias. Essa participação vem caindo desde 1991, quando foi atingido o pico de 36%. Além disso, somente 11% dos cargos executivos das empresas Fortune 500 são ocupados por mulheres e somente 5% das startups tem mulheres como proprietárias. E mais impressionante que isso, é que 88% das patentes mundiais são obtidas por grupos de trabalho compostos exclusivamente por homens e 2% por grupos de trabalhos exclusivamente femininos.

Essas e muitas outras informações corroboram o fato de que as mulheres tem optado cada vez menos por realizar seus estudos em áreas correlatas a computação e tecnologias digitais. A pesar de responderem por uma parte majoritária do mercado do trabalho, tem presença minoritária em empregos voltados a essas áreas e não exercem protagonismo em termos de liderança e ganhos econômicos. E, ainda pior, tem um papel pequeno em inovação o que pode ser comprovado pela baixa participação em startups, em invenções e patentes.

A queda de mulheres ingressantes em carreiras de computação e tecnologias no mundo todo entre 1970 e 1980 é atribuída por especialistas pela própria transformação da computação com advento do computador pessoal, que deixou de ser algo abstrato baseado em matemática aplicada para ser algo mais tangível baseada em tecnologia. O mesmo estigma já existente para carros “quem gosta e cuida da mecânica de carros são os meninos” foi transferido para os computadores.

Aliado a isso, outras barreiras foram sendo criadas no mercado de trabalho, incluindo: entrevistas de trabalhos direcionadas para perfis masculinos, experiências negativas de preconceitos no trabalho, falta de espaço para atividades criativas, falta de oportunidades para preencher posições de liderança, ganhos econômicos inferiores aos homens, entre outras. Adicionalmente, muitas mulheres são educadas, especialmente em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, para serem mães e vivem o eterno conflito entre maternidade e sua vida profissional, sem encontrar, na maioria das vezes, suporte das empresas e, também de seus parceiros.

Nesse cenário, qual é o papel da mulher em uma sociedade e mercado de trabalho, que vive hoje a transformação digital? Os postos de trabalho com tarefas mais repetitivas e que não exigem muita criatividade são aqueles que estão sendo, primeiramente, digitalizados e robotizados e tendem a desaparecer. E são esses tipos de postos de trabalho que são ocupados majoritariamente por mulheres. Novos tipos de trabalhos surgirão mas com requisitos cada vez maior de domínio básico de computação e tecnologias digitais.

No mês março comemoramos o dia das mulheres e vale a pena refletirmos sobre a urgência de mudarmos esse cenário. Precisamos promover a educação do nível básico ao nível universitário com engajamento maior das mulheres no aprendizado de computação e tecnologias digitais como ferramenta de vida e de trabalho ou como sua própria profissão e criar condições para seu ingresso no mercado de trabalho que as tornem protagonistas de sua própria vida e profissão. Pessoas realizadas, mulheres e homens lado a lado, tornam o mundo mais humano e a vida mais prazerosa de ser vivida. E nós, como podemos contribuir para isso?

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