Trabalho remoto: tecnologia a serviço do bem comum

O mundo ficou pequeno. O mundo ficou interconectado e interdependente. Para o bem e para o mal

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8:45 am - 26 de março de 2020

Se você é de TI, como eu, passou sua vida sendo preparado para lidar com continuidade de serviços. Aprendeu sobre a importância que a nossa área de tecnologia tem em todas as esferas. Aprendeu e se adequou a Business Continuity Plans, Disater & Recovery Plans, Certificações de segurança de Datacenters, ISO, ITIL, redundâncias de tecnologia, modelos de operação e hoje está caminhando para a nuvem que proporciona cada vez mais qualidade de serviços.

Esse esforço sempre teve um viés de manter negócios funcionando diante de catástrofes. Afinal, nós da TI, exercemos um papel fundamental nos negócios. Em princípio, a preocupação era uma interrupção de algum elemento importante da tecnologia aplicada ao negócio no sentido predominantemente físico/geográfico, ou seja, inundações, furacões, tsunamis e afins. O princípio básico era: se não funcionar ali, vai funcionar em outro lugar e a “roda” continuará girando.

Isso serve a um propósito bem interessante, e, no meu entender, alcançamos um nível de maturidade elevado nesse aspecto. Mas infelizmente, dessa vez, não será suficiente.

O mundo ficou pequeno. O mundo ficou interconectado e interdependente. Para o bem e para o mal. Oportunamente, me refiro ao COVID-19, que nos deixou de joelhos.

Me pego refletindo sob essa óptica, de forma mais específica sobre a necessidade de isolamento social que é, via de regra, a forma mais efetiva de prevenção ao contágio, e como a tecnologia pode ajudar. A conclusão lógica é que o trabalho remoto é um dos antídotos. Apesar da afirmação ser verdadeira, a realidade é um pouco diferente. Tanto no Brasil quanto em diversos lugares do mundo, embora a tecnologia permita, estamos muito aquém da capacidade de “manter a engrenagem funcionando” remotamente.

Basta perguntar quantos de nossos amigos e familiares conseguem efetivamente trabalhar de forma remota, mesmo em tempos de Covid-19 ? Por quê? As razões são muitas, porém vou me ater às principais:

– Cultura instaurada de Comando & Controle onde a presença física significa real produtividade;

– Custo de uma infra-estrutura adequada por parte das empresas: canais de VPN e laptops para funcionários garantindo a sua mobilidade;

– Falta de regulamentação adequada, sem áreas cinza;

– Falta de maturidade e condições de trabalho remoto das próprias pessoas (espaço adequado, internet suficientemente boa).

Tempos de crise nos fazem refletir. Acredito que é senso comum que não seremos os mesmos nas nossa convicções, relacionamentos e prioridades após o COVID-19. Será que cada um dos bloqueios expostos acima não seriam facilmente contornáveis?

– Não é difícil estabelecer objetivos e metas quantificáveis de modo que as organizações consigam averiguar a eficácia de sua força de trabalho, independentemente de onde esteja. Existem ferramentas para trabalho colaborativo real-time disponíveis, a custo zero ou muito baixo;

– O custo de ter uma força de trabalho móvel/remota é pequeno quando se considera o benefício. No caso do COVID-19, estamos falando de manter o negócio funcionando em meio à crise, mas também de saúde dos funcionários, satisfação, produtividade, relacionamento com cliente etc;

– Regulamentar áreas cinza, reduzindo ou acabando com a exposição legal das empresas e dos funcionários é possível já que os problemas são conhecidos;

– Diante da possibilidade efetiva de trabalho remoto e flexibilidade, é possível que a maioria das pessoas se sentirá motivada a investir no seu cantinho de home office;

Na empresa que trabalho, sou teleworker por contrato, e por política, cada funcionário (teleworker ou não) tem seu kit de mobilidade. Nenhum dos clientes para os quais trabalho sofreu paralisações em seus projetos. Entendo que nem todas as áreas de trabalho podem se dar a esse “luxo”, porém, as que podem já contribuem imensamente para diminuir probabilidades de contágio, que por si só já é um benefício e tanto.

Sun Tzu, no seu célebre livro “A Arte da Guerra” nos ensina que “se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas”.

Estamos conhecendo o inimigo cada vez mais rápido. Detectamos ele muito rápido, entendemos em tempo recorde o seu genoma, e vacinas já estão sendo testadas. Mas nós nos conhecemos? Sabemos se vamos conseguir manter a roda girando remotamente ? Pensando de forma mais holística, temos um BCP/DRP para Pandemias ? Não! Mas deveríamos ter! Vamos esperar a próxima acontecer num futuro cada vez menos distante e “tocar de ouvido”?

Nós, da TI, temos que nos posicionar firmemente, coordenando nossos esforços e sermos agentes de mudança para que o mundo se prepare cada vez melhor para enfrentar esses inimigos que insistem em nos rodear. É uma questão de sobrevivência.

*Carlos Henrique Alves é mentor de Negócios certificado PMBM, Profissional Multidisciplinar de TI, com foco em Soluções digitais, Analytics & Big Data e Inovação Aberta.

**Comentários e opiniões contidos neste texto são de responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião da ABMEN – Associação Brasileira dos Mentores de Negócios

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