Sonhos feitos de tijolos

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6:02 pm - 26 de abril de 2017

(…) todas as coisas feitas de cimento nunca estiveram definitivamente prontas em minha vida. É como um hábito que, quando falta, faz nascer uma coceira nas plantas dos pés

Há algumas imagens vivas em minha memória dos anos em que moramos, meus pais, irmãos e eu, no Parque São Rafael, na Zona Leste de São Paulo. Era 1972 quando chegamos na região, e não fomos os únicos. Eu me lembro das ruas de terra, das chaminés no horizonte, do modo de vida ainda rural e das famílias que começavam a se instalar no bairro em busca de emprego nas novas indústrias. E me lembro, em especial, de nossa casa, construída pelas mãos de meu pai e pela insistência de minha mãe, que bateu o pé e o convenceu a não viver de aluguel.

Tudo começou com um único cômodo – um grande salão – e um banheiro. Foi o suficiente para a família toda se mudar. Meu pai trabalhava em fábrica, então, a obra ocupava os seus dias de folga. Naquela época, era comum ouvir falar das demolições de casarões da Av. Paulista, e meu tio, que tinha um caminhão, conseguiu um monte daqueles tijolos grandes de barro para a obra. Quando entrava um dinheirinho a mais, a gente comprava mais um pouco de material. Erguia uma parede. Fazia o reboco. Instalava uma porta. Abria uma janela. Tudo assim, bem pontuado, bem devagar.

“Vamos fazer mais um cômodo?”, Dona Tereza, a matriarca da casa, anunciava. Meu pai nunca parecia muito animado com a ideia.

Eu mesmo, quando cresci e já fazia algum dinheiro com o negócio de distribuição de alho, construí um quarto com banheiro para mim no andar de cima. Eu já namorava a Cássia e queria meu espaço, mas privacidade é um capricho caro para um adolescente de periferia. Aumenta daqui, puxa dali e pronto, construir se parecia mais com uma brincadeira de Lego do que com um grande feito de engenharia.

A construção da casa do Parque São Rafael nunca teve um término. Da mesma maneira que as cenas de meu pai empilhando tijolos, preparando concreto e rebocando parede formam, em minha lembrança, uma história sem ponto final. A verdade é que, desde então, todas as coisas feitas de cimento nunca estiveram definitivamente prontas em minha vida. É como um hábito que, quando falta, faz nascer uma coceira nas plantas dos pés.

Também emblemática foi a reforma da primeira sede que escolhi para a IT Mídia, na Rua Itápolis, no Pacaembu. Era um daqueles casarões decadentes no bairro, de frente para o estádio, e o proprietário concordou em dar um desconto no aluguel, por alguns meses, em troca da realização de melhorias no imóvel. A obra levou um ano para ser concluída, mas parecia mesmo que não ia acabar nunca. Foi aquele tal de quebra e levanta parede, de fecha aqui e expande ali, tudo para tornar o ambiente adequado para uma atividade empresarial e, ao mesmo tempo, um lugar em que as pessoas se sentissem bem.

Não há quem tenha vivido essa fase na IT Mídia e que não sinta certa nostalgia ao lembrar da querida “casa laranja”, cujas paredes externas eram pintadas dessa cor.

E quando a gente pensa que vai zelar pelas saudades dos lugares por onde passou, a novidade nos projeta para frente e nos conquista pela ousadia. Acho que é assim que o time da IT Mídia, e eu me incluo nesse grupo, está se sentido agora, no momento em que inauguramos a nossa nova sede, no Millennium Office Park, na Vila Olímpia.

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Em cinco meses de reforma, derrubamos paredes e construímos outras novas, erguemos uma nova Praça IT Mídia, no centro da sede, e um jardim vertical, criamos um túnel do tempo dos 20 anos da empresa e escrevemos nas paredes as palavras que nos definem. Montamos um ambiente de realidade aumentada, pintamos detalhes de laranja, penduramos um balanço e, por fim, fixamos pipas iluminadas nas paredes, símbolo do sonho que se realiza em minha vida desde os meus oito anos de idade.

“Quando ceis põem a mão, ceis transformam, né, Adelson?”, disse minha mãe, outro dia, em uma conversa sobre a última reforma que Cássia e eu resolvemos fazer em nossa casa, onde vivemos há mais de 20 anos. É sempre assim: quando tudo parece muito quieto e estático, os tijolos, o cimento e a arte fazem uma mágica e, de repente, renovam tudo o que parecia ultrapassado.

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