Quero retornar ao mercado corporativo após empreender. Como serei visto?

Os desafios de quem investiu em uma trajetória como empreendedor para retornar ao mercado executivo

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10:54 am - 20 de julho de 2021

Nassim Taleb, pensador e autor de vários livros de sucesso – muito bons, por sinal – produziu a seguinte frase “Os países deveriam tratar seus empreendedores como soldados”.

Segundo Taleb, o sacrifício, e fracasso, individual dos empreendedores são por uma boa causa, servem para o desenvolvimento da sociedade como um todo, tornando-a mais inovadora e menos frágil.

“O homem sensato adapta-se ao mundo. O homem insensato insiste em tentar adaptar o mundo a si. Sendo assim, qualquer progresso depende do homem insensato.”, teria dito George Bernard Shaw, prêmio Nobel de Literatura. Uma frase que pode também ser pensada como uma referência romântica ao legado dos empreendedores.

Mas será que a potencial contribuição para sociedade e para o mundo é a principal razão das pessoas empreenderem?

Se não, o que leva a alguém a fazer a escolha por um caminho no qual o percentual de sucesso individual é tão baixo?

Muitos empreendedores baseiam sua decisão por ter um negócio próprio em motivos errados, como uma frustração com o antigo chefe ou antiga empresa, ou o desejo de provar algo a si mesmo ou aos outros, ou pelo simples fato de estarem desempregados e terem que seguir a vida adiante.

Independentemente das razões, sólidas ou ocasionais, que levam alguém à decisão de empreender é fato que este movimento pode não dar certo e, uma alternativa natural neste caso seria um retorno ao mundo corporativo.

Mas como o “mercado” enxerga um profissional que fez a opção de abrir seu próprio negócio?

Como sempre: depende.

Já escutei de alguns executivos que empreenderam uma frase mais ou menos assim: “todo profissional deveria ter uma experiencia como empreendedor”.

O “skin in the game” no limite, a necessidade de fazer as coisas acontecerem, a obrigação de se envolver ao mesmo tempo em inúmeras questões diferentes, novas e simultaneamente, a gratificação pela realização são experiências apontadas como complementares às experiências que se têm em um trabalho como executivo e que tornam o profissional mais completo e mais versátil.

No geral, há um entendimento semelhante por parte das empresas e algumas características cujo desenvolvimento tende a ser acelerado em uma experiencia como empreendedor – flexibilidade, criatividade, comprometimento, versatilidade, multidisciplinaridade – são vistas como nobres e valiosas, quanto mais em um mercado em transformação rápida.

Há, entretanto, um outro lado na história que precisa ser levado em conta quando da reflexão sobre seguir um caminho de empreendedor: não se deve esperar que um novo negócio ganhe estabilidade em pouco tempo. É razoável imaginar que serão necessários alguns anos de dedicação e investimentos antes de se atingir um patamar no qual se possa afirmar que o negócio deu certo.

Vingando ou não o negócio, retornar ao mercado de trabalho executivo após alguns anos afastado não tende a ser fácil.

O próprio movimento de se apresentar às empresas como um candidato pode ser dificultado pela eventual perda de conexão com outros executivos com os quais se tinha contato.

É também natural o receio das empresas quanto ao grau de “atualização” do profissional com relação a alguma disciplina específica, sobre se suas conexões com o mercado estão ativas – questão que pode ser muito importante para uma atividade comercial, por exemplo – ou sobre como esta pessoa se “readaptaria” a uma estrutura corporativa com regras e normas.

Assim, ainda que muitas empresas enxerguem a riqueza que uma experiência como empreendedor pode proporcionar à um profissional e valorize a coragem, iniciativa e a pouca aversão ao risco expresso por este movimento, o risco de “perda de valor” do ponto de vista do mercado depois de alguns anos afastado do mundo corporativo é muito alto.

Definitivamente é uma realidade que deve ser colocada na balança em uma reflexão sobre seguir ou não com seu próprio negócio.

*Leonardo de Souza possui mais de 15 anos de experiência nas atividades de Executive Search e de Management Consulting. Formado em Engenharia de Produção pela UFRJ, possui pós-graduação em Gerenciamento de Projetos pela FGV e MBA na Fundação Dom Cabral com extensão na Kellogg School of Management. Atualmente, é sócio da Boyden

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