Quando a maior ameaça é o nosso próprio medo das mudanças

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10:44 am - 28 de agosto de 2018

“A vida se retrai ou se expande na proporção da nossa coragem” (Anaïs Nin, escritora,  1903-1977)

por Sergio Lozinsky*

Como em todos os grandes movimentos na vida, a era digital traz ganhos notáveis para a humanidade, mas também um ônus. Pagamos um preço por esse avanço – e precisamos entender o que isso significa.

A tecnologia possibilita a descoberta de soluções e caminhos que eram inconcebíveis em um passado recente, ao mesmo tempo em que faz da agilidade um combustível para as preocupações e inquietações do dia a dia. Não importa o que esteja acontecendo. Nem o que não esteja acontecendo. Parece que há sempre uma sensação de atraso. Há sempre uma ameaça. Perceba que essa ansiedade e pressão constantes têm origem na velocidade com que tudo se transforma.

Entre pensar, desenvolver, testar e colocar um produto ou serviço à venda, a agilidade pode ser o fator determinante de sucesso. Assim, a suposição de que o concorrente está sempre à frente – fazendo algo melhor – torna o mercado e as empresas mais voláteis, suscetíveis a mudanças inesperadas no planejamento traçado e discutido previamente. E apesar de trazer mais dinamismo, essa agitação também pode tornar as ações mais superficiais.

A essa instabilidade permanente, soma-se a cobrança implacável por resultados. Pronto. Nessa luta pela sobrevivência, alguns entendem que passarão por um período de desafios, que lhes permitirá construir um legado como parte do seu trabalho; muitos, no entanto, sentem-se agoniados com tamanha pressão, e na ânsia por atingir as metas, constroem uma agenda própria, tornando-se menos fiéis às organizações para as quais trabalham e às ideias e princípios que nortearam as decisões.

As pessoas precisam adotar um senso de sobrevivência que parte do melhor preparo e da capacidade intelectual, e não somente isso. Precisam fugir das armadilhas criadas pelo instinto de defesa. Alguns, na tentativa de fazer uma política que os favoreça e de proteger interesses pessoais, nem sempre fazem as melhores escolhas para a empresa. Em um processo de seleção de fornecedor, por exemplo, optam por aquele que pode, de alguma forma, promover a sua carreira e as suas relações. Esse tipo de manipulação acaba surgindo da necessidade de se autoafirmar em um ambiente brutal. Mas, quando se tem convicção e fundamentos, não há razão para agir dessa maneira.

As organizações passam a valorizar os profissionais que compreendem cenários adversos, aceitam os riscos e pretendem prosperar nessas circunstâncias. Pessoas que entendem os novos modelos de trabalho e que evoluem técnica e emocionalmente. Gente com capacidade de autocrítica, que sabe o que quer da vida e que preenche, assim, lacunas fundamentais do mercado, em diversos setores e posições.

No fim, a ansiedade e a pressão acabam sendo males dos nossos tempos, é verdade. Mas há uma distância enorme entre quem se acomoda e quem se incomoda diante deles. O diplomata norte-americano George Ball disse que “a nostalgia é um mentiroso sedutor”. E não duvide: ela é muito convincente e eficiente em nos manter na zona de conforto.

*Sergio Lozinsky é sócio-fundador da Lozinsky Consultoria.

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