Qual é o limite das startups perderem dinheiro?

Os prejuízos dos unicórnios são estratégias ou uma bolha especulativa a ponto de estourar?

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10:42 am - 12 de dezembro de 2019

Pessoal, aproveitem para ler este artigo porque pode ser o último!

Talvez, em breve eu deixe de escrever, de dar palestras, treinamentos e mentoria.

Isso mesmo.

Tive uma ideia de negócio e vou ficar bilionário em 5 anos no máximo.

Não acreditam?

Vejam só, pensei em criar um supermercado delivery express.

Vou colocar uns painéis interativos no metrô, que simulem gôndolas de supermercado, WiFi para conexões com os pontos de vendas na superfície, leitores NFC e Bluetooth para identificar o cliente, dissipadores de aroma para soltar cheiro de pão na hora do lanche da tarde, cheiro de comida na hora do jantar, e assim por diante. Também vou usar big data armazenando dados de compras dos clientes, hábitos de consumo, renda, deslocamento, viagens, e analytics para traçar um perfil consumidor.

Vou integrar minha solução com Alexa, para que ela possa me avisar se está faltando algum produto de consumo habitual na minha geladeira, se é alguma data especial ou mesmo sexta-feira, e usando neuromarketing, sugerir produtos que com alta taxa de conversão.

Vou usar câmeras com reconhecimento facial para analisar fisionomia e semblante do cliente e assim analisar o seu estado de ânimo, e, dessa forma, poder passar publicidade que sugira subliminarmente produtos que o cliente pode querer comprar neste momento.

Se não for possível identificar totalmente o estado de ânimo pelas câmeras, o App conversará com o cliente, e usando IA com os módulos de reconhecimento de voz, identificar o humor.

Uso blockchain para criar meios de pagamentos e rastrear a logística.

Com toda esta tecnologia, as pessoas poderão fazer a compra enquanto esperam o transporte público.

Como eu vou saber o endereço do cliente, a distância que ele está de casa e o tempo que ele vai demorar para chegar, eu posso calcular o meu tempo de entrega máximo.

Eu terei tantas lojas “semi-virtuais” como estações de metrô como também alguns pontos de ônibus.

As imagens da gôndola interativa devem ser realistas, devem mostrar características do produto, dar sugestões de uso, de receitas em caso de produtos alimentícios, inclusive enviar para minha Alexa para que quando eu chegue em casa, ela já saiba o que eu quero fazer.

Vou negociar com os fabricantes e distribuidores um desconto agressivo, afinal de contas terei muitas lojas.

Após conseguir os investimentos, vou iniciar minhas operações.

Porém, o maior desafio deste tipo de negócio seria estoque e logística.

Manter um centro de distribuição (CD), centralizado com milhares de SKU, termo em inglês de Stock Keeping Unit, tem um custo enorme.

Nas grandes cidades, a logística é um desafio maior ainda.

Para as capitais a solução seria vários CDs e desta forma, aproximar os produtos aos clientes.

Só que este modelo seria inviável pelo alto custo de infraestrutura.

Porém, em época de desmaterialização, onde eu não preciso ter nada para comprar nem vender, basta conectar as pontas da oferta e da demanda, e como sou inovador e disruptivo, pivotei meu modelo, e vou unir a demanda do cliente com o varejo de proximidade.

O cliente compra pela plataforma, a plataforma envia a demanda para o comércio mais próximo da casa do cliente, e a entrega é feita através de uma parceria com alguma empresa de delivery.

A compra chega junto com o cliente em sua casa.

Para que o modelo seja rentável, a plataforma tem que pressionar muito o varejo local, que normalmente tem preços piores que os grandes varejistas.

A inovação, a disrupção, o crescimento são os únicos pontos que importam para o investidor. O fato de que a minha empresa vai pressionar o comércio local, provocando prejuízo nas empresas, é totalmente secundário, será relevado sob o autoconvencimento de que, graças a minha empresa, vai movimentar o varejo de proximidade que está seriamente ameaçado pelos grandes varejistas e pelo e-commerce.

Para dominar este mercado e evitar que outro player entre, faço várias rodadas de captação, para crescer e preparar a empresa para um IPO e, assim, crescer, crescer e crescer.

Objetivo: Unicórnio

Viram como é fácil?

Agora, se vocês me perguntarem se a minha startup ganha dinheiro, a resposta é imediata.

Não!

Primeiro tenho que crescer, dominar o mercado, internacionalizar, chegar a unicórnio, seguir crescendo, lançar novos produtos, crescer um pouco mais, para, em algum momento, no futuro, ganhar dinheiro…

Vocês já viram esse filme?

Uber, WeWork, Tesla, Pinterest, PagerDuty, Lyft, Didi Chuxing (dono do 99), e uma longa lista de empresas bilionárias que acumulam prejuízo trimestre atrás de trimestre.

Existem casos de empresas, como a Amazon Web Service, que usou o crescimento com prejuízo, por um tempo limitado, como estratégia, mas era uma empresa que tinha lastro.

Mas para a maioria das empresas é pura especulação.

Somos o único animal que tropeça duas vezes na mesma pedra.

Não aprendemos com a bolha das pontocom?

Com a bolha imobiliária na Espanha?

Com as subprime americanas?

Toda bolha, tem duas características muito nocivas:

A primeira é incentivar a especulação, transmitir a falsa sensação de que é fácil e rápido enriquecer, criando uma cultura de oportunismo e imediatismo.

A segunda é que a bolha enriquece a poucos e quando estoura, gera muita miséria em volta.

Pensando bem, acho que este artigo não vai ser o último.

Prefiro não enriquecer assim.

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