“O bambu que se curva é mais forte que o carvalho que resiste”

No ano que passou, tanto investidores quanto empreendedores vivenciaram um intenso curso de preparação para o que está por vir

Author Photo
por IBGC
4:33 pm - 11 de janeiro de 2021

Quantos de vocês leitores conhecem ou ouviram recentemente o provérbio japonês que intitula este artigo? O ano de 2020 foi um ano desafiador para todos e poderia facilmente ser associado a um curso de Mestrado, tanto para os empreendedores quanto para os investidores.

Ambos vivenciaram uma verdadeira montanha-russa de emoções. O, já distante, mês de março foi especialmente tenso, com lives diárias vociferando que as “torneiras” de liquidez seriam fechadas, novos investimentos seriam suspensos, e o capital disponível seria direcionado aos participantes de portfólios já estabelecidos. Rodadas de captação concluídas entre novembro de 2019 e fevereiro de 2020 comemoravam a situação confortável de caixa, e a expressão cash is king, que antes era raramente utilizada, se fazia presente em quase todas as conversas.

Esta tendência, porém, não perdurou por mais que 90 dias, o que, naquele momento, pareceu uma eternidade. O primeiro semestre terminou com sinais expressivos de que a realidade seria outra. Resultados decrescentes em março e abril, que somente voltaram a apontar para cima a partir do final de maio. Segundo relatório da Distrito “somente em outubro o mercado de Venture Capital movimentou US$ 221 milhões. Este montante é 258% superior ao investido no mesmo mês de 2019, e 52% maior do que o realizado no mesmo período de 2017, até então o melhor outubro da história para o setor”1.  Mesmo se descontado o investimento da Take Blip (US$ 100 milhões), ainda assim o crescimento versus 2019 será de 100%.

O que explica a mudança de tendência e, principalmente, estes números?

Primeiramente há que contextualizar um fato que fez toda a diferença: o mundo se digitalizou. Quem, até fevereiro de 2020, tinha que vender a ideia da empresa nascida digital, passou a ser demandado exatamente por este fato.

Mas, o que fez realmente a diferença na minha opinião foi o que elas, startups, fizeram – essas empresas reajiram a nova realidade e mudaram muito rápido. E o fizeram sem pestanejar. Erraram um pouco para mais ou um pouco para menos, mas buscaram se adequar quase que de imediato as novas regras do jogo. Todos nós próximos destas startups&scaleups vivenciamos estas rápidas e decisivas viradas de chave.  Ações corajosas, tempestivas e impensáveis nas grandes corporações.

Foram diversos os exemplos e vou tentar ilustrar alguns para sustentar minha tese. Vi startups moverem 100% de suas pessoas para home-office em dias, o que também ocorreu nas grandes corporações, até aí nenhuma novidade. A novidade esteve na coragem de fazer o mesmo com seus espaços, eliminado esta linha do P&L (Profit and Loss Statement ou, na tradução, demonstrativo de lucros e perdas) por completo. Os escritórios não existem mais até que uma nova ordem das coisas se manifeste, e nem a despesa correspondente. Não há para onde voltar em 2021.

Planos de negócio foram feitos em finais de semana, empresas desmobilizaram 20%, 30% e até 40% de suas pessoas em determinados mercados/canais e mobilizaram na mesma velocidade em outros, vi listas de indicações de profissionais dispensados sendo compartilhadas entre founders no intuito genuíno de ajudar as pessoas. Você consegue imaginar um grande banco ou varejista indicando seus melhores profissionais para outro no momento de crise?

Então, as startups se curvaram a realidade e, em 60 dias, se desdobraram para transformar o “limão em limonada”, enquanto as grandes corporações, com honrosas exceções, discutiam se o seu funcionário podia ou não levar a cadeira do escritório para casa ou como lidar com o vale transporte e vale alimentação.

Se voltarmos a definição que estabelecemos no caderno Governança Corporativa para Startups e Scale-ups – empresas “escaláveis, de alto potencial econômico e inovadoras (não necessariamente ligada à tecnologia)” -, o ano de 2020 trouxe aprendizados que nos farão debater e refletir sobre a atualização do caderno num futuro breve – “escaláveis, de alto potencial econômico, ágeis e inovadoras” (não necessariamente ligada à tecnologia, mas necessariamente digital).

Este ano de 2021 será, muito provavelmente, um ano ainda melhor, e o aprendizado adquirido pelas startups as qualificará para enfrentarem um doutorado em transformação, gestão e governança nos próximos anos.

*Giancarlo Berry é sócio da AcNext Capital e membro da Comissão de Startups e Scale-Ups do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC)

1 – Fonte: Inside Venture Capital Brasil – Distrito dataminer – Outubro 2020

Newsletter de tecnologia para você

Os melhores conteúdos do IT Forum na sua caixa de entrada.