Nova Febre Espanhola no Brasil?

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4:37 pm - 18 de fevereiro de 2016

Graças ao esforço
voluntário que desenvolvi nos últimos quinze anos nas associações empresariais
da área de Tecnologia da Informação, por meio das quais atuamos intensamente
para inserir o Brasil no cenário global (o que redundou, por exemplo, na
realização do Congresso Mundial de TI em outubro deste ano no nosso país), tive
o privilégio de observar momentos de éxito e momentos de crise em diversos
países.

Em particular, a
estagnação enfrentada pela União Européia a partir de 2008, se converteu em
crise econômica em vários países do Sul da Europa. Em particular, Espanha e
Portugal, que são as ‘pátrias mãe’ da América Latina e em tese possuem as
culturas mais próximas das nossas, passaram (e ainda passam, parcialmente) por
um período de intensas turbulências.

Entretanto, as
formas de lidar com a crise não foram homogêneas na Espanha e em Portugal. Uma
comparação entre Espanha e Portugal é favorável à Espanha em muitos aspectos: a
população da Espanha é pouco mais de quatro vezes maior que a de Portugal, a
economia espanhola leva vantagem ainda maior (porque a renda per capita na
Espanha é da ordem de 105% da média europeia, enquanto a portuguesa se situa
próxima a 80%).

Em 2009, a dívida
pública em Portugal se situava em 75% do PIB, enquanto a da Espanha estava ao
redor dos 55%. A taxa de desemprego, porém, que era de 9% em Portugal, estava
em 18% na Espanha.

Qual destes dois
países superou a crise mais rapidamente? Mesmo com essa desvantagem numérica
aparente, Portugal reagiu de forma muito mais rápida que a Espanha: Portugal
antecipou as datas de pagamento dos empréstimos internacionais negociados no
momento de crise (p.ex. com o FMI), voltando à quase normalidade já em 2013. Em
2015 a economia espanhola saiu de uma longa recessão, mas os espanhóis continuam
a viver uma percepção de crise.

Mesmo contando, em
tese, com maiores recursos, a crise espanhola foi mais profunda que a
portuguesa em função do despreparo psicológico para lidar com uma situação como
essa. Desde o fim da ditadura de Franco em 1980, seguida da redemocratização e
integração na União Européia, a Espanha passou por quase três décadas de crescimento
econômico continuado. Assim, apenas indivíduos com cinquenta anos ou mais possuem
ainda lembranças claras de outra situação econômica. Já em Portugal, nunca
houve um período tão longo de bonança continuada.

Apesar de sermos no
Brasil herdeiros da cultura lusitana, tenho a impressão de que estamos
atravessando, na atual crise, um desânimo generalizado semelhante ao que se
implantou na Espanha: desde as primeiras reformas de 1993 que levaram ao Plano
Real, o Brasil não enfrentou nenhuma crise maior, que afetasse toda a população.
Em função disso, todos os cidadãos nascidos desde 1975 não possuem registro mental
de situação de crise econômica, hiperinflação e outras graves dificuldades econômicas
(você lembra, por exemplo, do sequestro de contas correntes do governo Collor?).
Mais, essa população de até 40 anos conforma a maioria absoluta da população
brasileira, ainda preponderamente jovem.

Casos de éxito econômico
nos países vizinhos do Brasil, que possam servir de inspiração para nós, são
praticamente desconhecidos pela população em geral: pergunte por ai quem sabe quais
são os países membros da Aliança do Pacífico, por exemplo. Resta-nos, portanto,
buscar inspiração na nossa pátria-mãe, arregaçar as mangas e trabalhar mais
intensamente para superar a situação, sem buscar qualquer ‘bode expiatório’
(que vira culpado, mas não soluciona o problema). Não podemos permitir que a ‘nova
febre espanhola’ arrase a nossa consciência coletiva e prolongue a crise de
forma desnecessária.

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