Estamos fazendo um mundo melhor com a TI?

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10:30 am - 22 de janeiro de 2019

O título de hoje tem intencionalmente o mesmo do artigo clássico de 2012 de Geoff Walsham que iniciou um interessante debate sobre um papel mais amplo da TI na sociedade. Seu texto começa falando da importância de outros paradigmas de pesquisa que não o positivismo como interpretativo, crítica social e o research design. Caso não estejam claras as diferenças entre estas abordagens, prometo volto aborda-las com mais detalhes nesta coluna em textos futuros.

As observações de Walsham sobre qual é o objeto de estudo da gestão de sistemas de informação destacam a importância (e o desafio) de trabalhos (e equipes) multidisciplinares.

A popularização dos smartphones é frequentemente citada como uma tecnologia com grande para transformação social. O caso do M-Pesa é talvez o exemplo mais conhecido. Trata-se de uma aplicação de serviços financeiros em plataforma mobile. Ela foi criada na década passada no Quênia e permitiu que uma grande parcela daquele país, pertence às camadas mais pobres, obtivesse acesso a serviços de transferência de valores, pagamentos e empréstimos.

Contudo, do ponto de vista conceitual, o papel da TI como instrumento de desenvolvimento ainda gera algumas questões que ainda não estão suficientemente esclarecidas. A primeira é o uso de modelos, teorias e frameworks criadas em países desenvolvidos e que são aplicadas em países em desenvolvimento, como os da África, Ásia e América Latina, e que ignoram as particularidades sociais, políticas e culturais de cada região.

Sundeep Sahay narra o caso da tentativa da Índia em aumentar a cobertura dos programas de vacinação de mulheres e crianças e erradicar certas doenças, como a poliomielite. A ideia era criar um sistema centralizado de acompanhamento da vacinação da população de modo a saber quais eram as pessoas que não estavam sendo atendidas pelas ações do Ministério da Saúde. O projeto fracassou por desconsiderar as necessidades das pessoas envolvidas no processo de vacinação, como a privacidade dos dados pessoais e o sentimento de controle e possível punição pelos profissionais da saúde

Um outro aspecto interessante é o significado do que é um mundo melhor. Isso pode ser entendido como um mundo mais belo, com uma vida mais prazerosa e plena de alegria criativa. Parece legal, não?

Mas um mundo melhor também pode ser entendido com base em questões em éticas e objetivos sociais, como erradicação da fome e do trabalho infantil, redução das desigualdades sociais, acesso universal à saúde, e igualdade de gênero.

Apesar de não serem excludentes, estas duas visões de mundo envolvem tipos de ações distintas e que podem ser, eventualmente, concorrentes, mesmo que não conflitantes.

Por fim, a questão que o artigo de Walsham suscita é: quem é o “nós” que está, ou estaria, fazendo um mundo melhor com a TI? Creio que o “nós” inclui pessoas de muitos grupos – pesquisadores, analistas de sistemas, desenvolvedores, profissionais dos mais diversos setores, gestores públicos e políticos. Além disso, dentro de um mesmo grupo existem diferentes visões do que seja um mundo melhor. Contudo, penso que a pergunta que cada um de nós deve responder é: o que eu estou fazendo para tornar o mundo melhor com a TI?

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