Na terra do nunca

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8:55 am - 01 de junho de 2015







Quanta competência empresarial pode haver em uma festa de música eletrônica? Certamente essa não foi uma preocupação para a maioria das 180 mil pessoas que passaram pela Tomorrowland, o maior festival de música eletrônica do mundo, pela primeira vez realizado no Brasil e, pela segunda vez, apenas, realizado fora da pequena cidade de Boom, na Bélgica. No meu caso, essa perspectiva foi uma das razões para eu ter estado lá.

A terra do nunca, do improvável, da fantasia. Esse é o cenário da Tomorrowland, que desde sua origem carrega um ensinamento atemporal e essencial para o ser humano: viva o presente, e faça isso dentro de uma atmosfera mágica, de um cenário convincente e produzido com uma qualidade cinematográfica inacreditável. No palco principal, de dimensões gigantescas, um display central mostra rosto de uma fada, que conta um novo capítulo da fábula a cada transição de DJ. Mas a experiência também está nos detalhes: nos personagens da fantasia, sempre muito bem vestidos, que cruzam o seu caminho; na floresta de cogumelos gigantes; na enorme asa de dragão que cobre a mesa em que você se senta; e por aí vai.

Eu falo da capacidade de fazer com que as pessoas mergulhem em uma história, vivam e compreendam esse contexto, tirem aprendizados, usem esse ambiente para construir a sua própria narrativa e, muito importante, que se divirtam. E nós nos familiarizamos com essa experiência já na infância, no contato com as fábulas da Disney, uma empresa que tem como competência central “contar histórias e construir cenários”. A Tomorrowland conseguiu replicar esse conhecimento com uma eficiência impressionante.

Toda a inteligência e os processos da Tomorrowland foram importados da Bélgica, porém executados por profissionais locais. E, dos bastidores, a percepção sobre o festival fica ainda mais interessante. Um amigo que trabalhou na produção me levou para um passeio por trás da terra do nunca, passando pela área do camping. Um mar de tendas e barracas, todas estampadas de acordo com a temática da festa, em uma infraestrutura que abrigou 20 mil pessoas, gente do mundo inteiro. Quem comprava o ingresso, já adquiria o pacote com a hospedagem. Um espetáculo de organização e logística.

Tudo isso me faz pensar na missão da IT Mídia, e no esforço de estimular a criatividade em profissionais de pensamento tão lógico, linear. Uma orientação que começa na definição da temática dos fóruns, de forma a transpor as questões do dia a dia do CIO, paralelamente ao conteúdo mais técnico e pragmático. Já começamos a trabalhar na concepção dos eventos do próximo ano, e o time todo está empenhado em construir experiências cada vez mais prazerosas, dentro de uma história que instigue nossa capacidade criativa, nosso aprendizado e evolução.

Penso também no encantamento coletivo que tem como base competências práticas e fundamentais de qualquer negócio: planejamento e execução. Na Tomorrowland, o uso do lúdico, do colorido e do belo chegou a um nível de profissionalismo que somente é possível porque existem processos – e eles são cumpridos sistematicamente. Quer um sinal claro de quando eles funcionam? Quando o público não faz ideia de que eles existem.

Como aprendi com Domenico de Masi, brilhante pensador e palestrante do IT Forum deste ano, não existe criatividade sem capacidade de execução. Não dá para negligenciar o tempo de planejamento, pular fases de apuração e checagem, anular processos, apressar a execução – falhas muito comuns, por sinal, em empresas de veia criativa.

É interessante como os aprendizados empresariais podem estar nos lugares em que a gente menos espera. Até em um festival de música eletrônica.

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